O caso de trabalhadores agrícolas que acusaram positivo à covid-19 em Ponte de Barca revela discriminação no tratamento, acusa o SINTAB – Sindicato dos Trabalhadores da agricultura e das indústrias de alimentação, bebidas e tabacos de Portugal.
“É a prova provada de que o país continua a cometer os mesmos erros, não só na forma como apoia a produção agrícola em cima da contratação de mão de obra precária, exclusivamente estrangeira e maioritariamente ilegal, exploratória e, muitas vezes, comprovadamente esclavagista, mas também como, na necessidade de resposta sanitária, se prontifica a fazê-lo com recurso a atos socialmente discriminatórios”, começa por criticar o SINTAB.
“A própria utilização do termo ‘surto’ evidencia o desdém com que se trata estes casos, sempre que se observam no seio de comunidades de trabalhadores ou pessoas de faixa social mais desfavorecida. O vírus não é gerado nestas comunidades, nem tão pouco depende de qualquer caracterização social ou económica dos indivíduos para tal. Já quanto às condições de proteção contra o contágio não se pode dizer o mesmo”, acrescenta em comunicado.
Recorde-se que, em Ponte da Barca, registaram-se, na semana passada, três novos casos de covid-19, havendo outros dois suspeitos. Em causa trabalhadores sazonais nepaleses e indianos que apanhavam mirtilos numa quinta na região.
Os trabalhadores estão isolados em duas habitações num prédio da zona urbana daquela vila.
“O caso agora conhecido numa exploração agrícola de Ponte da Barca é sintomático do tratamento diferenciado consoante o estrato social dos envolvidos”, lamenta o sindicato.
“É inadmissível, condenável, e inexplicável que, nesta como noutras situações, ao mesmo tempo que o patrão é testado e ‘deixado’ ir à sua vida, os trabalhadores estão compulsivamente confinados ao seu espaço de residência, infetados ou não, por via de uma decisão que atropela direitos fundamentais dos cidadãos, portugueses ou estrangeiros, negando-lhes o acesso ao trabalho ou qualquer outra vertente do seu quotidiano, estando também, ainda, por saber, que instrumentos de proteção social lhes estão, se estão, a ser facultados”, sublinham.
Posto isto, o SINTAB defende a “urgente dotação da ACT dos meios técnicos e humanos necessários para fiscalização e imposição de tudo o que são direitos de todos os Trabalhadores, independentemente da sua nacionalidade ou raça”.