O presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) considerou hoje que “não há um problema de crédito à habitação transversal na sociedade portuguesa”, mas em “algumas franjas” e disse que o banco público reestruturou 17 mil empréstimos.
“Não há nenhum problema de crédito à habitação transversal na sociedade portuguesa. Há um problema em algumas franjas e que afeta famílias em concreto”, afirmou Paulo Macedo, na conferência de imprensa de apresentação dos resultados do primeiro semestre (lucros de 608 milhões de euros), na sede da CGD em Lisboa.
Segundo o gestor, os problemas estão concentrados, por um lado, em famílias de poucos rendimentos, mas que proporcionalmente são poucas, e, por outro lado, em “algumas da classe média”.
O gestor defendeu medidas que ajudem clientes bancários aflitos, mas considerou que, passado o período atual, o que “resultará será uma redução do endividamento das famílias”, quer pela maior poupança que famílias acumularam quer pela aceleração das amortizações antecipadas (parciais e totais).
Sobre reestruturações de créditos na CGD, Macedo disse que dos 323 mil créditos à habitação existentes no banco público 93 mil poderiam aderir à reestruturação prevista no decreto-lei do Governo, mas afirmou que apenas 1.024 aderiram.
Já quanto a renegociações e reestruturações de crédito por iniciativa da CGD foram 16 mil, pelo que no total a CGD teve 17 mil créditos renegociados, afirmou.
Quanto a créditos à habitação com juros bonificados (ao abrigo do decreto-lei de março), disse Macedo que estes têm “um valor diminuto, mas crescente”, referindo que passaram de 181 clientes com juros bonificados em fevereiro para 1.220 em junho.
No total, entre fevereiro e junho, foram abrangidos pelos juros bonificados 2.480 clientes.
O banco público atribui ainda uma redução de ‘spread’ até 0,5% até dezembro nos clientes que beneficiam os juros bonificados.
Para os próximos meses, Macedo disse esperar que “a bonificação do Estado suba” enquanto o apoio da CGD acabará em dezembro, referindo que o seu prolongamento poria esses clientes em risco de ficarem com os créditos ‘marcados’.
Macedo salientou ainda que, desde começou o ciclo de alta significativa das taxas de juro, “a CGD não tem uma única casa entregue” por a família não conseguir pagar a prestação.
Ainda assim, afirmou que “não vale a pena dizer que é tudo rosas, que não é” e admitiu que há sempre risco de a situação se agravar.
“Há claramente um conjunto de famílias em dificuldades, mas os casos têm sido resolvidos e têm-se encontrado soluções. Se taxas continuarem a subir e se mantiverem de forma prolongada haverá agravamento das situações até agora acomodadas”, afirmou.
Paulo Macedo foi ainda questionado sobre a reunião dos presidentes dos principais bancos com o Ministro das Finanças, noticiada pelo Expresso, e sobre se falaram sobre uma eventual medida generalista de congelamento da prestação bancária para as famílias em mais dificuldades. Contudo, Macedo não respondeu.
“O senhor ministro das Finanças comentará o que entender”, afirmou apenas.
Sobre a possibilidade de o Banco de Portugal rever a regra que obriga o banco a ‘stressar’ o crédito à habitação, simulando quanto seria com um aumento de três pontos base nas taxas de juro, e que impede muitos clientes de acederem ao empréstimo, Paulo Macedo considerou que faz todo o sentido no momento atual.