Andreia Ferreira tem 40 anos. Margarida Gonçalves tem 50. Em comum partilham a admissão para diferentes licenciaturas da Universidade do Minho, para o ano letivo de 2020/21. Mas não é só. Ambas entraram na academia com a nota máxima no exame nacional – 20.
O MINHO falou com as duas novas estudantes que pretendem conciliar o curso com a vida profissional, pessoal e social, embora admitam que não será tarefa fácil.
Margarida e “um sonho de sempre”
Margarida é de São Vicente, em Braga, e acarreta um sonho “desde sempre”: “tirar uma licenciatura”. Em confinamento devido à pandemia de covid-19, sem poder exercer o seu trabalho (Margarida e o marido são proprietários do café Tropinha, em Braga), decidiu voltar a estudar para realizar o sonho almejado e obter uma formação que poderá ser útil, caso seja novamente necessário trabalho a partir de casa. “Ou seja, precisava de obter outra forma de sustento”, clarificou.
Como primeiro passo, analisou os cursos existentes e acabou por optar por Línguas Aplicadas. Pesquisou formas de ingresso e resolveu increver-se no exame nacional de Alemão, na secundária da Póvoa de Lanhoso, uma vez que em Braga não havia esse exame. E conseguiu a nota máxima.
Segredo? Não há. Ou melhor, trata-se de experiência, uma vez que Margarida fez todo o percurso escolar na Alemanha, onde os pais foram emigrantes. “Não estava à espera de ingressar com nota 20”, diz, mas admite que “estava confiante, sim , em ter uma excelente nota”.
Para o futuro, ambiciona “concluir com sucesso a licenciatura” e, com a mesma, “poder realizar alguns projetos a nível profissional”. Para isso conta com ajuda e apoio da família e amigos durante os anos de curso, sabendo que terá de se “esforçar muito” para o concluir.
A escolha pela UMinho não foi fortuita. Para além de ser a academia mais reputada na região do Minho, o factor de se tratar de uma universidade “de referência e excelência a nível nacional” aliado ao facto da filha estar no terceiro ano de Psicologia daquela academia levou à escolha de Margarida. A filha será “uma grande ajuda”, conclui.
Para Margarida, conciliar estudo e trabalho não é novo. Entre 1988 e 1994, concluiu do 7.º ao 11.º ano na Escola Secundária Alberto Sampaio (Braga) no Curso Complementar de Contabilidade e Administração pela via de ensino do 1.º curso em regime nocturno na condição de estudante trabalhadora. Acabou por concluir o 12.º ano em 2010, na Escola Secundária de Maximinos.
Andreia tirou nota 20 em Economia
Quem também terminou o 12.º mais tarde para agora ingressar na UMinho com nota máxima no exame nacional foi Andreia Ferreira, de Pevidém, concelho de Guimarães.
Deixou a escola secundária ao 11.º ano para trabalhar, mas acabou por concluir o ensino secundário através das Novas Oportunidades. Seguiu-se um curso de informática que a levou a trabalhar numa empresa na área de administração e assessoria financeira. “Acabei por ganhar o gosto”, confidencia.
“A empresa não estava muito estável e fui para o desemprego, onde aproveitei para tirar um curso de técnico de contabilidade que terminou em 2019”, expõe.
E se Andreia já tinha o gosto pela área, este novo curso acabou por ser um incentivo, sobretudo graças aos formadores, para que ingressasse na vida académica.
Tentou entrar na UMinho no ano passado, através dos maiores de 23, mas a média de 15,2 não chegou para entrar na licenciatura pretendida – Contabilidade. “Eram quatro vagas e eu fiquei em sexto”, lamenta.
Sem baixar os braços, Andreia resolveu tentar a sorte via exame nacional de Economia. Estudou o ano todo e, diz, “pronto, consegui tirar 20”.
“Acho que quando queremos algo e nos esforçamos, acabámos por conseguir. Sou casada, tenho um filho, casa para olhar, trabalho. Fui aproveitando os fins de semana e as noites para estudar”, conta, explicando que “não existem segredos”, mas sim trabalho.
Para esta nova etapa, conta com ajuda da família, da empresa e dos amigos. “Agora vou conciliar novamente trabalho e família com esta nova etapa, mas não tenho receio, a entidade patronal vai facilitar a nível de horários e a nível familiar, o marido vai ajudar”, prevê.
Sobre um possível ‘choque’ com a vida de universitário, confessa “não ter noção” do que a espera. “Sei que vou com disposição para trabalhar e continuar a tirar boas notas para acabar o curso com uma boa média”. Depois, ainda não sabe, mas certamente será uma pessoa mais realizada do que hoje.