Manobras de fraude ou apenas coincidências. A Assembleia de Apuramento Geral das eleições legislativas de 30 de janeiro no círculo eleitoral de Braga vai enviar ao Ministério Público do Tribunal Judicial, para investigação criminal, seis irregularidades detetadas em mesas de Barcelos, Vila Verde, Braga e Famalicão.
Ao que O MINHO apurou, de consulta da ata, dessas, três reportam-se a casos de suspeita de votos anulados propositadamente por alguém da Mesa, em Manhente, Barcelos (mesas um e dois) e em Turiz, Vila Verde. As outras três referem-se a eleitores que tentaram votar presencialmente, mas que já o teriam feito antecipadamente, tendo as mesas o respetivo voto em envelope. Estas tentativas deram-se nas freguesias de Ribeirão e da União das freguesias de Vila Nova de Famalicão e Calendário, ambas em Famalicão e na de São Vicente, em Braga.
A presidente da Assembleia de Apuramento, Marília Leal Fontes vai reportar ao MP, dois casos de Manhente, em Barcelos onde se concluiu que, de um total de nove votos nulos, oito têm a particularidade de terem o mesmo tipo de cruz, com a mesma cor de esferográfica e, por vezes diferente da cor da outra cruz, anulando votos a favor do PS. Ou seja, o boletim de voto tinha cruzes em dois partidos diferentes, suspeitando-se que alguém o teria feito de propósito.
A presidente da mesa Susana dos Santos Faria, chamada a pronunciar-se declarou que, “na contagem de votos não existiam esferográficas, sendo que nas cabines de voto, existiam canetas de várias espécies e que os votantes também podiam levar a sua”. Referiu que “os votos nulos passaram pelo escrutínio dos presentes, que estavam de mangas arregaçadas não havendo circulação de pessoas da mesa um para a dois e vice-versa”.
A mesma versão foi dada pelo delegado Luís Albino Silva.
Na Mesa dois, a suspeita recai sobre nove votos, anulados pelo mesmo motivo e em prejuízo do PS. O presidente da Mesa Domingos Gonçalves deu explicações similares às da Mesa um, e o mesmo fez o delegado Adélio da Costa Lopes.
O terceiro caso ocorreu na mesa três em Turiz, Vila Verde onde foram detetados 17 votos nulos que “suscitam dúvidas”. A presidente da mesa, Lúcia Antunes, disse que todos os membros viram os votos nulos não se apercebendo de nada de anormal na contagem”.
Votar duas vezes
A alegada tentativa de votar duas vezes, a que se chama de“voto plúrimo”, ocorreu em três mesas de Famalicão e Braga. Na União de Famalicão e Calendário, uma cidadã foi impedida de votar por já o ter feito antecipadamente. O que também sucedeu em Ribeirão, com uma eleitora. Já em São Vicente, Braga, um cidadão, que foi impedido de votar por já o ter feito, negou o facto e fez mesmo um protesto que ficou em ata.
Atas todas corrigidas
Para além destes casos, a Assembleia – onde o PSD foi o único partido que nela participou – teve um «trabalhão», pois teve de corrigir quase todas as atas enviadas pelas 347 freguesias, nomeadamente porque não incluíam os votos antecipados, mas também com casos de votos de círculos eleitorais diferente, como sucedeu em São Vítor, Braga, com um voto, que anulado, de um eleitor de Viseu.
Nesta freguesia, na ata, consta uma deliberação da mesa, onde foi considerado um voto como válido, onde constava ser do “Círculo Eleitoral de Viseu”. Em deliberação do Apuramento Intermédio, seis membros votaram favoravelmente a manutenção do voto como válido, sendo considerado no Círculo Eleitoral de Braga. Os outros cinco membros do Apuramento Intermédio votaram contra. Desde logo, o Delegado pelo PSD e uma Presidente de uma secção de voto, membro do Apuramento Intermédio, manifestaram a intenção de recorrer da decisão.
O delegado do PSD apresentou protesto face a esta decisão, que foi anexado à ata. Ora, colocado o protesto à deliberação do Apuramento Intermédio, foi decidido dar-lhe provimento com 6 votos a favor, 4 contra e 1 abstenção, revertendo a decisão inicial, no sentido de passar a considerar-se o voto nulo. Bem assim, foi extraído o boletim em causa dos votos válidos, desconsiderando-se um voto no IL e passando a existir seis votos nulos.