Com apenas 15 anos, o piloto Francisco Macedo, de Braga, é tido como um prodigío do automobilismo. Acaba de ser contratado, depois de um período de testes, por uma equipa espanhola, a Drivex, para correr na Fórmula 4 no país vizinho. Mas o Kiko queria treinar no autódromo de Braga e não pode.
O piloto foi, em outubro, em outubro último, o campeão nacional de karting nas duas principais categorias, a X30 Sénior e a Sénior Max.
Apesar disso, lamenta não poder treinar no autódromo de Braga devido às restrições impostas pela Câmara por causa da conciliação de utilização aos fins de semana entre a pista de automóveis e a do aeródromo, que fica mesmo ao lado. Isto, dado que a ANAC-Autoridade Nacional de Aviação Civil não deixa que os dois equipamentos funcionem em simultâneo por razões de segurança.
Um dos seus familiares salientou a O MINHO que a medida do Município obriga o jovem piloto a ir treinar-se a Espanha com os consequentes prejuízos quer em termos financeiros quer desportivos, agravados pelo facto de ser estudante do ensino secundário: “não se entende a restrição camarária. Não é todos os dias que Braga tem um jovem fora de série no automobilismo, mas cujo desenvolvimento fica, assim, limitado”, lamentou.
Contactada a propósito, a vice-presidente e vereadora do Desporto, Sameiro Araújo, que é, ainda, hoje, treinadora de atletismo, explicou que, para o Kiko se treinar, o aeródromo teria de fechar: “Sempre me bati para termos em Braga atletas de alta competição e fico feliz com a carreira do jovem piloto. Mas a Câmara tem de conciliar as duas atividades, ou seja, há dois fins de semana em que o KIB (Karting Investimentos de Braga) utiliza o autódromo e outros dois em que fecha para que o aeródromo funcione”.
A autarca diz que, se o autódromo abrisse para o piloto treinar em dias em que a pista de aviões está aberta, a ANAC fecharia o aeródromo: “além do mais, o KIB intentou uma ação administrativa contra a Câmara, que aguarda julgamento, e isso virar-se-ia contra nós em termos de sentença”, sublinhou.
Sameiro Araújo acentua que o problema seria resolvido se fosse feito um investimento “de algum vulto” na pista de automóveis, para desviar o traçado, o que teria de ser feito pelo KIB: “Mudar a pista de aterragem é muito mais difícil”.
KIB pede indemnização
Recorde-se que, o KIB intentou, em 2023, uma ação no Tribunal Administrativo contra a Câmara, na qual alega quebra de um protocolo de 1995, em vigor, e pede 111 mil euros de indemnização por prejuízos com a perda de clientes e por danos não-patrimoniais.
Na contestação à ação, subscrita pelo advogado Nuno Albuquerque, o Município defende que a realização das atividades depende de prévia autorização da Câmara, e salienta que, para o efeito, o KIB deve, com a antecedência mínima de 30 dias em relação à data da realização, requerer a respetiva autorização; acresce que, em janeiro de cada ano, o KIB obriga-se ainda a comunicar o calendário anual de competições a organizar no circuito de velocidade”.
“Se as pretensões do KIB, de utilizar a pista de automobilismo todos os fins de semana e vários dias da mesma, fossem aceites, a Câmara teria de fechar o Aeródromo de Palmeira”, sublinha.
Já o KIB alega que o Município se recusa a permitir a realização de provas no circuito de velocidade Vasco Sameiro, em todos os fins de semana e dias úteis do ano, tendo-as passado, para dois fins de semana alternados, o que contraria um protocolo assinado em 1997.
Sublinha, ainda, que, em maio de 2021, o Município rompeu 20 anos de colaboração, ao obrigá-lo a comunicar com 30 dias de antecedência, quais os fins de semana em que usaria o circuito. Tal exigência consta do protocolo, mas nunca fora praticada.