Uma família brasileira queixa-se de ter sido alvo de xenofobia num restaurante de Braga. As imagens de um homem, intitulando-se o “dono” e gritando “vocês vêm para aqui fazer o que querem” viralizaram rapidamente nas redes sociais, sobretudo entre a comunidade imigrante do Brasil. Entretanto, o estabelecimento repudiou a situação e garante que a pessoa em causa “não é o dono do restaurante”, mas “o proprietário do espaço”. O caso poderá seguir para a justiça.
Tudo aconteceu na passada sexta-feira, quando a família – um casal, a mãe da mulher e duas crianças, de 4 e 11 anos – estava a almoçar n’O Gato do Rio, em Este S. Pedro, Braga. No final do almoço, um grupo de pessoas mais velhas, entre as quais o homem em causa, sentaram-se numa mesa no espaço exterior, onde estava a família brasileira.
“A garota (menina) de 4 anos estava no jardim e pegou numa florzinha. Aí esse senhor foi lá e falou com ela: ‘olhe, não pode pegar flor’. E a pequena voltou para a mãe, abalada”, conta a O MINHO o casal brasileiro, que pediu para não ser identificado, lamentando, para começar, o facto de o homem ter abordado diretamente a criança em vez de chamar a atenção aos adultos na mesa.
Entretanto, enquanto pedem a conta, o homem do casal foi “com as crianças até à beira do rio”, para acalmar a menina que estava a chorar, e estavam “jogando nem era pedra, era brita, pequenina, no rio”. Nessa altura, o senhor aborda-os dizendo que não podem atirar pedras ao rio.
“Peço desculpas, a gente não faz mais isso, estávamos voltando para a mesa, quando chegou a minha sogra e diz-lhe: o senhor, por favor, cuida dos seus netos, a gente cuida dos nossos”, conta o queixoso, referindo que é aí que o homem se “transforma” e começa a agir de forma ríspida. E, por isso, nesse momento, começa a gravar a cena com o telemóvel – vídeo que foi parar às redes sociais, mas entretanto eliminado.
“Vocês vêm aqui e fazem o que querem”
“É o trecho da imagem que foi visto, com ele expulsando a gente e se apresentando como dono. [Nós respondemos] ok, a gente vai embora, inclusivamente não voltamos mais, apesar de ser um restaurante da nossa eleição. Ele estava discursando, começou a subir no palanque e a discursar: ‘Vocês vêm aqui e fazem o que querem’. Vocês quem? De quem está falando? Está falando comigo, com a criança que mandou a pedra, com quem?”, questiona o homem.
“Ali começou uma humilhação em público totalmente desproporcional a uma chamada de atenção de ‘por favor não jogue pedra no rio'”, lamenta.
“Entrámos no restaurante, os funcionários extremamente constrangidos e envergonhados, até porque eles me conhecem, sou cliente da casa, pedindo mil desculpas”, conta, acrescentando que pediu o livro de reclamações. “Disseram: ‘você vai prejudicar o restaurante, ele não é o dono, é o pai do dono’. Mas eu não posso ser humilhado em público e me calar”.
E aí o proprietário do espaço volta a entrar no restaurante intimando a família: “Quem é que vai fazer reclamação, isso é um absurdo, quem vocês pensam que são?”.
É então que o homem do casal ligou para a polícia e, quando foi atendido, “o senhor foi embora”.
Advogados estão a delinear “estratégia”
Tanto o homem do casal, como a sogra, escreveram no livro de reclamações.
Para o casal, não subsistem dúvidas de que se tratou de um caso de xenofobia. “Acho que ele se estava a referir aos brasileiros. A gente ouve muito isso. E foi também por isso que viralizou nas redes”, salienta a mulher.
Entretanto, o casal entregou o caso aos advogados que estão a estudar a “estratégia” a ser seguida.
“Não é dono do restaurante, mas sim proprietário do espaço”
Após o caso ter sido tornado público, o restaurante fez um comunicado na sua conta de Instagram em que repudia “veementemente todo e qualquer ato de racismo, xenofobia ou que vise ofender ou ostracizar qualquer pessoa”.
O Gato do Rio salienta que “o lamentável episódio sucedido na passada sexta-feira, 13 de maio, na esplanada do nosso estabelecimento não foi protagonizado pelo dono do restaurante, mas sim pelo proprietário do espaço”.
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“Esclarecemos que o proprietário não possui qualquer poder e autoridade nas atividades conduzidas pelo restaurante O Gato do Rio, quiçá para proibir ou criticar quaisquer atividades ou atos dos nossos clientes”, reforça o comunicado.
E desenvolve: “Recebemos diariamente pessoas de diversas nacionalidades e agimos sempre de forma atenciosa, amável e profissional, visto ser um dos lemas da nossa casa receber os clientes como se parte da nossa família fossem”.
“Temos como prioridade a satisfação e bem-estar dos nossos clientes, de modo a proporcionar momentos inesquecíveis na nossa companhia e espaço. Nos solidarizamos com a família envolvida, e toda a comunidade, nos colocando a disposição para o que for necessário. Um ato isolado não deve ser atribuído ao estabelecimento O Gato do Rio, nem aos seus colaboradores, que connosco compartilham dos mesmos princípios e valores de excelência”, refere a gerência d’O Gato do Rio, reafirmando que “não se revê em qualquer atitude de teor xenófobo ou desrespeitosa para com qualquer pessoa”.