Famalicão é cidade há 39 anos: “Temos sido capazes de crescer”

Entrevista a Mário Passos
Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão. Foto cedida a O MINHO

No dia em que Famalicão celebra 39 anos de elevação a cidade, o presidente da Câmara, Mário Passos, aborda algumas temáticas relacionadas com as recentes obras no centro, com o ambiente e património e ainda, a nível global, sobre o estado atual da política.

Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão. Foto cedida a O MINHO

Obras

O MINHO: O mercado municipal foi alvo de uma enorme requalificação e tem vencido vários prémios pela sua arquitetura e funcionalidade. O que mais destaca nesta obra?

Mário Passos: Destaco a forma como conciliou a modernidade com a tradição. No que diz respeito à arquitetura da obra esse foi o grande desafio e penso que foi muito bem conseguido. Essa ligação entre passado, presente e futuro é bem evidente e temos seguramente um dos mercados mais bonitos do país. 

Destaco também as novas vivências sociais que esta intervenção trouxe para o Mercado Municipal, para quem quer comprar, mas também para quem se quer divertir, comer bem, conviver e desfrutar de uma programação cultural, etc…

A Praça Dona Maria II e o centro de Famalicão foram renovados. É esta a maior obra do legado Paulo Cunha/Mário Passos? Se sim, porquê? Se não, diga-nos qual foi.

A renovação do centro urbano da cidade foi, sem sombra de dúvida, uma das obras mais impactantes que já tivemos até hoje. Há claramente uma cidade antes e depois desta intervenção, mas Famalicão não é só cidade e eu acredito que todos os projetos e investimentos, do mais pequeno ao mais avultado, são importantes para o dia a dia dos famalicenses. 

A renovação do centro urbano tem sido tão impactante, como certamente será a construção da Vila – Residência de Estudantes, do Centro de Atletismo, dos novos centros de saúde que estamos a construir e a requalificar, das obras de renovação do parque escolar, como é o caso dos 21 milhões que representam a requalificação e ampliação da Secundária da vila de Joane, entre tantas outras obras, projetos e medidas que vão impactar positivamente a qualidade de vida dos famalicenses.  

Temos sido capazes de crescer, de nos desenvolvermos em todas áreas de governação sem hipotecar o futuro dos famalicenses e das gerações vindouras e este é o maior legado que qualquer autarca pode deixar. 

A EN 14 foi alargada em direção a Braga. Era uma obra necessária para escoar trânsito? 

Era uma obra necessária para possibilitar o crescimento da cidade para Norte. Esta intervenção permite-nos também organizar e escoar o trânsito, adequar a via aos modos suaves de transporte, melhorar as condições de segurança dos peões e valorizar uma das principais portas de entrada na cidade. 

Essas mesmas obras propiciaram a instalação de um hipermercado e já está outro em fase de conclusão. É estratégia aproveitar estas obras públicas para acompanhar investimento privado?

É verdade que esta intervenção cria mais espaços comerciais na cidade, mas também cria mais habitação, mais emprego e mais espaços verdes, uma vez que veio permitir o prolongamento do Parque de Sinçães.

A estratégia é que qualquer intervenção – seja ela pública ou privada – resulte no desenvolvimento do concelho e é isso que está a acontecer. 

Descreva a importância para Famalicão das seguintes obras: Casa das Artes, Parque da Devesa e Ciclovia Famalicão-Póvoa de Varzim. 

Todas as obras que menciona foram estruturantes para o território, para elevar a sua qualidade de vida e para qualificar a nossa marca. 

A Casa das Artes é uma das mais conceituadas salas de espetáculo da região e do país e tem desenvolvido um enorme trabalho tanto ao nível da formação de públicos, como ao nível do apoio à criação artística. 

O Parque da Devesa é um dos ex-libris de Famalicão, tanto do ponto de vista cultural, social, desportivo e ambiental. É o pulmão verde da cidade. 

A Via Ciclo-Pedonal Famalicão-Póvoa é um belíssimo exemplo de recuperação de património. Percorrê-la é embarcar numa viagem pela natureza, mas é também viver um conjunto de experiências pela história, património, tradições e memórias coletivas. 

Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão. Foto cedida a O MINHO

Cultura

Foi vereador do associativismo e do desporto e conviveu de perto com todas as associações do concelho. Acha que Famalicão preserva a sua identidade? A chegada de outras culturas às nossas freguesias pode ameaçar isso ou estamos bem preparados culturalmente para que a identidade famalicense e minhota prevaleça no território e possa conviver de igual modo com as culturas externas? 

Acho que não devemos olhar para a interculturalidade como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade. Temos que trabalhar para promover a nossa cultura, as nossas tradições, a nossa identidade e temos que saber receber bem e dar todas as condições para que quem escolhe Famalicão para viver se sinta em casa. Somos cidadãos do mundo e temos que saber viver bem com a diferença, aproveitá-la e crescer com ela. 

Falou-se nos corredores do poder que a cidade de Famalicão poderia voltar a ter várias salas de cinema, nomeadamente num dos hipermercados instalados. Vê essa possibilidade com bons olhos e crê ser possível, uma vez que já existiram os cinemas Town e os de outro hipermercado e todos estes fecharam.  

Veremos sempre com bons olhos essa possibilidade, mas é preciso desmitificar aqui uma ideia. Famalicão pode não ter a convencional sala de cinema dos centros comerciais, mas isso não quer dizer que em Famalicão não haja cinema. A Casa das Artes tem uma programação regular de cinema na sua agenda mensal. Nestes meses de julho e agosto, por exemplo, há cinema ao ar livre no Parque da Devesa. O cinema está muito presente na dinâmica cultural do concelho, basta folhear a nossa agenda cultural mensal para ver isso mesmo…

Ambiente e património

A questão da instalação de painéis solares em Outiz, levando à desmatação de uma quantidade significativa de árvores. A situação é bem visível para quem conhecia a paisagem e ainda hoje deixa marcas em quem sempre por ali viveu. Acha que a Câmara esteve bem neste processo? Não havia alternativa que não a desmatação de tanta floresta? 

Acho que não é uma questão de estar bem ou estar mal. Existem diretrizes nacionais e europeias para a criação de parques fotovoltaicos que nos permitem produzir energia verde. Este é um projeto que teve parecer favorável de todas as entidades e a Câmara Municipal atuou seguindo aquilo que está determinado na legislação atualmente em vigor. Demos o nosso contributo para o desafio da descarbonização ao abrigo da legislação nacional. Aqueles que ainda não o fizeram vão ter que o fazer também.

Mário Passos, presidente da Câmara de Famalicão. Foto cedida a O MINHO

Famalicão ainda tem várias fábricas devolutas, sobretudo relacionadas com têxtil. Uma delas encontra-se na EN 14, entre Calendário em direção à Trofa. Há algum plano municipal para ajudar a recuperar estes edifícios, ou demoli-los? 

A Câmara Municipal tem rastreado todo os espaços industriais devolutos e na sua dinâmica com investidores/proprietários procura ajudar à reabilitação dos mesmos. Mas há uma coisa que a Câmara Municipal não consegue fazer que é obrigar os privados a mudarem aquilo que é deles quando não ameaçam ruína, nem oferecem perigo para a saúde pública e para a segurança das pessoas. 

Recentemente foi criada uma zona fluvial no rio Este em Cavalões e o mesmo está em comunhão com o Parque de Campismo de Gondifelos, onde até já se realizaram festivais de verão. Acha que o rio Este poderia ser mais aproveitado nas restantes freguesias em Famalicão por onde passa? 

A Câmara Municipal tem muito trabalho feito nesta área: vamos assinar em breve um protocolo com a APA para a recuperação da figura do Guarda-Rios e estamos a requalificar e a reabilitar a nossa bacia hidrográfica. Só no último ano, investimos mais de 1,2 milhões de euros e devolvemos aos famalicenses mais de 20 quilómetros de zonas ribeirinhas totalmente recuperadas. 

Aquilo que posso assegurar é que o esforço que temos feito até agora para zelar pelos nossos rios, proteger a biodiversidade e oferecer à comunidade lugares onde se podem conectar com a natureza e apreciar a sua beleza é para manter. 

Rio Este nasce em Braga e cruza a zona Noroeste de Famalicão. Foto: DR

Futuro

Já foi anunciado por entre os corredores como recandidato nas próximas eleições. Caso isso aconteça, o que é que acha que ainda pode fazer por Famalicão que ainda não foi feito. 

Os famalicenses têm uma característica muito boa que ajuda a explicar muito do nosso crescimento e desenvolvimento ao longo dos anos. Somos insatisfeitos por natureza, vamos sempre à procura de fazer mais e melhor e eu não sou exceção. O trabalho de um autarca nunca está acabado. Os desafios vão mudando, a realidade vai mudando e há sempre muita coisa e coisas novas para fazer. Mas mais do que obra feita, aquilo que é realmente importante assegurar é que nenhum famalicense fique para trás e que estejam a ser construídas bases para um futuro próspero. 

Política

Como vê a mudança de cor do Governo. Crê que uma liderança da AD pode ser favorável para os destinos de Famalicão ou até do distrito de Braga, onde PSD e CDS ainda se encontram bastante enraizados? 

Historicamente, sempre mantivemos boas relações com os diversos Governos que têm liderado o nosso país e é com essa mesma atitude de colaboração construtiva que continuaremos a trabalhar para assegurar que as necessidades e justas aspirações de Vila Nova de Famalicão sejam atendidas com rigor e compromisso.

Mário Passos em campanha em 2021. Foto: DR

Receia o crescimento de partidos extremistas e crê ser possível que cheguem à liderança de uma Câmara Municipal? Vê o crescimento com apreensão ou crê que todos os partidos têm liberdade para cativar o eleitorado, independentemente daquilo que dizem?

A pluralidade partidária não me assusta, pelo contrário, acho que é bem-vinda e é a base de qualquer democracia. Acima de tudo, e independentemente da nossa preferência partidária, temos que ser todos militantes da verdade e da tolerância, combatendo o populismo que cresce baseado na disseminação da mentira, da falsidade e ideias preconceituosas. 

Vê os jovens de Famalicão interessados em política? Se sim, dê exemplos. 

Os jovens famalicenses são muito bem informados, atentos à realidade que os rodeia, com muita curiosidade e vontade de participar na vida pública e, sobretudo, preocupados com os problemas e desafios que a sua geração enfrenta. Ainda recentemente pude confirmar isso no Meeting Democrático que promovemos com os jovens do concelho, a propósito dos 50 anos do 25 de Abril. 

Na realidade o que me preocupa não são os jovens, mas sim que o país não seja capaz de dar resposta aos seus problemas. No que toca à Câmara Municipal só lhes posso garantir que estamos a trabalhar para que possam crescer em pleno e ver os seus projetos pessoais e profissionais bem-sucedidos. 

 
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