Largas dezenas de emigrantes e lusodescendentes esperaram hoje várias horas, em Paris, pela homenagem aos soldados lusos que se bateram há cem anos na Batalha de La Lys, na Primeira Guerra Mundial.
Os portugueses foram-se juntando na entrada da “Avenue des Portugais”, uma pequena rua de 55 metros de comprimento e 26 de largura, no 16.° bairro, e que foi batizada a 14 de julho de 1918, por deliberação do conselho municipal de Paris, em memória da entrada de Portugal na guerra ao lado dos aliados, substituindo o anterior nome – Avenue de Sofia -, que era a capital de um país da coligação inimiga.
Entre algumas bandeiras, cachecóis e bonés de Portugal, Lurdes Milhões e Zelie Demey Milhões, neta e bisneta do famoso Soldado Milhões, assistiram à cerimónia na primeira fila para prestar homenagem ao familiar que foi considerado um herói na fatídica Batalha de La Lys.
“É uma homenagem ao meu avô e a todos os soldados portugueses que combateram em França, aqueles que morreram, aqueles que ficaram feridos. Ele morreu quando eu tinha 10 anos e falava muito sobre isso, ele sofreu muito. Não falava muito com as crianças, era mais quando havia jornalistas que vinham e nós escutávamos”, contou Lurdes Milhões, de 50 anos, que emigrou de Murça para França quando tinha 20 anos e que quando era menina era conhecida na escola como “a neta do Milhões”.
A sua filha, Zelie, de 27 anos, cresceu em França a ouvir as histórias do bisavô, pelo que não podia faltar à cerimónia de hoje em nome da sua própria família e para lembrar o homem que foi “um herói e também uma vítima porque veio combater quando era um simples agricultor e não um soldado”.
Colada à baia de segurança que impedia a passagem do público para a “Avenue des Portugais”, Maria da Costa Oliveira contou à Lusa que só há um ano descobriu que o seu bisavô e um tio-bisavô também tinham estado na guerra das trincheiras.
“Vim porque tenho orgulho de ser portuguesa e porque eles combateram. A minha mãe e o meu pai falaram-me há pouco tempo sobre isto e vim para saber mais desta história que conheço pouco”, contou a portuguesa de 52 anos, que veio para França “a salto” quando tinha apenas 10 anos.
Também na primeira fila, a colocar no seu Facebook uma fotografia da placa da “Avenue des Portugais” com uma placa ao lado a indicar que a 14 de julho de 1918 o conselho municipal de Paris decidiu homenagear os “soldados portugueses que combateram ao lado das forças aliadas para a liberdade da França”, estava Fernanda Miranda, de 52 anos e há 27 em França.
“Escrevi no Facebook ‘homenagem aos nossos soldados portugueses’ porque foram pessoas que deixaram as famílias e vieram combater na guerra. É importante dar valor às nossas raízes e às pessoas que lutaram para fazer reconhecer o que os portugueses são. Não somos só pessoas das limpezas e ‘maçons’, servimos para alguma coisa”, comentou Fernanda Miranda, que chegou ao meio-dia ao local, cinco horas antes do início da cerimónia.
Manuel Pinto Lopes, que vive em França há 50 anos, também chegou muito cedo para assistir à homenagem porque “não se pode esquecer o sacrifício dos 50 mil soldados portugueses que estiveram na Primeira Guerra Mundial e os 7.000 que foram feridos, mortos ou capturados a 9 de abril de 1918”.
“Uma grande parte dos franceses ignora que os portugueses participaram na Primeira Guerra Mundial e tentamos informá-los. A Avenida dos Portugueses é uma das mais pequenas avenidas de Paris, mas não interessa ser pequena ou grande porque está num ponto central e é o que conta”, explicou o português de Fafe, acrescentando que também há uma “Avenue de Lisbonne” na capital francesa.
A curta avenida fica a cerca de cinco minutos a pé do Arco do Triunfo, a partir de onde desfilaram, a 14 de julho de 1919, 400 soldados portugueses na marcha da vitória dos Aliados ao longo da Avenida dos Campos Elísios.
A animar a espera e a cerimónia estiveram as marchas da Filarmónica Portuguesa de Paris, “a única banda filarmónica portuguesa fora de Portugal na Europa”, que existe há 30 anos, disse à Lusa Rui Brito, um dos 25 músicos presentes na avenida.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro, António Costa, eram esperados pelas 17:00 (16:00 em Lisboa) para descerrar uma placa comemorativa do centenário da Batalha de La Lys.
Depois da “Avenue des Portugais”, o chefe de Estado e de governo deslocam-se para o Arco do Triunfo para a cerimónia do «reavivar da chama» no monumento ao Soldado Desconhecido em homenagem ao Corpo Expedicionário Português que participou na Primeira Guerra Mundial em França.