António Rosa, que se dedica à fotografia de aves no seu estado selvagem, conseguiu hoje, na Póvoa de Varzim, um registo pouco comum de um ganso-de-faces-pretas (Branta bernicla hrota), uma espécie que nidifica nas regiões do ártico mas que, em dezembro, costuma voar por países mais a sul.
O autor conta a O MINHO que saiu de casa para dar um “passeio à chuva” na marginal, junto à Marina, quando se apercebeu de um grupo de aves num descampado em frente. Foi rapidamente buscar a máquina fotográfica e ainda conseguiu captar, com detalhe, as aves, que levantaram voo “cerca de três minutos depois”.
Rosa, como é conhecido, está habituado a situações onde recorre a medidas extremas para conseguir o registo que pretende, como foi o caso de ficar três horas em cima de uma oliveira ou, até, como hoje, quando se deitou no chão, no meio da lama do descampado, à chuva, para conseguir registar a foto ao nível do chão, “conseguindo assim melhor detalhe” do ganso.
De acordo com o portal especializado Aves de Portugal, este ganso nidifica nas regiões do ártico, ou seja, onde as temperaturas, nos meses de verão, não ultrapassam os 10 graus Celsius. Estas aves, nos meses de maior frio no Hemisfério Norte, sobretudo entre novembro e janeiro, costumam invernar para a Europa em latitudes temperadas, dando preferência às zonas costeiras da Europa central e das ilhas Britânicas, onde passam o inverno.
Explica aquele portal que, na maioria dos anos, observar este tipo de ave é muito raro em Portugal, mas em certos invernos pode ser relativamente numeroso, como foram os casos de 1991-92, 2011-12 e 2014-15, anos em que foram avistadas “muitas dezenas”. Dezembro é, de longe, o mês onde ocorrem mais observações desde que há registo.
A primeira homologação de um avistamento desta espécie em Portugal ocorreu no estuário do rio Minho, em Caminha, a 12 de outubro de 1993. Foram necessários mais oito anos até haver novo registo homologado em território minhoto, em 19 de novembro de 2001, no estuário do rio Cávado, em Esposende.
No portal Aves de Portugal, que divulga e regista as observações, é referido que o último avistamento no Minho ocorreu em novembro de 2015, em Esposende, pela autoria de J. Silva, mas a lista poderá estar desatualizada.
Segundo o livro “Aves de Portugal. Ornitologia de território continental” (Catry, P., Costa, H., Elias, G., Matias, R), o ganso-de-faces-pretas adulto mede entre 55 a 60 cm, tem a cabeça toda preta, é “atarracado e muito escuro”, parecendo até que é todo preto, mas tem a traseira branca e uma marca, da mesma cor, no pescoço, geralmente apenas visível no segundo ano de vida do animal. O bico e as patas também são pretos.
De acordo com a mesma fonte, esta espécie ocorre no nosso país, em zonas de estuário, enseadas e lagoas costeiras e alimenta-se de plantas estuarinas do género zostera e de algas verdes marinhas, de águas pouco profundas.
Em Portugal pode ser observada, ocasionalmente, ao longo da faixa costeira, de norte a sul do país.