Dois países, duas formas distintas de ver o mesmo animal. A GNR publicou hoje nas redes sociais um apelo para a proteção ao lobo-ibérico, recorrendo à utilização de uma imagem com apenas 300 pixels de capacidade. Esses 300 representam o número de lobos que habitam o nosso país, algarismo esse que, para a Guarda, não é suficiente. No entanto, do outro lado da raia minhota, na Galiza e em Astúrias, o pedido do Governo central para a inclusão do lobo na lista de espécies protegidas não foi aceite, e as matanças vão continuar a ser autorizadas a Norte do rio Douro.
Ao que apurou O MINHO junto de fonte oficial do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto, entidade que monitoriza o lobo-ibérico no Norte de Portugal, existem entre 30 a 40 lobos em toda a região do Minho, com especial incidência na zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês. O número é manifestamente reduzido, sendo que os restantes dois centos e meio estão dispersos por Trás-os-Montes e Alto Douro. Existem ainda algumas (muito poucas) alcateias a sul do rio Douro, mas a extinção nestes locais parece cada vez mais iminente.
Mas na Galiza é diferente. Em Espanha, não há uma homogeneização acerca das leis que protegem este tipo de animal. Se a Sul do rio Douro é totalmente proibido caçar ou abater o lobo-ibérico, a Norte do mesmo rio existem excepções que devem ser autorizadas pelas respetivas comunidades autónomas, desde juntas locais até à entidade máxima da província. Por isso, ainda se realizam caçadas ao lobo em algumas serras galegas, algo que o Governo espanhol queria ver terminado. Essas caçadas são realizadas sempre que se verificar perigo para o gado doméstico quando aumenta a incidência de ataque de lobo em determinadas localidades.
Não só Galiza, mas também Astúrias, Cantábria e Castela e Leão, as outras províncias espanholas com maior número de alcateia, conseguiram paralisar a proposta do Ministério de Transição Ecológica e Reto Demográfico que incluía o lobo na lista de espécies selvagens em regime de proteção especial. Esse ministério havia definido um grupo de trabalho especializado para o lobo-ibérico e preparava-se para apresentar o projeto numa reunião realizada na passada semana entre as comunidades autónomas e o ministério. Mas a proposta de apresentação não foi aceite pela maioria dos responsáveis locais, pelo que o grupo de trabalho irá realizar nova proposta nas próximas semanas, em outros moldes, que prevejam a excepcionalidade para aquelas quatro regiões autónomas onde a espécie está mais instalada.
Segundo o CIBIO, o lobo não representa ameaça direta ao ser humano, mas para os outros animais o perigo adensa-se. Diz aquele instituto que cerca de 90% do alimento do lobo na região minhota são animais domésticos que andam a pastar nos montes e serras, muitas vezes em modo pastoreio autónomo, como bovinos e equídeos. Outras presas são os corços e os javalis, que abundam na região de Trás-os-Montes, facilitando a sobrevivência e expansão do animal naquele território. Apesar de poder passar vários dias sem comer, em média, um lobo adulto deve ingerir entre 3 a 5 quilos de comida por dia.
Se em Portugal o estatuto de conservação do lobo-ibérico aponta para uma espécie “em perigo”, em toda a Península o grau é mais reduzido, sendo considerada uma espécie “quase ameaçada”. A isso se deve a proliferação na região central de Espanha feita por lobos vindos do Norte. Em termos de proteção legal a nível internacional, o lobo-ibérico é uma espécie “estritamente protegida”, segundo a Convenção de Berna. Já a nível nacional existe a lei de proteção do lobo-ibérico (Lei n.º 90/88 de 13 de agosto e Decreto-Lei 139/90 de 27 de abril) que a aponta como uma “espécie estritamente protegida em Portugal”.