Se há alguns meses a probabilidade de Leo Lins ser a figura mais polémica do humor brasileiro era bastante grande, agora não deixa qualquer dúvida. O conhecido humorista, que recentemente gozou com Guimarães, foi condenado a oito anos e três meses de prisão, no Brasil, por causa das piadas que conta nos espetáculos.
Em janeiro, o comediante esteve em Guimarães, Coimbra e Lisboa, numa altura em que o caso que agora o leva à prisão ainda estava a decorrer na justiça. Na altura, Leo Lins publicou um vídeo no YouTube onde fez uma análise humorística à cidade de Guimarães, algo que o mesmo faz sempre em qualquer cidade onde vá atuar, e que lhe custa algumas vezes os cancelamentos desses mesmos espetáculos poucos dias antes de ocorrerem.
Piadas como “existirem moradores tão antigos como os monumentos que existem na cidade” ou “o castelo de Guimarães foi construído para travar a invasão dos mouros, mas hoje em dia só serviria para combater a invasão de brasileiros” foram encaradas com humor pelos portugueses e os espetáculos em Portugal decorreram sem qualquer polémica. Mas não aconteceu o mesmo no Brasil.
Lei antipiadas ajudou a aumentar pena
O humorista foi esta semana condenado a oito anos e três meses de prisão pela Vara Criminal de São Paulo, no Brasil, por alegados discursos preconceituosos contra minorias durante um espetáculo de stand-up divulgado no YouTube. A plataforma foi obrigada a apagar o vídeo a mando da justiça brasileira.
A decisão ainda é passível de recurso e tem por base leis de combate ao racismo e de inclusão da pessoa com deficiência. Uma nova lei, chamada “antipiadas”, sancionada pelo atual Presidente da República do Brasil e criada por uma deputada do partido de direita Republicanos, associado à Igreja Universal do Reino de Deus, ajudou a aumentar a pena do humorista, inflamando a opinião pública pelos que defendem o humorista, mais ligados à direita liberal, e os que apoiam a decisão, mais ligados a Lula da Silva, por considerarem as piadas racistas.
Despedido do “The Noite”
Em julho de 2022, foi despedido do programa de ‘late night’ The Noite, onde era um dos principais humoristas desde o início, em 2013. O motivo: uma piada antiga mas republicada nas redes sociais onde Léo Lins abordava uma criança com hidrocefalia, uma doença rara. Danilo Gentili, apresentador do programa, já veio defender (novamente) o colega, no Instagram, após conhecer-se a sentença de prisão.
Piada que o levou à prisão
“Eu acho muito legal o Teleton (maratona televisiva que angaria dinheiro para causas sociais), porque eles ajudam crianças com vários tipos de problema. Vi um vídeo de um garoto no interior do Ceará com hidrocefalia. O lado bom é que o único lugar na cidade onde tem água é a cabeça dele. A família nem mandou tirar, instalou um poço. Agora o pai puxa a água do filho e estão todos felizes.”.
A Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) não gostou e repudiou, levando ao despedimento do humorista que se recusou a pedir desculpa, argumentando que se tratava de uma piada.
Essa mesma piada, e outra onde diz que “os negros se queixam que ninguém os emprega, mas quando eram escravos tinham sempre trabalho”, estão na origem da queixa que agora leva o humorista à condenação efetiva.
Em maio de 2023, o Ministério Público de São Paulo emitiu uma ordem judicial para que o YouTube retirasse o espetáculo completo de stand-up de Léo Lins, chamado “Perturbador”, por conter piadas de humor negro e de gozo a pessoas com deficiências, pessoas idosas e escravos.