Rui Manuel Marinho Rodrigues Maia
Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
A Estação dos Caminhos de Ferro de Viana do Castelo é um verdadeiro hino à Arte, à beleza e ao equilíbrio. Obra sobremaneira perfeita e bem integrada na Princesa do Lima, cuja inauguração ocorreu em 1882, a reboque de um Novo Paradigma que paulatinamente se instalava no país desde 1856 (os Caminhos de Ferro), subsiste como elemento estrutural da urbe há 143 anos.
A imagem da Estação é de 1897, contando na época com década e meia de serviço, notando-se profundas diferenças relativamente à hodiernidade, sobretudo defronte da mesma, onde se vislumbra um patamar elevado com escadaria que permite o acesso, bem como um grande largo, alvo de transformações sucessivas face às necessidades emergentes do urbanismo e da mobilidade.
Trata-se de uma Estação ferroviária que contempla coberturas em ferro, quer na parte frontal, em ambos os lados e de menor dimensão, quer na retaguarda, cuja cobertura se estende por toda a sua lonjura. Não obstante, a região do Minho foi consagrada com inúmeros elementos representativos da Arquitetura do Ferro, características de Oitocentos, em que a leveza e a elegância se manifestam em todos os sentidos.
A Ponte Eiffel de Viana do Castelo sobre o rio Lima (1878) é a Obra de Arte mais expressiva dessa corrente na região, pese o facto de existirem outras e outras tantas que desapareceram.
Ao longo da Linha do Minho contavam-se algumas Obras de Arte da Casa Eiffel & Cia, como a extinta Ponte ferroviária do rio Cávado (1878), logo a montante desta, existia a Ponte ferroviária sobre o rio Neiva (1878), mais a montante, na cidade de Viana do Castelo, a referida Ponte Eiffel, com os seus arrojados viadutos, cumprindo não apenas a missão de levar os comboios, mas também a rodovia no seu tabuleiro superior, tratando-se da única da Casa Eiffel & Cia com essa ambivalência.
Dirigindo-nos desse ponto para norte, encontrávamos a Ponte ferroviária sobre o rio Âncora (1878), em Caminha que, apesar de não ter desaparecido após ser substituída, encontra-se abandonada há décadas no estaleiro de uma empresa da Póvoa de Lanhoso. Ainda em Caminha, também de vocação ferroviária, embora da autoria da firma francesa Fives-Lille, temos a Ponte sobre o rio Coura (1879), exemplar original dessa Arquitetura, seguindo daí para montante temos a Ponte rodoferroviária de Valença do Minho (1886) ligando a Tui, na vizinha Galiza, da autoria de Pelayo Mancebo y Ágreda, engenheiro espanhol e português, que desenhou uma das mais belas Pontes de dupla função na região do Alto Minho, símbolo da união hodierna entre os dois povos raianos. A Ponte difere da de Viana do Castelo, na medida em que foi executada para suster a ferrovia no tabuleiro superior e a rodovia no inferior, sucedendo o contrário na Ponte Eiffel de Viana do Castelo.
Apesar de todas essas obras de Arte não se inscreverem naquela que é considerada Art Nouveau (Arte Nova), importa referir que essa corrente surgiu associada ao mundo industrial no último quartel de Oitocentos, sendo a Europa um dos continentes onde mais se nota a sua influência.
A Arte do Ferro conjugada com a alvenaria é uma das suas características, onde se vislumbram formas naturais, como flores ou plantas, como também as linhas curvas. Talvez não seja despiciendo aduzir que a Arte Nova é uma consequência da Revolução Industrial, resultado dos avanços da ciência e da técnica.
A Estação dos Caminhos de Ferro de Viana do Castelo é o expoente máximo do seu tempo, de um tempo que segue os seus caminhos, de transformação e progresso.
Quando o progresso se verga àquilo que outros querem, arbitrariamente, esse progresso não é para todos, embora a todos acometa. Isso sucede com a velha Estação, idealizada para todos, em vias de ser para alguns, para “inglês ver”. Por muito que lutemos pela preservação do nosso património cultural, pela sua universalização, há coisas que nos entorpecem, mas que, todavia, com o tempo as compreendemos, e com elas o valor, ou a falta dele, nas palavras de quem diz defendê-lo.
Porém, como somos um país falido, andamos sempre de mãos dadas com a subsidiodependência, razão pela qual as instituições do Estado também se valem da iniciativa privada para “preservar” o nosso património cultural, como é o caso da IP – Infraestruturas de Portugal, outrora REFER (1997-2015).