O mítico bar do Fojo já desapareceu da paisagem de Fão, em Esposende.
A demolição do emblemático espaço, implantado desde 1974 na margem do rio Cávado, estava suspensa desde setembro de 2024, quando o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Braga aceitou uma providência cautelar interposta pela família do falecido proprietário, Sérgio Cardoso.
Porém, recentemente, o tribunal deu luz verde à demolição e, ao que O MINHO apurou, no passado dia 19, a parte do bar, que ainda se mantinha de pé, uma vez que toda a envolvente já tinha sido demolida, também já foi abaixo.





Bar “ilegal”
A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) justifica a demolição por considerar que o Fojo está ilegal e constitui um foco de insalubridade e de risco ambiental.
Em resposta escrita enviada à Lusa, em setembro do ano passado, a APA referia que o bar “não possui qualquer título válido que permita ocupar o espaço” do Domínio Público Hídrico, pelo que “se encontra em situação ilegal”.
Acrescenta que a sua legalização não é possível, por se considerar que a sua manutenção ou reabilitação “iria constituir um risco para pessoas e bens, face ao risco de inundação e por constituir um obstáculo significativo ao exercício do direito de servidão marginal, que estabelece a titularidade dos recursos hídricos”.
Segundo a APA, o bar situa-se em área de “risco potencial significativo de inundação”.
Sérgio do Fojo era pescador, poeta e trovador
O bar em causa foi, durante quatro décadas, um local de tertúlias e de momentos bem passados, graças ao carisma do proprietário, Sérgio do Fôjo, pescador, poeta e trovador.
Nos últimos anos, tem estado fechado, sendo que, entretanto, o proprietário morreu.
A APA procedeu a uma vistoria ao local, em conjunto com outras entidades com jurisdição na área, tendo verificado o “completo estado de abandono e o elevado estado de degradação” do bar, que atualmente constitui “um foco de insalubridade e de risco ambiental, face aos resíduos existentes, nomeadamente materiais contendo amianto.
A APA diz que, ponderadas todas as circunstâncias, optou pela demolição total da área edificada, pela remoção da vegetação, essencialmente espécies infestantes, e limpeza e pela requalificação do local.
Os materiais contendo amianto serão encaminhados para destino adequado limpeza e requalificação do local.
A APA não esclareceu como foi possível o bar ter funcionado ilegalmente durante décadas e se, entretanto, foi aplicada alguma sanção ao proprietário pela implantação à margem da lei.
Espólio fotografado e devolvido à família
O presidente da Câmara de Esposende na altura e atualmente presidente do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), Benjamim Pereira, explicou que a operação de demolição do bar e limpeza do local seria assegurada pelo município, ao abrigo de um protocolo com a APA, com o valor 50 mil euros.
Segundo o autarca, a APA vai ressarcir o município naquele montante.
O ex-autarca sublinhava, naquela ocasião, que o município não tem qualquer jurisdição sobre o espaço em questão, vincando apenas que o edifício “nunca teve qualquer licença”.
Afirmava ainda que todo o espólio existente no bar foi fotografado e retirado do edifício, para ser devolvido à família de Sérgio do Fojo, assim era conhecido o seu fundador.

“Propusemos à família a publicação de um biografia do Sérgio do Fojo, a organização de um ‘festival das nortadas’, a implantação no local de uma escultura ou mural para perpetuar o nome do proprietário do bar e a atribuição de uma verba para o município ficar na posse do espólio para futura exposição, mas todas as propostas foram rejeitadas”, vincava então Benjamim Pereira.
Em 2015, numa altura em que Sérgio do Fôjo ainda era vivo, já tinha sido tornada pública a intenção da APA de demolir o bar, o que provocou alguma contestação popular, face ao valor afetivo do bar.
O assunto acabou por ficar em banho-maria, até que, nos primeiros dias de setembro de 2024, os trabalhos avançaram, com o abate da vegetação e de algumas árvores que Sérgio do Fôjo terá plantado no local para dar sombra aos clientes do bar. A demolição ficou, agora, completa, apesar da contestação da família.
Com Lusa