Militar de Vila Verde falecido em Angola em 1961 trasladado para Portugal na próxima semana

O português Carlos Rosa chegou a Angola em 2009, para trabalhar numa construtora, mas os últimos seis anos foram também passados a seguir o rasto de ex-militares cujos restos mortais nunca chegaram a ser recuperados pelas famílias, em Portugal. Foto: Impala

O corpo do militar vila-verdense Aquilino Silva Gonçalves, falecido em Angola em 1961, deverá ser trasladado para Portugal na “próxima semana”, disse hoje à agência Lusa a irmã mais nova deste antigo soldado do Exército.

Sepultado no antigo cemitério do Sassa, no Caxito, na província do Bengo, a mais de 60 quilómetros de Luanda, o corpo de Aquilino Gonçalves deverá ser trasladado, “tudo indica, na próxima semana”, disse hoje Otília Gonçalves, que ainda não tem qualquer referência do dia em que isso deverá suceder.

Aquilino Gonçalves, que fazia parte de uma família de 11 irmãos e que completaria este ano 78 anos, será sepultado no cemitério de Ponte de São Vicente, no concelho de Vila Verde, que é a sua terra natal, adiantou Otília Gonçalves.

“A campa [de Aquilino Gonçalves no cemitério de Sassa] foi descoberta em 2005”, ano a partir do qual a irmã do militar começou a desenvolver diligências no sentido de repatriar o corpo”, mas os apelos que, desde então, desenvolveu, designadamente junto da Liga dos Combatentes e do Estado português, através de sucessivos chefes de Estado e de Governo, entre outros responsáveis, não tiveram consequências.

Em regra, esses apelos tiveram como resposta apenas mensagens a acusarem a sua receção, afirma Otília Gonçalves, salientando que há “cerca de um ano” expôs o caso, pessoalmente, ao atual Presidente da República, pedindo-lhe para “não esquecer os militares falecidos em combate” nas ex-colónias, mas Marcelo Rebelo de Sousa não lhe disse nada até hoje, tendo-se limitado, na ocasião, recorda, a dar-lhe “umas palmadinhas nas costas”.

“O Estado português, o nosso Estado nada fez” pelos militares que “lá ficaram. Levou-os para lá, mas para os trazer de volta nada fez”, sustenta Otília Gonçalves, referindo que o processo de traslação do corpo de irmão custa cerca de oito mil euros, 6,5 mil dos quais para o Estado angolano e cerca de 1,5 mil euros para uma funerária, sem o menor apoio do Estado português, nem de qualquer outra entidade.

O repatriamento do corpo de Aquilino Gonçalves só é possível graças aos esforços entretanto desenvolvidos por Carlos Rosa, um cidadão português que vive em Angola desde 2009, onde trabalha numa construtora e que, nos últimos seis anos, também se tem dedicado a seguir o rasto de ex-militares cujos restos mortais nunca chegaram a ser recuperados pelas famílias, em Portugal.

“Foi preciso aparecer Carlos Rosa”, que começou a trabalhar no processo de trasladação de Aquilino Gonçalves no início deste ano, para ser possível recuperar o seu corpo e sepultá-lo em Portugal, afirma a irmã do militar falecido em 1961, destacando que sem o envolvimento de Carlos Rosa “jamais isto seria possível”.

O primeiro caso, que, a partir de Luanda, Carlos Rosa ajudou a resolver, foi concluído em dezembro de 2017, com a chegada a Portugal, ao concelho de Tondela (distrito de Viseu), dos restos mortais do soldado paraquedista António da Conceição Lopes da Silva, morto em combate em Angola em 1963.

“Também fui militar, não lutei, mas cumpri o meu dever. E estes senhores todos que estão aqui é que são os heróis. E os heróis devem ser honrados”, disse à agência Lusa, em 12 de março deste ano, durante uma visita ao antigo e totalmente abandonado cemitério do Sassa, Carlos Rosa.

“É triste. É triste porque foi alguém que lutou por uma causa, bem ou mal, e que ficou para trás e ficou abandonado”, sustenta.

Carlos Rosa, hoje com 49 anos, percorre desde 2012 cemitérios angolanos, recebendo informações de familiares de antigos militares através das redes sociais. No terreno, trata de confirmar a localização das campas, antes de avançar com o pedido de documentação nas autoridades angolanas e os contactos com as funerárias locais, para assegurar o difícil processo de trasladação.

“Faço isto como uma parte humana, no sentido de ajudar essas pessoas, sem lucro nenhum, sem qualquer intenção de mais nada e como português. Acho que é uma vergonha para o Estado português e para os portugueses ter esta situação”, desabafa, sustenta, inconformado, Carlos Rosa.

 
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