Famílias ucranianas sentem-se integradas em Guimarães

Guerra na Ucrânia
Famílias ucranianas sentem-se integradas em guimarães

Nina, Daria e Juliia chegaram a Guimarães a 15 de março com filhos menores, a dor da guerra e a incerteza, mas, passados dois meses, sentem-se integradas, com trabalho e os filhos a frequentar a escola.

Nina Kozachok, 38 anos, Vladislav e Rostislav, de 15 e 8 anos, viviam em Vinnitsa mas, assim que a guerra começou, fugiram para a Polónia, onde permaneceram alguns dias num pavilhão com “mais de 1.500 pessoas” de várias nacionalidades, “com medo e em condições humanitárias muito difíceis”.

Nina conta que foi nesse período, através do Facebook, que ficou a saber que Portugal estava a receber pessoas da Ucrânia, prometendo-lhes “trabalho, casa e escola para as crianças”.

“Isto é muito importante para quem tem dois filhos. Portugal foi o país que ofereceu as melhores condições [para acolhimento]”, diz Nina, que não conhecia o país, nem Guimarães, cidade onde chegou com outros compatriotas numa carrinha de nove lugares, com um misto de “tristeza, felicidade e incerteza” face ao futuro.

Contudo, o receio da esteticista de profissão “pelo desconhecido”, rapidamente se transformou em “boa surpresa”, a começar pelas condições que encontrou na vivenda da família de acolhimento, na freguesia de Fermentões.

“Não acreditámos: quartos preparados, mesa cheia de comida, com cereais para as crianças, o frigorífico cheio. Estou muito grata a esta família”, sublinha Nina, pela voz da tradutora que acompanhou a entrevista, realizada na casa da família de acolhimento.

Quanto aos filhos, a sua maior preocupação e a do marido, de 38 anos, que teve de ficar na Ucrânia, relata que “uma semana” após a chegada, já frequentavam escolas do concelho de Guimarães, as quais se adaptaram às necessidades destes “novos alunos”, que estão a aprender português, geografia, inglês, entre outras disciplinas.

“Foram muito bem recebidos nas escolas. O mais novo está no 2.º ano na [escola] Fernando Távora e o mais velho no 10.º ano, na [escola] Francisco da Holanda”, refere Nina Kozachok, acrescentado que o Vitória Sport Clube também se ofereceu para os receber em diversas modalidades desportivas.

Visivelmente emocionada, a mãe agradece e manifesta “profunda gratidão” à família de acolhimento e às entidades que têm ajudado a sua família nesta “fase difícil”, nomeadamente aos serviços da Câmara de Guimarães, que “estão sempre disponíveis” para apoiar, mas assume que quer ter a sua independência.

“Já tenho uma entrevista de emprego marcada. Quero trabalhar, ganhar o meu dinheiro, ter uma vida independente. Quero organizar a minha vida”, vinca Nina, para quem, o regresso à Ucrânia é, por estes dias, apenas um “desejo e um sonho”.

Quem já está a trabalhar são Daria Makarova, 34 anos, e Juliia Yehorenkova, 42 anos, amigas que fugiram com os filhos, de 14 e 16 anos, de Nikopol, cidade a cerca de 420 quilómetros da capital Kiev.

Na Ucrânia trabalhavam numa pastelaria, em Guimarães são funcionárias, com contrato de trabalho, na Unidade de Cuidados Continuados e de Média Duração e Reabilitação do Centro Social da Paróquia de Polvoreira (CSPP), na qual estão a “integrar-se muito bem”, com o ajuda preciosa do ‘Google tradutor’.

Uma colega de trabalho moldava, que está em Portugal há vários anos, serviu de tradutora na conversa com as duas mulheres, que, assim que a guerra espoletou, fugiram para Lviv, perto da fronteira com a Polónia, onde estiveram entre cinco a seis dias.

Contam que, à semelhança de Nina, com quem viajaram na mesma carinha que chegou à cidade berço a 15 de março, foi através do Facebook que obtiveram informações sobre as condições que Portugal oferecia a refugiados ucranianos, designadamente, “comida, trabalho, tudo”.

O “sossego, a tranquilidade, as paisagens” e o conselho de um amigo com ligações a Angola, foram fundamentais para que escolhessem Portugal como destino de fuga à guerra e arriscaram vir “à sorte”, sem conhecer nada nem ninguém.

Os quatro moram num apartamento que pertence ao CSPP, que vai custear as despesas relativas à habitação, durante um ano. Após esse período, será feito um contrato de arredamento, a preço acessível.

Os filhos Daria e Juliia também já frequentam escolas do concelho, onde foram “muito bem acolhidos e integrados” pelos estabelecimentos de ensino e colegas.

Questionadas sobre um possível regresso à Ucrânia, esta, parece ser, neste momento, uma realidade muito distante.

“Vivo um dia de cada vez. Amanhã não sei”, respondeu Juliia.

 
Total
0
Shares
Artigo Anterior
I liga termina hoje só com equipas do minho em campo

I Liga termina hoje só com equipas do Minho em campo

Próximo Artigo
Desde guimarães, olena dirige ‘online’ empresa de cerveja em kiev

Desde Guimarães, Olena dirige ‘online’ empresa de cerveja em Kiev

Artigos Relacionados