É em Ponte da Barca que existe uma das maiores pedras de quartzo cristalizada da Península Ibérica e – afirma a autarquia e a confraria que a alberga há precisamente 50 anos -, a maior de Portugal.
Com 2 metros e 52 centímetros de comprimento, 1,25 metros de altura e três toneladas de peso, a relíquia está guardada na cripta da Capela da Senhora da Paz, em Vila Chã (São João), concelho de Ponte da Barca.
De acordo com a Confraria da Senhora da Paz, é a maior de Portugal no seu estado bruto, e desde maio de 1971 que serve como altar na cripta da capela dedicada à Nossa Senhora que terá aparecido naquele preciso local, em 1917, poucos dias antes das aparições de Fátima.
Explica a confraria que, face à enorme afluência de devotos e peregrinos registada nas décadas de 50 e 60, a capelinha de Nossa Senhora da Paz, benzida e inaugurada a 15 de setembro de 1969 revelou-se insuficiente.
“Foi então projetada a construção de uma cave por baixo do adro e uma pequena casa de recordações, junto da oliveira que ficou como recordação do local em 1917”, acrescenta.
Iniciaram então, a 02 de julho de 1970, as obras da Cripta do Santuário, com a “colaboração generosa dos habitantes da freguesia que“não obstante os intensos trabalhos agrícolas, participaram em peso registando-se uma média de 35 voluntários ao longo da construção”.
No dia 02 de maio de 1971, foi benzida a cripta e o altar, dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, porque “a devoção à Virgem Santíssima deve conduzir-nos sempre ao Seu Divino Filho”.
A O MINHO, elementos da confraria explicaram que, no início do século passado, ainda existiam muitas pedras de quartzo espalhadas pelos montes que ligam Vila Chã ao alto de Azias e também para a zona de Touvedo, onde ainda existe mineração daquela pedra e também de feldspato.
Esta semana, a Câmara de Ponte da Barca assinou um auto de consignação para a requalificação do largo do Museu do Quartzo, que nasceu ‘à boleia’ da peça gigante, que se tornou numa relíquia religiosa para os devotos. Sem interferir no interior da cripta ou do museu, situado do outro lado do caminho municipal que passa junto à capela, o arranjo vai ser para o exterior, e terá um valor de cerca de 173 mil euros.
O presidente da Câmara, Augusto Marinho, explica que as intervenções passam pela “criação de canteiros que definem os espaços de percurso que direcionam aos vários elementos pré-existentes a manter, como uma figura religiosa e um busto, percursos que culminam numa pequena zona de miradouro com um banco que permite a contemplação da paisagem”.
Está ainda prevista zona de estacionamento para autocarros, assim como uma zona de descarga de passageiros e uma área de bancos que permitem o repouso dos visitantes, isto depois de ter sido construída uma nova área de lazer para merendas, conforme noticiou O MINHO em reportagem no ano de 2020.
O autarca de Ponte da Barca salientou que esta beneficiação pretende proporcionar “aos visitantes um maior usufruto deste espaço, um local religioso de culto para muitos peregrinos, que representa a identidade e a história da freguesia”.
Foi há 103 anos que o menino pastor Severino Alves diz ter avistado uma aparição de Nossa Senhora no lugar de Barral, freguesia de Vila Chã (São João), em Ponte da Barca. O avistamento terá ocorrido dois dias antes das aparições da Cova da Iria, em Fátima, e ainda hoje este pequeno santuário minhoto parece caído no esquecimento do imaginário católico, dada a força que a história de Lúcia, Jacinta e Francisco granjeou na comunidade portuguesa.
Foi no dia 11 de maio de 1917 que o jovem pastor avistou um relâmpago, como dá conta Luíz Arezes, historiador que escreveu o livro “Centenário das Aparições no Barral”, editado em 2017. Terá então ouvido uma voz a pedir para que não se assustasse. À semelhança de Fátima, pediu a Severino para “rezar” e contar a todos a “boa nova” de que o lugar era sagrado.
E assim fez o jovem pastor, recolhendo incredulidade de uns e devoção de outros. O caso depressa chegou à arquidiocese de Braga, mas o arcebispo de então achou por bem não se fazer nada e esperar para que o milagre fosse comprovado. A história acabou por cair no esquecimento geral e apenas os habitantes daquele pequeno lugar iam colocando “umas velinhas” para recordar o fenómeno.
Gabriel Souto, elemento da Confraria de Nossa Senhora da Paz, crê que o motivo das aparições de Ponte da Barca não serem tão conhecidas prende-se pela construção tardia de uma capela ou imagem que assinalasse as mesmas.
A O MINHO, o confrade explicou, na mesma reportagem realizada em 2020, que, em Fátima as pessoas desobedeceram às ordens da Igreja Católica e construíram logo uma capela: “O nosso santuário só existe há cerca de 50 anos, quando em 1967 aqui foi colocada uma imagem. Dois anos depois, a 24 de junho, foi inaugurada a capelinha e só nos anos 70 foi construída a cripta subterrânea que assinala o local exato da aparição”.
O ‘milagre’ de Barral só ganharia força aquando do cinquentenário das aparições de Fátima, explica o membro da confraria. ” O cónego Avelino Costa, natural da freguesia, foi convidado pelo santuário mariano para fazer uma conferência e disseram-lhe lá que havia uma noticia num jornal da época que dava conta da aparição se ter realizado primeiro em Ponte da Barca”, explica.
E só aí se iniciou todo o processo para tornar o lugar de Barral numa nova rota mariana: “Durante os anos 70 e 80 houve uma grande afluência, mas com o virar do milénio, começou a decrescer, depois da morte do cónego”.
“A partir do ano 2000 começamos a ter mais gente ao longo do ano. Em 2019 tivemos cerca de 10 mil peregrinos a preencher o livro de visitas, ao longo de todo o ano”, explicou então o elemento da confraria.
Para com Fátima, a confraria da Senhora da Paz assegura não existir rivalidade.”Nós também lá vamos em peregrinação, mas aqui é diferente, é mais recatado e acolhedor, com mais sombra e mais verde”, à boa maneira do Minho.
O santuário da Senhora da Paz conta hoje com uma capela, uma igreja, um museu, espaço de merendas e várias imagens que recordam Nossa Senhora, o pastor Severino e o cónego Avelino, com o ponto alto das celebrações a dar-se a 11 de maio.