Gerês: Já começaram as obras na cascata do Tahiti

Prazo de execução de 150 dias

Já arrancaram as obras para instalação de um miradouro e de condições de segurança para o visitamento da Cascata de Várzeas, vulgarmente chamada de Fecha de Barjas ou cascatas do Tahiti, em Terras do Bouro, apurou O MINHO junto do presidente da Câmara de Terras de Bouro. Há uma média de uma morte por ano nas cascatas do Gerês.

De acordo com Manuel Tibo, o estaleiro “já está montado” para uma obra com prazo de execução de 150 dias, ou seja, irá apanhar o verão deste ano num local habitualmente frequentado por milhares de turistas, mas que não reúne condições de segurança, situação provada com as dezenas de acidentes que ocorrem todos os anos, sobretudo em situação de queda.

O contrato foi celebrado em abril com a empresa Floema, pelo valor de 249.962,63 euros, e agora tornado público através do portal de contração pública.

Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro

Melhorar a segurança

De acordo com a memória descritiva do projeto de arquitetura, consultada este domingo por O MINHO, o projeto de “Ordenamento da Visitação nas Cascatas de Barjas”, em Terras de Bouro, visa “melhorar a segurança dos visitantes e garantir a preservação do património natural”.

A intervenção inclui a construção de uma plataforma metálica suspensa, sem contacto direto com o solo “nem impacto no coberto vegetal, destinada à contemplação da paisagem e apoio ao resgate de vítimas”. Serão também criadas bolsas de estacionamento para viaturas prioritárias e pessoas com mobilidade reduzida, bem como percursos pedonais seguros. Segundo o mesmo documento, “a proposta respeita a morfologia do terreno e evita escavações, preservando o ‘genius loci’ do local”.

Há média de uma morte por ano nas Cascatas do Gerês

Estas obras surgem da vontade do presidente da Câmara de Terras de Bouro em tornar aquela zona num local mais seguro para visitação, dado o elevado número de acidentes que ali ocorrem anualmente, alguns resultando na morte de turistas.

O número de mortes nas cascatas do Parque Nacional da Peneda-Gerês é de uma média de uma morte por ano, embora haja anos em que não morreu ninguém, mas também existem anos em que morreram duas pessoas, verificando-se que os casos na Cascata do Arado, embora em menor número, têm tendência a ser mais graves que na Cascata do Tahiti, onde há mais quedas.

Foto: Joaquim Gomes / O MINHO

O último caso mortal ocorreu há precisamente dois anos, na Cascata de Várzeas, em Fecha de Barjas, Ermida, Vilar da Veiga, em Terras de Bouro, mais conhecida por Cascata do Tahiti, vitimando um turista estrangeiro no feriado de 25 de abril de 2023.

A vítima, Serge Outhaithany, de 51 anos, natural de Sam Neua, no Laos, mas com nacionalidade francesa, que residia na ilha de Champs-sur-Marne, escorregou fatalmente numa passagem entre rochas no fundo da Cascata do Tahiti, em Terras de Bouro.

À exceção da morte de uma jovem de Montalegre, ocorrida em 2019, nas Sete Lagoas, em Montalegre, os restantes onze casos mortais verificaram-se em Terras de Bouro, nas freguesias de Rio Caldo, de Vilar da Veiga e do Campo do Gerês, quer na Albufeira da Caniçada, entre os rios Cávado e do Gerês, quer ainda nas Cascatas do Tahiti, do Arado e da Portela do Homem.

Imagem: CM Terras de Bouro

Já no caso da Cascata da Rajada, a que se acede por caminhos de terra batida, depois de passar o caminho empedrado da Capela da Ermida, na freguesia de Vilar da Veiga, a mais recente, mas a mais extensa do concelho de Terras de Bouro, as quedas são muito reduzidas na penedia alagada, sendo mais as situações de entorses nos membros inferiores a caminho de ida e de volta.

O caso mais grave nas cascatas geresianas envolveu a morte simultânea de um casal ocorrendo na cascata do Tahiti, que ganhou esse nome desde que em finais do século passado ali foi filmado o anúncio publicitário televisivo Tahiti Duche Monöi.

Na ocasião, a esposa escorregou sucessivamente, enquanto o marido, tentou salvá-la, acabando por cair ambos ao chamado “poço”, com cerca de 20 metros de altura, onde confluem dois rios, o Arado e o Fafião, rumo ao afluente comum, o rio Cávado, tendo morte imediata, deixando órfãos dois filhos adolescentes, um caso ainda hoje recordado nos confins da Serra do Gerês.

Projeto “é compatível com o ordenamento do território”

De acordo com a Câmara de Terras de Bouro, apesar das condicionantes ambientais e legais — inserção em áreas protegidas como a REN, SIC e ZPE —, o projeto é compatível com os instrumentos de ordenamento do território, por tratar-se de uma infraestrutura amovível e de baixo impacto.

A mesma fonte refere que a intervenção incorpora “materiais naturais e soluções técnicas discretas, com integração paisagística cuidada, promovendo a visitação inclusiva e ordenada” num local de grande afluência turística e sensibilidade ecológica.

Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro

Miradouro e passadiço com estrutura metálica assente em micro-estacas

Ao que O MINHO apurou junto de fonte ligada à construtora, o miradouro terá estrutura metálica assente em fundações de betão armado. Devido à inexistência de um estudo geotécnico, o gabinete de arquitetura optou por fundações indiretas com sapatas apoiadas em micro-estacas, a serem confirmadas em obra. A estabilidade e a resistência da estrutura consideram ações como vento, sismos e sobrecargas de utilização, com verificação dos estados limites últimos e de utilização. O projeto prevê também “um controlo topográfico rigoroso” durante a execução.

Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro
Imagem: CM Terras de Bouro

Estabilidade anti-sísmica

Na memória descritiva do projeto de estabilidade, consultada este domingo por O MINHO, é referido foi assegurada uma análise sísmica “com recurso ao método modal espectral, tendo sido consideradas diversas hipóteses de carga e modos de vibração”.

As micro-estacas terão como função essencial “resistir a ações horizontais e axiais”. Os materiais especificados incluem “betão C30/37 e aço de classe S355 J2G2 para chapas e S355 JR para perfis metálicos”. Os elementos estruturais metálicos receberão tratamento anticorrosivo, e todas as alterações ou melhorias em obra “deverão ser previamente validadas pela equipa projetista”. O projeto sublinha ainda a importância da segurança do pessoal e da correta execução dos trabalhos segundo “normas técnicas e boas práticas da engenharia”.

Com Joaquim Gomes.

 
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