O fundador bloquista Luís Fazenda defendeu na noite desta terça-feira que o voto no BE é aquele que pode permitir a “superação daquilo que foi a ‘geringonça’” em termos de investimento público para que Portugal não fique refém da “ditadura do superavit”.
Num discurso do comício da noite do Bloco de Esquerda em Braga, o primeiro de Luís Fazenda no período oficial de campanha, o fundador do partido propôs que se esquecesse “aquela expressão da obsessão do défice”, uma vez que esta foi substituída pela “obsessão pelo superavit”.
“Essa obsessão pelo superavit faz com que o investimento público esteja claramente posto em causa, porque esse investimento público é o que é absolutamente necessário para prolongar aquilo que foi conquistado pelo período da ‘geringonça’”, avisou.
Segundo Luís Fazenda, quem quer lutar pela escola pública, pelo Serviço Nacional de Saúde, pela habitação, pela provisão de bens públicos ou pela recuperação das infraestruturas do país, setores que são alavancados pelo investimento público, “tem um voto certo, um voto seguro no Bloco de Esquerda”.
“É o voto que pode permitir que haja um desenvolvimento, uma superação daquilo que foi a ‘geringonça’ e não ficarmos reféns, não ficarmos submetidos, não ficarmos dominados pela ditadura do superavit”, concretizou.
O antigo deputado do BE deixou uma aviso para os dias seguintes às eleições: “se quiserem discutir, no período pós-eleitoral o investimento público creio que nos entenderemos ou nos desentenderemos sobre as melhores soluções”.
Olhando para o programa eleitoral do PS, cujo governo foi viabilizado por BE, PCP e “Os Verdes” no acordo da denominada ‘geringonça’, Luís Fazenda não tem dúvidas que faltam condições para o investimento público.
Catarina Martins pede a toda a gente que “não falte à chamada” no domingo
A coordenadora do BE, Catarina Martins, fez um apelo ao voto dos indecisos, de quem ainda não decidiu se vai às urnas no domingo e dos que rejeitam uma maioria absoluta, pedindo que ninguém “falte à chamada”.
Num comício desta noite (de terça-feira) na cidade bracarense, o discurso mais longo não foi o da líder do partido, mas de José Maria Cardoso, cabeça de lista por Braga, distrito no qual Catarina Martins espera “que seja agora” que se alcancem os dois deputados que estiveram “tão perto” nas últimas eleições legislativas.
“As eleições são já no domingo, esta campanha eleitoral está a chegar ao fim. Sei que há ainda muita gente indecisa, que ainda não decidiu em quem vai votar ou se vai votar”, começou por dizer, um apelo pelo segundo dia consecutivo aos indecisos, aos quais juntou os abstencionistas.
A líder do BE sabe também, porque ouve “todos os dias na rua”, que “há tanta gente que não quer uma maioria absoluta e que sabe que o Bloco de Esquerda é a força que garante sempre a luta pelo salário, a luta pela pensão, a luta pela saúde, a luta pelo que é essencial a cada um de nós, na nossa vida concreta”.
“O apelo que eu deixo a toda a gente é que não falte à chamada. podemos sim construir um país mais justo, um país mais igual”, pediu.
É no domingo “que se decide” e o BE, garante a sua líder, aguarda “com enorme humildade aquilo que for a decisão de quem vai votar”.
“Deixamos este compromisso firme: o Bloco de Esquerda não falta, nunca faltou, não faltará àquilo que conta. Salário, pensão, saúde, educação, justiça, um país que seja capaz de responder à emergência climática ao mesmo que responde à emergência social, ao mesmo tempo que responde pela habitação, pelos transportes, pela vida concreta de toda a gente”, sintetizou, numa espécie de resumo do programa eleitoral do BE.
A campanha eleitoral “acaba já na sexta-feira”, lembrou Catarina Martins.
“No domingo contam-se os votos, na segunda-feira estamos a trabalhar, como sempre, com toda a força, nunca nos cansamos”, prometeu.
O caminho desta campanha eleitoral, segundo a coordenadora do BE, tem sido “sobre o que é que falta fazer e o que precisa este país”.
“Eu lembrava as duas intervenções iniciais desta noite. Luís Fazenda, precisamos de investimento público e essa é a luta do Bloco de Esquerda e a Sónia, o trabalho, as condições concretas de quem trabalha e o código do trabalho são seguramente as grandes questões da próxima legislatura”, resumiu.
Logo no início do discurso, a dirigente bloquista fez questão de deixar uma “palavra para o Carlos Peixoto” que tinha estado com o mesmo cartaz, no mesmo comício de Braga para as eleições europeias de maio.
“Aqui esteve, com aquele cartaz nas eleições europeias a lembrar-nos que há gente em Portugal que começou a trabalhar desde os 12 anos, teve 47 anos de carreira contributiva e como se reformou com as regras de Mota Soares teve uma penalização de 44%. Hoje, quem está nesta situação, já teria a reforma por inteiro”, destacou, enquanto olhava para o homem que assistia ao comício de pé, na parte lateral, já perto do palco.
O ainda deputado por Braga, Pedro Soares, que não se recandidata como cabeça de lista tal como aconteceu em 2015, marcou presença no comício, mas longe das primeiras filas.