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Mostra de Ensino e Formação Profissional PESSOAS 2030
Nos dias 13, 14 e 15 de novembro decorreu, no Europarque, em Santa Maria da Feira, a Mostra de Ensino e Formação Profissional do PESSOAS 2030.
Durante três dias, 31 escolas de diferentes regiões do país apresentaram a oferta de cursos que têm em áreas tão diversas como a indústria 4.0, sustentabilidade, competências digitais e multimédia, mecânica, turismo, hotelaria, restauração, cultura e património, agricultura e agropecuária, comércio e serviços.
Durante a inauguração, Andriana Sukova, diretora-geral adjunta dos Fundos para a Transição Justa e Análise, Ana Coelho, presidente da Comissão Diretiva do PESSOAS 2030 e Domingos Lopes, presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional, assim como a restante comitiva, tiveram oportunidade de apreciar alguns dos projetos mais emblemáticos do que se faz em cada escola, conversar com os alunos e com os professores. Ficou claro que o ensino profissional atrai alunos brilhantes e que o mercado precisa de pessoas com este tipo de qualificações.
A visita estendeu-se ao 46º Campeonato Nacional das Profissões, onde os melhores alunos do ensino profissional competem por um lugar no EuroSkills, na Dinamarca, em 2025 e que decorreu em paralelo no Europarque.
Ao longo da visita à Mostra de Ensino e Formação Profissional, Andriana Sukova, Ana Coelho e Domingos Lopes inteiraram-se de projetos e conversaram com alunos e professores.
Foi o caso de Rafael Martins, de 18 anos, finalista do curso de Técnico de Gestão de Equipamentos Informáticos, na Escola Secundária de Vilela, que mostrou o seu trabalho de final de curso: a maquete de uma moradia, à escala, totalmente equipada com um sistema de domótica que aciona as luzes, os estores e a porta da garagem. Todos os equipamentos podem ser controlados localmente ou através de uma aplicação no telemóvel.
O aluno foi responsável não só pela programação do software, mas também pela parte eletrónica e mecânica e até pelo corte das peças em torno CNC para fazer o modelo da casa.
Albino Pereira, o diretor da escola onde Rafael está prestes a formar-se, indicou que estes alunos têm uma alta taxa de empregabilidade e Fernando Pinho, o diretor do curso, disse que o que o deixa orgulhoso “não são os que vão para as grandes empresas, mas os que estão a empurrar as pequenas e microempresas para adotarem soluções tecnológicas”.
Encaminhar os jovens para as suas vocações
O PESSOAS 2030 dedica-se a apoiar medidas de política pública que permitam enfrentar os desafios das qualificações da população, do emprego e da inclusão social. Andriana Sukova destacou o facto de o Fundo Social Europeu, que apoia o Pessoas 2030, ser, “desde 1957, o único instrumento da União Europeia (UE) para investimento nas pessoas”.
A responsável da Comissão Europeia (CE) sublinhou que o que se pretende é “ajudar os jovens a encontrarem o seu caminho profissional e a seguirem as suas vocações”.
Em Matosinhos, na Escola Profissional Ruiz Costa, leva-se o mote de orientar vocações muito a sério. Esta escola levou à Mostra de Ensino e Formação Profissional um jogo de arcada a lembrar as máquinas que se encontravam nos cafés nos anos oitenta, uma forma de os alunos envolvidos demonstrarem capacidades na área da programação, mas também na parte de hardware.
Outros alunos, do curso de Gestão de Equipamentos Informáticos, propõem um sistema de sensorização das estradas do interior, onde passam poucos carros, para que a iluminação pública só se acenda quando se aproximam viaturas.
Uma aluna do curso de Design Digital 3D criou um jogo de tabuleiro que ajuda a conhecer a cidade do Porto, as peças são a Casa da Música, a Ponte D. Luís, um barco rabelo ou uma garrafa de vinho do Porto. Dulce Sousa, diretora desta escola, afirma que “a taxa de empregabilidade dos cursos ronda os 80%”.
Vão estagiar para o estrangeiro e são convidados para ficar
A empregabilidade destes cursos profissionais é confirmada por Jorge Vieira da Silva, diretor da Escola Tecnológica, Artística e Profissional de Pombal (ETAP), a instituição deste género mais antiga do país que, desde 1989, já formou mais de 12 mil jovens.
O professor dá o exemplo de três alunos que foram estagiar para a Alemanha, ao abrigo do programa Erasmus. “Tiveram uma classificação de 20 valores e foram imediatamente convidados para ficarem lá”. Neste caso, não ficaram porque ainda não tinham completado a formação e voltaram a Portugal para o fazerem, mas já sabem que têm mercado.
A Europa precisa de mão-de-obra com este tipo de qualificações e é por isso que o PESSOAS 2030 vai contribuir para que se atinja a meta de, até 2030, ter 55% dos jovens no ensino profissional.
O presidente do IEFP, Domingos Lopes, admite que ainda pode haver um estigma relativamente à menoridade do ensino profissional, “mas cada dia que passa isso vai-se alterando, porque a facilidade com que estas pessoas arranjam emprego é incomparavelmente maior do que a de todos os outros”.
Domingos Lopes afirma inclusivamente que estes jovens não têm qualquer dificuldade em ir para o estrangeiro.
O presidente do IEFP lembrou que “em algumas áreas ganham mais que licenciados” e o desafio para Portugal é retê-los, uma vez que, na maior parte dos casos, têm ofertas salariais mais atrativas noutros países da UE, onde a sua formação é também reconhecida.
“A dotação do PESSOAS 2030 afeta ao ensino profissional é de 25 a 30 por cento, porque estes cursos têm provas dadas de sucesso, para a prevenção do abandono escolar e têm elevadas taxas de empregabilidade”, apontou Ana Coelho.
Há cursos para todos os gostos e vocações. Na Escola Profissional Raul Dória, no Porto, aqueles que sonham ser bombeiros não precisam de esperar pelos 18 anos para ingressar numa corporação e fazer a formação.
Nesta escola, podem frequentar um curso profissional de dupla certificação, no final dos três anos do ensino secundário obtêm um diploma do 12º ano e um certificado profissional de nível IV que lhes permite exercer a profissão de bombeiro em qualquer Estado-membro da UE.
Para quem sonha com um futuro ligado ao mundo rural, a Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses (EPAMAC) oferece um conjunto de sete cursos ligados à agricultura e à agropecuária, mas também ao turismo em meio rural e à proteção civil.
Cultivar plantas sem solo e bombas de sementes
O aparato da instalação de aquaponia (forma de agricultura que combina a criação de peixes em tanques com cultura de plantas sem solo) da EPAMAC chamava a atenção de quem passava.
O sistema cativou também Andriana Sukova, Ana Coelho e Domingos Lopes que pararam para ficarem a saber que os resíduos provenientes da criação de peixes em cativeiro são usados para fertilizar água que circula pela raiz das plantas, neste caso couves e alfaces, que assim crescem sem solo.
Do espaço da EPAMAC levaram ainda uma “seed bomb” (bomba de sementes) para mais tarde plantarem. A ideia de fazer pequenas bombinhas de sementes envolvidas em papel biodegradável como o dos filtros de café foi das alunas Emília Sobral, de 16 anos, e Bruna Pereira, de 21, alunas do 11º e 12º ano, respetivamente, do curso de Técnico de Turismo Rural e Ambiental. O objetivo é mitigar a pegada de carbono das estadas em alojamentos rurais e faz parte do projeto premiado “greentrips.pt“, desenvolvido pelas duas estudantes.
Um campeonato de profissões de que Portugal é fundador e totalista
Andriana Sukova, Ana Coelho e Domingos Lopes aproveitaram a inauguração da Mostra de Ensino e Formação Profissional para fazer uma visita guiada por Gustavo Seia, coordenador da World Skills Portugal, ao 46º Campeonato Nacional das Profissões que decorreu em paralelo, no Europarque.
O que está em jogo para estes 400 jovens, a competir em 59 profissões, é ganhar uma medalha que lhes dê o direito a participar no EuroSkills, na Dinamarca, em 2025, e depois, quem sabe, conseguir ir ao WorldSkills, na China, no ano seguinte.
“Mais importante do que ganhar uma medalha é que estes jovens consigam superar-se, que façam hoje melhor do fizeram ontem”, refere Gustavo Seia.
Andriana Sukova mostrou-se satisfeita com o que viu no Europarque e vincou o compromisso de que a CE “vai continuar a investir em programas, em todos os Estados-membros, para que a formação profissional e vocacional possa ser a primeira escolha dos jovens quando decidem o que vão estudar”.