A Câmara Municipal de Braga vai brevemente limpar a Estátua do Cónego Melo, em São Vicente, esta semana novamente pintada com tinta vermelha, fazendo igualmente alusões ao processo judicial do Padre Max, sacerdote vítima de um atentado à bomba há 40 anos na aldeia de Cumieira, em Vila Real, após ter concorrido como independente pela UDP nas primeiras eleições para a Assembleia da República, promovidas em 1976.
O caso judicial de que Eduardo de Melo Peixoto nunca foi acusado, apesar de ter sido na década de 1990 constituído arguido, pelo Ministério Público de Vila Real, é uma das situações ainda hoje misteriosas do chamado período do “Verão Quente” ou do PREC (Processo Revolucionário em Curso), que agitou Portugal nos anos de 1975 e 1976, logo a seguir à Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, que instaurou democracia.
No seio da própria maioria camarária PSD/CDS-PP houve grandes divisões, aquando da contestação à estátua, com o vereador independente Miguel Bandeira a votar contra e os vereadores centristas Altino Bessa e Lídia Dias votando a favor, perante a abstenção de Ricardo Rio, tendo sido a minoria socialista então liderada por Vítor de Sousa que então ratificou a colocação do monumento. Mas, mesmo assim, a então vereadora do PS Luísa Cruz faltou propositadamente à reunião camarária e alegadamente para não votar contra.
Ricardo Rio, então ainda candidato a presidente da Câmara Municipal de Braga, evitou sempre a polémica, não se manifestando nem contra, nem a favor, assim como o próprio arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, face à iniciativa da comissão promotora da estátua, então liderada pelo comerciante e industrial José Pinto Cardoso (“Cardoso da Saudade”) e que integrava uma comissão de honra com centenas de apoiantes daquele monumento.
Miguel Bandeira, então candidato independente em lugar elegível participou também na grande manifestação de protesto contra a instalação da estátua na rotunda, situada junto ao Cemitério de Braga, ao lado de dirigentes históricos do PCP e do Bloco de Esquerda, na tarde de 8 de junho de 2013, com muitas dezenas de pessoas, oriundas de todo o país.
A aprovação da estátua, em maio de 2013, ainda no Executivo de Mesquita Machado foi justificada pelo então presidente da Câmara “por o Cónego Melo ter sido um bracarense dos sete costados”, além de que a iniciativa “não custa um só cêntimo” para a Câmara Municipal de Braga e “vai ao encontro de um movimento já com mais de mil cidadãos”.
Mas a estátua foi logo vandalizada, também com tinta vermelha e alusões ao processo do Padre Max, na mesma semana em que foi inaugurada, em meados de agosto de 2013.