Os ex-guardas da GNR do Sameiro que estão a ser julgados pelas acusações de abuso de poder e violação de segredo por funcionário, vão falar sobre a acusação impendente sobre ambos, durante a próxima audiência, após se terem remetido ao silêncio, uma vez que os arguidos pretendem dar a sua versão dos factos e na sua perspetiva esclarecer a situação.
Duarte Valadar e Bruno Rodrigues estão a ser julgados, pelo Tribunal Criminal de Braga, acusados de terem avisado o dono de um café, na freguesia de Sobreposta, em Braga, que o iriam fiscalizar, na sequência de uma denúncia, pelo funcionamento ilegal e clandestino do seu estabelecimento, tendo de seguida alegadamente retaliado contra um comerciante que tinha feito a participação na GNR, bem como contra a sua esposa, acabada de chegar do Serviço de Urgência do Hospital de Braga, maltratando esse casal idoso, segundo foi já testemunhado por outro cidadão que se queixou do caso, no Posto Territorial da GNR do Sameiro, com vergonha alheia daquela situação.
A idosa proprietária do café em situação legal entrou em pânico, com os dois guardas, Duarte Valadar e Bruno Rodrigues, a entrar pelo estabelecimento e aos berros, ameaçando sempre o casal de avançada idade, segundo a acusação do MP, ao ponto de gritarem que iriam chamar a ASAE, o que foi já testemunhado neste julgamento.
Este caso, ocorrido em 8 de maio de 2018, levou a que outros militares do Posto da GNR do Sameiro, começassem anonimamente a fazer sair várias “notícias”, contra o então seu comandante direto, precisamente o 1.º sargento Hélder Branco, porque, descontentes com o facto de os dois camaradas terem sido transferidos, por decisão do comandante distrital, tentaram uma espécie de “levantamento de rancho”, que nunca conseguiram concretizar.
Ex-comandante diz que erraram
Entretanto, o mesmo ex-comandante do Posto Territorial da GNR do Sameiro, 1.º sargento Hélder Branco, no início da audiência desta segunda-feira, explicou que ambos os guardas deste posto cometeram irregularidades contra as normas internas da GNR, porque nunca poderiam fiscalizar um estabelecimento comercial, à revelia de um plano para esse efeito, o que teria que passar sempre pelo Posto, Destacamento e Comando Territorial de Braga.
A “forma agressiva e deselegante” como a fiscalização, desprovida de qualquer auto, foi feita, levou o responsável a participar a situação ao escalão superior da Guarda Nacional Republicana, em Braga, que por sua vez transferiu imediatamente aqueles dois militares.
O atual comandante do Posto da GNR da Póvoa de Lanhoso deu conta às magistradas, a juíza de Direito e a procuradora da República, que o facto de terem fiscalizado sem darem conta a ninguém, antes, durante e depois, sendo errado, levaria a que os repreendesse, em privado, mas face às suspeitas, de avisarem o denunciado e humilharem o denunciante, o que é sustentado pela acusação do Ministério Público, participou a situação superiormente o caso, que levou à transferência preventiva dos dois guardas, que tendo deixado de fazer parte do efetivo da GNR do Sameiro, nunca foram proibidos, nem poderiam ter sido, de entrar mais naquelas mesmas instalações, conforme revelou o 1.º sargento Hélder Branco.
“Não averbaram qualquer informação que tinham ido ao café, a propósito de o fiscalizar, eu soube por um cidadão que eles tinham ido lá, depois o denunciante contou-me que eu tinha ‘informadores’ dentro do Posto do Sameiro, pois assim que telefonara para a GNR, viu os clientes a saírem apressadamente e o explorador da café a fechar as portas a correr”, disse o 1º sargento Hélder Branco, que então tratou de investigar todas as circunstâncias.
O mesmo graduado da GNR contou que já outro dia foi ao mesmo café clandestino, mas com outros militares, “tendo apanhado os clientes a fugir pelas traseiras e o proprietário a fechar tudo à pressa, mas desta vez foram todos identificado, eram sete, porque um dos militares que levei comigo já estava à espera deles precisamente pela zona das traseiras”.
Por outro lado, o comportamento dos dois guardas, Duarte Valadar e Bruno Rodrigues, a desistir à última hora de almoçarem dentro do Posto da GNR do Sameiro a refeição que estava a ser confecionada, carinhosamente, pelo guarda Manuel Andrade, para todos eles, deixou intrigado o 1º sargento Hélder Branco, que depois relacionou melhor as coisas, ao saber que ambos terão ido almoçar a um restaurante propriedade de pessoas próximas do explorador do café clandestino, que terá sido assim avisado que iria ter uma fiscalização.