Marcelo quer ser lembrado como “presidente de proximidade” apesar dos riscos

Foto: Lusa

O Presidente da República disse hoje querer deixar como legado dos seus mandatos “a proximidade com as pessoas”, admitindo que por vezes com o risco de uma competição “não desejada” com populistas.

“Se eu conseguir chegar ao fim do mandato tendo preenchido esse objetivo, posso não ter preenchido outros, mas esse está atingido, espero que os meus sucessores esse não percam e, naquilo que eu falhei, façam muito melhor do que eu”, desejou.

Numa intervenção da Universidade de Verão do PSD, só ao fim de mais de duas horas é que Marcelo Rebelo de Sousa aceitou desviar-se do tema único que tinha definido para o jantar-conferência, a Ucrânia.

Por ter fugido a outras questões nacionais, como os problemas na habitação, a questão até lhe foi colocada de forma imaginativa: “Imagine-se como Presidente da Ucrânia, com um primeiro-ministro como António Costa e um líder da oposição reformador como Luís Montenegro. Imagine-se a meio do mandato, qual o legado que deixa às gerações futuras, como gostaria de ser lembrado?”.

Desta vez, o Presidente da República considerou a pergunta “facílima de responder” e dispensou a metáfora ucraniana.

“O que eu gostaria de deixar, eu acho que provavelmente aquilo que talvez deixe é ter sido um presidente de proximidade”, definiu.

O chefe de Estado considerou que o grande problema dos políticos é a “descolagem das pessoas”, e disse ter feito “tudo o que era possível para responder a essa quebra, a essa desvinculação”.

“Ter procurado a proximidade em todas as circunstâncias, às vezes com riscos, como seja o risco de, para se estar junto das pessoas, estar-se em competição com forças ditas populistas, uma concorrência não querida, não desejável, nem desejada”, disse, justificando a necessidade de aparecer primeiro seja num fogo, num acidente ou num problema registado na administração pública.

Na sua décima participação da Universidade de Verão do PSD – a primeira de forma presencial desde que é Presidente da República -, o diretor da iniciativa, o eurodeputado Carlos Coelho, considerou-o uma das almas da academia de formação política e brindou-o com um filme das suas anteriores participações, a primeira em 2005.

Marcelo Rebelo de Sousa justificou a sua presença em Castelo de Vide por considerar que as anteriores intervenções como chefe de Estado – por escrito em 2018 e por vídeo no ano passado – eram “uma coisa muito fria”.

Também o tema único de que quis falar – a Ucrânia – justificava essa presença, defendeu, até por procurar debater este tema em “inúmeros encontros de juventude” e procurar transmitir a sua experiência no país, onde esteve na semana passado.

Salientando que Portugal “é o país da Europa em que há maior apoio à Ucrânia”, Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar claro que nunca alimentou a russofobia, considerando “um disparate” tentar omitir a cultura russa.

“Isso não existe, isso é uma coisa sem senso e quem pensa assim perde parte da sua razão, é uma forma estúpida de defender uma causa”, afirmou.

Numa longa intervenção inicial, procurou fazer uma “pré-história da guerra”, passando pela anexação da Crimeia e pelas responsabilidades do ex-presidente Donald Trump no aumento da influência da Federação Russa, e deixou elogios à capacidade de resistência do povo ucraniano e de liderança do Presidente Zelensky.

O Presidente da República elogiou ainda a capacidade da União Europeia atuar unida nesta guerra – “se se tem desunido, perdia o seu papel no mundo” – e, a uma pergunta se o país beneficiaria de ter um português à frente do Conselho Europeu, respondeu de forma genérica.

“Se Portugal ganha em ter um português em postos chave na organização do mundo? Isso ganha, parece uma evidência”, disse, sem se alongar sobre o tema, numa pergunta que parecia ter como destinatário o futuro do primeiro-ministro António Costa.

 
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