Fiéis multados durante missa na Sé de Braga. Cónego fala em “perseguição”

Vereadora diz que o código regulamentar é para ser cumprido por todos

Vários fiéis que acorreram à missa das 11:30, na Sé de Braga, deixando os carros estacionados em ruas pedonais, foram surpreendidos com multas de estacionamento irregular à chegada às viaturas, no final da eucaristia. O responsável do Cabido da Sé fala em “perseguição” e recorda “tempo dos primeiros mártires”. A vereadora com o pelouro da Polícia Municipal relembra que existe tolerância para quem estaciona no Rossio (ao lado da Sé), mas que essa tolerância não pode ser aplicada às ruas pedonais envolventes.

Nas redes sociais, o cónego José Paulo Abreu, deão do Cabido da Sé, deu ‘asas’ à indignação não só dos cristãos multados como da própria Igreja, apontando o dedo ao atual executivo municipal, a quem acusa de nunca mais elaborar um alegado protocolo e de favorecer “os bares” sobre a religião.

José Paulo Abreu publicou uma fotografia onde se podem ver lugares de estacionamento em frente à Sé ocupados com esplanadas de bares, na sua maioria fechados esta manhã, lamentando que “os carros de quem, na zona da Sé, vai à missa, são multados” para “ter a estrada limpa”.

“O prometido protocolo para a regulamentação daquele espaço… nem vê-lo. Dá mais jeito multar. E afastar as pessoas da Sé. Nestes tempos de uma Bracara Augusta que nos faz lembrar o tempo dos primeiros mártires, está difícil ser-se igreja. Quem diria…”, desabafa o cónego, falando ainda em “horror” e “saudades”, referindo-se, eventualmente, aos tempos de governação de Mesquita Machado (PS).

Duas horas depois da primeira publicação, o cónego, que é também presidente da Confraria do Sameiro e juiz do Tribunal Eclesiástico, ‘voltou à carga’ com um novo ‘post’, de conteúdo ainda mais cáustico, onde disse sentir “nojo” dos “mandantes”, pedindo “perdão” aos cristãos.

“A Câmara Municipal de Braga, através da Polícia Municipal, superiormente mandatada por quem todos sabemos, prendou as novas mamãs e suas famílias com uma multa. Que bonita prenda! Que grande gesto. Que interessante para todos os cristãos. Vale a pena pagar impostos para termos semelhantes mandantes. Estou revoltado. Sinto nojo! Tenho vergonha! Perdão, cristãos. De joelhos, perdão, mamãs”.

“O código regulamentar obriga a todos”

O MINHO contactou a vereadora com o pelouro da Polícia Municipal, Olga Pereira (PSD), que se mostrou surpreendida pelas declarações do alto clero bracarense: “Não tenho nenhum comentário a fazer, as atitudes ficam com quem as toma”.

Todavia, a vereadora esclareceu-nos que “não existem protocolos sobre os espaços públicos” e que esta situação dos estacionamentos nunca se poderá regrar “por protocolos, pois existe um código regulamentar que obriga a todos”.

“É permitido o estacionamento no Rossio da Sé 15 minutos antes das celebrações até 15 depois, mas isso não se aplica às ruas pedonais”, revelou a responsável política, preferindo não ‘alimentar’ a ‘fogueira’ do deão.

Cónego sem ‘papas na língua’

José Paulo Abreu tem granjeado por entre a sociedade civil a fama de ser direto, sem receio de polémicas. Recentemente, o também diretor Museu Diocesano Pio XII e Medina, defendeu numa entrevista à Rádio Universitária do Minho que as pessoas só vão ao Sameiro “deixar os ossos de frango” e “entupir os cestos do lixo com Pizza Hut” e que não deixam “um cêntimo” para pagar a quem vai lá limpar.

A forma como o disse levou a que o programa satírico e de debate político Junta de Boys, até então transmitido também naquela rádio, utilizasse alguns excertos, levando ao cancelamento da transmissão do programa por parte da administração, que justificou que a entrevista ainda não tinha sido transmitida na própria rádio e já estaria a ser utilizada na internet.

“Para muita gente o Sameiro só serve para deixar os ossos do frango. Entopem os cestos do lixo com Pizza Hut e não fica um cêntimo na caixa de esmolas para pagar ao funcionário para limpar. As pessoas gostam de tudo direitinho, tudo muito enceradinho, Deus me livre se não está assim”, disse.

E prosseguiu: “Mas quê? [O dinheiro] cai do céu? Na hora dizem: – são chulos -, como ouvimos, e pronto. Vamos a Sevilha, e perguntam quanto custa para entrar? Pagou, não tossiu nem mugiu. Aqui? Deus me livre. Pagar? É que nós não temos hipótese de multiplicar, nem agora com o bitcoin”.

Arcebispo zangado por quase ter sido multado

Em finais de outubro, o ainda arcebispo de Braga, Jorge Ortiga, veio a público manifestar desilusão para com a Polícia Municipal, por “quase” o terem multado antes de uma celebração eucarística na Sé.

O famalicense deixou o desabafo durante a eucaristia solene que homenageava o padroeiro do concelho, S. Martinho de Dume, apontando que existe uma importunação constante aos fiéis que estacionam junto ao Rossio da Sé.

Em declarações ao Diário do Minho, que é detido pela Arquidiocese, Jorge Ortiga disse tratar-se de “um dia de tristeza”: “Eu próprio fui importunado quando estava estacionado no Rossio da Sé, antes de vir celebrar [a eucaristia]. Só não fui multado porque ainda estava no carro a fazer um telefonema”.

Arcebispo de Braga zangado com a Polícia Municipal por “quase ter sido multado”

“Sabemos que a Sé de Braga é um monumento nacional e deve ser respeitado, mas é também um espaço de culto e não é admissível que quem venha à missa seja constantemente importunado”, terminou D. Jorge.

 
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