Guimarães: Aos 12 anos, Maria Germano é a esperança portuguesa para chegar à Fórmula 1

Já tem contrato com a Ferrari

A piloto Maria Germano Neto, de 12 anos, é a esperança portuguesa para chegar à Fórmula 1, depois de ter mostrado qualidades no karting e de ter já um contrato assinado com a Ferrari.

Natural de Guimarães, tem já contrato com a Ferrari depois de ter vencido a Girls on Track – Rising Stars, uma competição de deteção de talentos promovida pela Federação Internacional do Automóvel, em 2020, que lhe valeu competir este ano com tudo pago, à exceção das estadias e alimentação.

Essa vitória valeu-lhe também um contrato com a Tony Kart, uma das melhores equipas mundiais de karts.

Este ano, a evolução foi afetada por duas lesões, uma primeira na coluna (fratura das vértebras D5 e D8 e compressão da D6), sofrida num acidente com outros dois pilotos, em 16 de julho.

Depois de ter recuperado desse primeiro contratempo, viria a sofrer ainda uma fratura de clavícula já na parte final da época.

Foto: Rui Dias / O MINHO

“No próximo ano, vai estar a discutir o campeonato do mundo”, antevê o pai, Germano Neto, advogado de profissão e um dos maiores apoios do sonho da filha, que quer ser “a primeira mulher a chegar à Fórmula 1”.

O progenitor acredita que, ultrapassados os problemas físicos que afetaram a filha, “o próximo ano será de afirmação” da jovem piloto portuguesa.

“A Maria já leva isto muito a sério. Pelo que vejo de outros que dizem que têm perspetivas de chegar à Fórmula 1, não sei por que é que a Maria não pode”, frisa.

Mesmo assim, o caminho é longo, espinhoso e, sobretudo, caro.

Foto: DR / Arquivo

“Este ano, fruto do apoio da Tony Kart e da Ferrari, não tive de fazer nada em termos de estrutura, mas, ainda assim, gastei 50 mil euros entre alojamentos e alimentação”, explicou à Lusa Germano Neto.

Mas, se tivesse de custear a participação da filha nas várias competições que disputou, “não chegavam 300 mil euros para correr a este nível”.

A lesão na coluna chegou “na pior altura”, pois Maria Germano Neto estava “em forma num momento decisivo para o Mundial, com os holofotes todos apontados”.

No entanto, reconhece que “as lesões fazem parte do desporto” e que, por isso, “o importante é recuperar bem”.

Com 12 anos, Maria Germano Neto tem na escola a principal atividade, o que implica uma dose grande de sacrifício.

“No ano passado, teve, em média, frequência de um terço das aulas dadas. Mas teve ‘5’ a tudo, à exceção de educação musical. É uma aluna aplicada e super-responsável. Normalmente, os testes são às segundas e terças-feiras, que é quando está cá. Mas se tiver de acordar às 06:30 horas para estudar, não tem qualquer problema”, explica o pai.

Em 2022, Maria Germano Neto competiu nas World Series Karting e no Europeu de Karting.

A carreira começou aos quatro anos, depois de acompanhar o pai a uma reunião de trabalho, num kartódromo. “Para passar o tempo, experimentou e mostrou apetência”, conta, admitindo que “não foi uma coisa que o pai quisesse”.

Passado um mês, estava a competir na Taça de Portugal, em Leiria. “Gostou, entusiasmou-se e tem feito uma carreira extraordinária”, diz o pai.

Aos cinco anos, ganhou a Taça de Portugal – foi a menina mais nova de sempre a consegui-lo – e, com nove, venceu a Taça Bridgestone, o Campeonato de Portugal e a Taça de Portugal.

Maria Germano Neto foi a menina mais nova de sempre a ganhar todas as provas da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK).

Foto: Rui Dias / O MINHO

A partir daí, o percurso natural era a aposta internacional. “Fizemos a opção certa para a evolução dela”, acredita Germano Neto.

Maria tornou-se na mais nova a ganhar uma prova de karting em Espanha e, depois, em Itália.

“Comecei a perceber que tinha algo de diferente”, diz o pai.

Agora, Maria deverá continuar a competir nos karts por mais três anos, antes de dar o salto para os Fórmulas. O futuro poderá desembocar na Fórmula 1.

“Se não chegar lá, é porque não teve apoios”, conclui.

Fã de Leclerc

Maria Germano Neto quer ser “piloto de Fórmula 1”, modalidade na qual é fã do monegasco Charles Leclerc, da Ferrari, equipa de cuja academia já faz parte.

Aos 12 anos, é apontada como uma das grandes promessas do automobilismo português, que tem vindo a subir de interesse entre o sexo feminino.

Compete no karting, mas ambiciona chegar aos monolugares, de Fórmula 4, Fórmula 3 e, mesmo, Fórmula 1.

Fruto da competição que tem disputado em Espanha e Itália, fala fluentemente espanhol e já entende italiano.

“Aprendi nas corridas”, diz, com naturalidade, Maria Germano Neto.

Foto: DR / Arquivo

O piloto de que mais gosta é o monegasco Charles Leclerc. “Era para ter estado com ele, mas houve um contratempo e já não foi possível”, conta.

A vitória na Girls on Track – Rising Stars, uma competição de deteção de talentos promovida pela Federação Internacional do Automóvel (FIA), em 2020, valeu-lhe a entrada para a Academia da Ferrari, mas admite que já era fã da ‘Scuderia’ antes disso.

“Já gostava da equipa e ele já era o meu piloto favorito. Sempre o achei bom piloto”, diz Maria.

A competir nos karts há meia dúzia de anos, revela que ser piloto profissional é o grande objetivo da sua carreira. Mas se não for piloto, “não gostava de trabalhar no escritório [de advocacia] do pai”. “É muito trabalho e não gosto”, confessa a piloto.

A maturidade que se lhe sente na voz foi forjada pelas corridas, pelas viagens sozinha para competir, de igual para igual, com rapazes da mesma idade ou mais velhos.

“Aos sete anos, já ia sozinha fazer corridas a Espanha. Viajava ao cuidado de uma assistente de bordo. Mas, geralmente, vai comigo ou com um familiar. Em Espanha, foi quarta classificada no campeonato, mas foi a melhor estreante e considerada piloto revelação”, conta o pai, Germano Neto.

Competindo numa modalidade maioritariamente masculina, Maria Germano Neto não sente discriminação.

“Os outros rapazes tratam-me como se fosse um deles. São simpáticos e tratam-me bem”, conta, apesar de sentir que as raparigas “são mais simpáticas”, apesar de serem só “três ou quatro”.

Mas ao olhar atento do pai não escapa alguma frustração a mais quando são batidos pela portuguesa, pois trata-se de uma competição mista.

“Acho que fica ali alguma coisa, por não perceberem como é que uma menina pode ser melhor do que eles. No meu tempo, custaria muito a engolir. Hoje, talvez as coisas sejam diferentes, mas não será fácil para os rapazes, sobretudo os mais velhos”, admite Germano Neto.

Apesar de a FIA ter criado umas W Series, competição exclusiva para mulheres, o advogado vimaranense não vê a filha a entrar nesse campeonato.

“A competitividade dela é como a dos rapazes”, garante.

E, como os rapazes, Maria sonha chegar à Fórmula 1.

 

 
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