Três empresas do setor têxtil do Norte seguem hoje caminhos diferentes, depois de terem readaptado a sua produção na sequência da pandemia de covid-19, disseram os respetivos responsáveis à Lusa.
“Se não tivéssemos encomendas relacionadas com a saúde, eu acho que as pessoas teriam ido para ‘layoff’ ou a empresa teria sido fechada, não tínhamos hipótese nenhuma de nos aguentarmos”, disse à Lusa Lourenço Aroso, o responsável da PPTex, de Santo Tirso (distrito do Porto).
Inicialmente conseguiam produzir tudo em Portugal, mas, no final de 2020, mudaram a produção para a Turquia, de forma a manter o negócio relacionado com o setor da saúde, após uma completa inversão no rumo do negócio.
“Os preços começaram a baixar e os preços de produção começaram a subir. Percebemos que, se nos queríamos manter nesta área, teríamos de procurar uma forma de os produzirmos diferente. Foi quando começámos a ir para a Turquia”, contou Lourenço Aroso à Lusa.
Se em 2019 faturava 300 mil euros no têxtil convencional, em 2020, com a passagem da maior parte da produção para máscaras e EPI [equipamentos de proteção individual], faturou mais de seis milhões de euros.
No final deste ano, a PPTex conta que cerca de 80% da sua faturação seja proveniente da mudança de setor iniciada em 2020, apesar de ter diminuído a faturação em 2021 para cerca de dois milhões de euros, sobretudo devido a aumentos de preços de produção e custos regulatórios.
“Em 2022 posso dizer que já batemos esse valor ao fim de abril. Já ultrapassámos o valor de faturação do ano anterior”, revelou.
A ‘meio-caminho’ ficou Paulo Reis, da Fradelsport, de Vila Nova de Famalicão, que disse à Lusa que a empresa de artigos desportivos continuou a produzir máscaras depois de março de 2020, tendo expedido a última encomenda em carteira na semana passada.
“Em 2020 produzimos muitas máscaras, em 2021 continuámos a produzir muitas máscaras até setembro, e depois, de setembro até agora, praticamente as encomendas que nós tínhamos eram para as escolas e grandes empresas”, contou o responsável.
Paulo Reis reconhece que em 2020 foram as máscaras reutilizáveis que “salvaram a empresa”, tendo registado um aumento de 60% na faturação (volume superior ao milhão de euros), “em que as máscaras e EPI representaram cerca de 50% do total.
Em 2021, o peso das máscaras diminuiu, representando 20% a 25% da faturação da Fradelsport, e, para futuro, o responsável considerou que a empresa está “completamente preparada”, porque conseguiu “conciliar sempre as duas [áreas] sem abdicar do negócio principal”.
Por outro lado, Pedro Alves, gerente da Têxtilobo, de Barcelos, que fabrica roupa casual, partilhou que voltou às origens.
“O que nós fazíamos antes da pandemia é exatamente aquilo que nós neste momento estamos a fazer”, disse, recordando que, quando a pandemia surgiu em Portugal, em março de 2020, a empresa teve de “se adaptar um bocadinho às circunstâncias” e acabou por ir “fazer máscaras, como toda a gente as fez”.
“Inclusivamente ainda as certificámos, mas com o andar da ‘carruagem’, as coisas foram crescendo em termos de muitas empresas a ter esse tipo de artigo”, pelo que, depois de “já haver muita saturação […], já não justificava”.
Pedro Alves recorda que “o mercado convencional voltou, aos poucos, à normalidade”, sensivelmente em “julho, agosto, setembro” de 2020, pelo que a produção de máscaras “demorou meia dúzia de meses, nem isso”.
Em 2019, a empresa tinha faturado 450 mil euros, em 2020 acabou por subir o volume para 650 mil e no ano passado para 850 mil euros.
“Não me posso queixar. Muitas vezes o volume de faturação não quer dizer que tenha mais margens de lucro, mas não me posso queixar. O volume aumentou”, constatou, apesar de ter regressado ao negócio principal.