Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a desenvolver uma “espécie de vacina” à base de substâncias naturais para aplicar e proteger frutos e legumes de doenças fúngicas, surgindo como alternativa aos pesticidas químicos.
Em comunicado, a FCUP destaca que “há cada vez mais doenças fúngicas em frutos e legumes”, muitas das vezes provocadas pelas alterações climáticas, que originam “quebras acentuadas de produção” e um “elevado desperdício alimentar”.
Para evitar as quebras de produção e o desperdício, os produtores usam, frequentemente, fungicidas sintéticos, mas a eficácia destes produtos “é cada vez mais reduzida devido às resistências desenvolvidas pelos fungos patogénicos”, tendo também um impacto negativo na saúde humana e nos ecossistemas.
Com o intuito de desenvolver uma “alternativa” a estes pesticidas químicos, os investigadores da FCUP estão a trabalhar numa “espécie de vacina” baseada em substâncias naturais, no âmbito do projeto “BFree: Biocontrolo de Frutos e de Legumes”.
“O nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento e implementação de um conjunto de produtos naturais à base de micro-organismos endófitos [isolados de frutos] como agentes de biocontrolo”, afirma, citada no comunicado, a coordenadora do projeto e investigadora do GreenUPorto – Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável, Susana Carvalho.
Ao longo do projeto, os investigadores vão desenvolver “ferramentas sustentáveis” para diminuir o uso de produtos fitofarmacêuticos que “têm sido detetados com maior frequência nos produtos e legumes que chegam ao consumidor”.
A podridão cinzenta, oídio, míldio, antracnose e cladosporiose são o grupo-alvo de doenças fúngicas sobre as quais os investigadores se vão debruçar.
Neste momento, a equipa está a trabalhar nos micro-organismos antagonistas, tendo já selecionado os que têm “maior potencial antifúngico sobre os agentes patogénicos que levam às principais doenças”.
“Chegaram, aliás, a 12 diferentes formulações de diferentes micro-organismos”, destaca a instituição, esclarecendo que os investigadores pretendem agora analisar o efeito destas formulações em campo e aplicando-as diretamente nas plantas por forma a perceber a interação entre o micro-organismo e o agente patogénico.
Numa segunda fase do projeto, a equipa vai monitorizar a eficácia destas formulações na prevenção e tratamento de doenças fúngicas ao longo do ciclo natural de diversas culturas como o morango, framboesa, mirtilo e tomate.
Já a terceira e última etapa do projeto visa o desenvolvimento das soluções encontradas “para condições comerciais”, tendo como objetivo alcançar cerca de 135 produtores hortofrutícolas distribuídos pelo território nacional.
Susana Carvalho destaca ainda que a aplicação de agentes de biocontrolo “tem vindo a despertar uma elevada atenção” tanto no meio científico, como no meio empresarial “como uma alternativa promissora e sustentável às abordagens convencionais para a gestão de pragas e doenças”.
Com um financiamento de 860 mil euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), o projeto conta com a colaboração do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Centro Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), a Proenol – Indústria Biotecnológica e mais 10 pequenas e médias empresas, nas quais se incluem organizações de produtores e produtores individuais.