O presidente do grupo Valérius, José Manuel Ferreira, de Barcelos, teme que o atual momento menos positivo que o setor têxtil atravessa nas exportações possa levar ao desemprego de muitos trabalhadores, situação que considera ser suficiente para colapsar toda a área da indústria em Portugal.
Em entrevista ao jornal Eco, o empresário que ficou conhecido por revitalizar empresas e marcas falidas, como foi o caso da camiseira Dielmar, considerou indispensável a manutenção de postos de trabalho, porque o setor “depende 80% de pessoas e 20% de máquinas”.
Para o barcelense, se os empresários do têxtil começarem “a entrar em pânico e a dispensar pessoas, o têxtil pode colapsar”, caindo de uma forma muito mais impactante do que durante a pandemia em 2020 e 2021.
Segundo o Eco, as exportações na industria têxtil caíram, em termos financeiros, 6% nos primeiros nove meses deste ano, em relação a 2022. Já em termos de volume de negócios, a marca desce para o dobro, ou seja, menos 12% do que em igual período do ano passado.
O dono da Valerius adiantou que o grupo faturou 38 milhões de euros em 2022, com uma previsão de crescimento de 20% para este ano, situação que não se deverá verificar. Segundo o empresário, o volume de vendas deste ano irá ficar mais ou menos no mesmo valor daquele atingido no ano anterior.
Explica que o setor começou a ‘abalar’ com a subida das taxas de juro e com os custos da energia, durante os anos de 2021, mas sobretudo em 2022, e isso fez com que muitas empresas portuguesas decidissem fechar-se no mercado interno, mas para isso é necessário reduzir custos, e o barcelense crê que a solução nunca passa pelo despedimento: “Não conseguimos desligar pessoas porque todas elas ao final do mês têm de atender aos seus compromissos. O têxtil depende 80% de pessoas e 20% de máquinas”, reforçou.
O empresário admite que a subcontratação de funcionários é algo a que recorre frequentemente, mas entende que no meio dessa cadeia de contratação há sempre alguém que vai acabar sem trabalho. Assinala o período de saúda da Troika, em 2015, como um momento de viragem para as empresas portuguesas, quando começaram a trazer “valor acrescentado” ao setor do têxtil. Mas a pandemia e a atual crise de exportações parecem querer deitar tudo a perder.
José Manuel Ferreira considera que as empresas encontram-se numa situação “perigosa”, não por causa dos empresários, que considera “resilientes”, mas por causa da atual conjuntura. “O setor fez investimentos, as empresas hoje estão muito bem equipadas, mas como não temos marcas próprias, não dominamos o mercado e estamos completamente dependentes do que acontece nas marcas globais e sujeitos a este ajustamento”, considerou.
O facto dos clientes poderem não conseguir pagar os serviços é outra preocupação, algo que já foi vivido neste setor, e nesta região, em meados da primeira década de 2000, quando várias empresas acabaram insolventes.