“Messi” e “Ronaldo” pesam 1.800kgs cada um e venceram concurso em Guimarães

Espanhóis pagam milhares de euros pelos melhores exemplares das raças portuguesas

Depois de dois anos de interregno, por causa das medidas para conter a pandemia, o Grande Concurso Pecuário de Gado Bovino voltou a integrar o programa das Festas Gualterianas. Este sábado, no Campo de São Mamede, em frente ao Castelo de Guimarães, apresentaram-se mais de 120 exemplares das raças minhota e barrosã, divididas por oito classes individuais e quatro para juntas de machos castrados. Entre os lavradores há um misto de sentimentos, alegria pelo regresso dos concursos, apreensão relativamente ao futuro, em virtude da seca e da subida do preço das rações.

Longe vai o tempo em que estes animais eram mantidos para lavrar os terrenos ou para puxarem carros de bois. Alguns deles ainda são ensinados, mas apenas para participarem em concursos com o jugo, como em Guimarães, ou para se apresentarem em desfiles etnográficos, a puxar o carro. O trabalho agora é feito por tratores. “Isto é um vício. Não é pelo que dá, pelo contrário, temos que meter dinheiro que ganhamos noutras atividades”, assegura Ricardo Cunha. O fafense foi um dos grandes vencedores nas categorias para gado barrosão, juntamente com o tio, Carlos Cunha, também de Fafe. Ricardo trabalha como mecânico numa oficina e cria estes animais por prazer. “Este animal é único”, afirma, apontando para um gigantesco touro reprodutor, com 1.280 quilos, “dificilmente volto a ver um exemplar destes nos anos da minha vida”.

O primeiro prémio distingue os animais que estão mais de acordo com o padrão da raça. Foto: Rui Dias / O MINHO
Os bois de trabalho são castrados para se tornarem mais dóceis. Foto: Rui Dias / O MINHO

Criador de Fafe gastou cinco mil euros numa operação para salvar um reprodutor

O animal em questão tem sete anos, poderá andar nos concursos até aos dez, segundo o proprietário. “É um investimento muito grande. Foram logo três mil euros para o comprar e já tive que gastar mais cinco mil euros numa operação, porque ele magoou-se num joelho a subir para a camioneta”, conta Ricardo Cunha. Num touro ganhador o investimento compensa, porque estes criadores andam de terra em terra a participar nos diversos certames, arrecadando galardões. “Os prémios não pagam a despesa de manter um animal destes, mas são uma ajuda”, avalia o engenheiro Artur Castro, da Cooperativa Agrícola Concelhia de Guimarães, que organiza o Concurso, em colaboração com a Câmara Municipal.

A atividade não gera receitas para viver, mesmo para os campeões como Ricardo Cunha. Foto: Rui Dias / O MINHO
Pelos dentes se vê a idade dos animais. Foto: Rui Dias / O MINHO

Ricardo Cunha, rodeado pelas seis taças que venceu, concorda. “Depois de dois anos parados, sem apoios, as coisas estão difíceis. No meu caso, os animais mantiveram-se como se veem aqui: alimentados, limpos, desparasitados”, afirma.

20 mil euros por uma junta de bois

Os animais que ganham estes concursos são altamente selecionados e frequentemente os proprietários nem lhes querem por um preço. António Oliveira, dono da junta de bois de trabalho de raça minhota vencedora, ri-se quando lhe perguntam o preço e junta o polegar e o indicador para fazer um zero. Significativamente, chamou a um Ronaldo e a outro Messi – neste caso a jogar na mesma equipa –, quer dizer que quem quiser falar de preço tem que vir com a carteira recheada. Ronaldo e Messi, com 1.800 quilos cada um, foram ensinados para puxar um carro ou um arado e o limite de peso que podem arrastar está mais na capacidade dos carros que na sua força.

Ronaldo e Messi são os melhores na categoria. Foto: Rui Dias / O MINHO

António Oliveira, proprietário da Quinta do Outeiro, em Brito, vendeu, recentemente, uma junta destes bois minhotos para Leon, em Espanha, por cerca de 20 mil euros. “Apesar de os espanhóis terem lá a mesma raça, chamam-lhe galega, eles reconhecem que a nossa está mais bem preservada, não há misturas”, aponta. O criador de Brito também foi distinguido com o prémio de reconhecimento pela Câmara Municipal de Guimarães, pelos serviços que tem prestado na preservação e divulgação da raça minhota

Os bois de trabalho são castrados para se tornarem mais dóceis. Foto: Rui Dias / O MINHO

Enquanto decorriam os preparativos para a apresentação dos animais, as conversas entre os lavradores centravam-se na subida do preço das rações e nos efeitos da seca. “Há produtores a abaterem os animais que costumavam aparecer nestes concursos e a qualidade media dos exemplares que aqui estão baixou muito”, diz um criador que prefere ficar anónimo. O júri, constituído por elementos das associações das raças (a AMIBA, Associação de Criadores de Bovinos de Raça Barrosã e a APACRA, Associação Portuguesa dos Criadores de Bovinos de Raça Minhota) e “tem em conta a conformidade com os parâmetros estabelecidos para a raça, a beleza do animal, as características físicas, a cornadura a configuração da cabeça, o corpo”, explica Artur Castro. Os animais são divididos em classes, por idade e por função, gado de trabalho, novilhos, reprodutores, gado leiteiro. “A idade dos animais é determinada pela dentição, uma vez que o registo de nascimento pode ser forjado”, explica o responsável da Cooperativa organizadora.

Antes de serem apresentados os animais são preparados. Aqui a levarem azeite nos cornos para ficarem mais brilhantes. Foto: Rui Dias / O MINHO
Aprendendo a lidar com o gado desde pequena. Foto: Rui Dias / O MINHO
É preciso perícia para manejar os animais que nem sempre colaboram. Foto: Rui Dias / O MINHO
Machos reprodutores estão entre os animais mais espetaculares. Foto: Rui Dias / O MINHO

O Grande Concurso Pecuário de Gado Bovino, das Gualterianas, em 2022, distribuiu mais de 10 mil euros de prémios, entre os 25 e os 160 euros. O prémio de maior valor foi atribuído às duas juntas de bois de trabalho, seguidos dos touros reprodutores, cujo primeiro prémio valia 140 euros.

 
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