O diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) criticou esta quarta-feira a “guerrilha comercial” de Espanha ao leite português, sublinhando que o incidente registado na segunda-feira na Galiza poderá conduzir a “retaliações” dos produtores lusos.
“Demarcamo-nos, evidentemente, de ações deste género, mas cumpre-nos alertar para a eventualidade de acontecerem atitudes de retaliação dos produtores portugueses em relação aos camiões carregados de leite provenientes de Espanha que todos os dias circulam em Portugal”, afirmou Paulo Leite.
Na noite de segunda-feira, um camião português que transportava leite foi barrado e despejado em Lugo, na Galiza, por produtores locais.
Para Paulo Leite, este incidente contribuiu para “inflamar” ainda mais os ânimos dos produtores nacionais.
Segundo a ANIL, desde maio de 2015 que a Polícia Autonómica Galega tem em curso uma campanha de controlo do leite e derivados provenientes exclusivamente de Portugal, “com o pretexto de comprovar a rastreabilidade do leite que chega em camiões cisternas e embalado, para que tanto a origem como o processo de transporte e chegada ao destino cumpram com todos os requisitos legais”.
“Até agora, não foi detetada qualquer anomalia no leite português em termos de saúde pública, de qualidade ou de legalidade”, afirmou Paulo Leite.
Para este responsável, o que está verdadeiramente em causa é uma “estratégia protecionista” do leite espanhol, inserida numa “guerrilha comercial” que visa travar a entrada do produto português.
“O leite português cumpre todas as normas, não tem qualquer problema de qualidade nem de legalidade”, reiterou.
Produtores de Leite de Portugal exigem medidas para evitar incidentes como o da Galiza
Carlos Neves, presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal, defendeu esta quarta-feira no Porto que sejam tomadas medidas para evitar situações idênticas à que ocorreu na Galiza, ou poderá entrar-se no “olho por olho, dente por dente”.
“É necessário perguntar aos governos de Portugal e de Espanha, se vão defender os produtores e vão colocar ordem nisto ou se vão continuar ausentes e deixar que entremos numa escalada de olho por olho, dente por dente, ou de fazer justiça pelos próprios meios”, disse.
Para o dirigente da APROLEP, o que se passou na Galiza foi “uma ação de desespero dos produtores espanhóis, mas esse desespero é o mesmo que os produtores portugueses estão a sentir”.
Carlos Neves falava à margem de uma ação de “marketing direto”, de contacto com os consumidores, para promover o leite, os produtos lácteos e todos os produtos agrícolas portugueses, realizada junto a um supermercado, no Porto.
Considerou ainda que a retaliação “não é solução”, mas admite que pode acontecer, “basta que um grupo se junte e organize algo idêntico”.
“Penso que os espanhóis estão a atirar para o alvo errado, estão atirar para o que é mais fácil, que é Portugal. Os próprios colegas espanhóis dizem-me que a importação de França é muito superior à importação de Portugal”, sublinhou.
Carlos Neves salientou, a este propósito, que Portugal tem “um défice de 165 milhões de euros em relação a Espanha, ou seja, vão meia dúzia de camiões para Espanha e vêm dezenas, centenas de camiões com iogurtes, com leite já embalado, para Portugal”.
Presente na mesma iniciativa, o presidente da Associação de Produtores de Leite de Vila do Conde, Carlos Moreira, considerou que o que se passou na Galiza foi “má-fé” dos produtores locais, “porque estamos num mercado aberto”.
“Da mesma forma que eles têm o direito de trazer leite de Espanha ou de França para Portugal, nós também temos que levar o nosso leite para Espanha, até porque temos lá uma empresa que pertence à Lactogal”, sublinhou.
Carlos Moreira entende por isso que “não foi uma boa atitude” e que os produtores de leite espanhol “devem contestar junto do seu Governo a diferença do preço entre a produção e o consumidor final, que é um dispare. Nós também o contestamos”.
“Há uma margem muito grande de lucro que fica entre a indústria e a distribuição”, frisou.
Também o diretor-geral da Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL) criticou hoje a “guerrilha comercial” de Espanha ao leite português, sublinhando que o incidente registado na segunda-feira na Galiza poderá conduzir a “retaliações” dos produtores lusos.
A Organização de Produtores de Leite (OPL) de Espanha admitiu a possibilidade de ocorrerem novos bloqueios à entrada de leite português no país mas demarcou-se do incidente com camião cisterna, na Galiza.
Fonte do gabinete do ministro da Agricultura referiu que “está a acompanhar o processo de identificação dos intervenientes e das circunstâncias em que ocorreu a situação”.
“Do resultado dessa diligência decorrerá, eventualmente, uma comunicação ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, no sentido de contactar as autoridades espanholas, caso se constate que houve qualquer procedimento incorreto da parte destas”, acrescentou.
Este protesto prende-se com o alegado incumprimento de normais legais na exportação de leite de Portugal para Espanha, nomeadamente no que diz respeito ao atestado de qualidade.
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