Devido à seca, o nível da água do rio Lima desceu e trouxe à superfície a ‘aldeia-fantasma’ de Aceredo, na Galiza, que se tornou ponto de romaria de milhares de pessoas. As barragens do Alto Lindoso e de Touvedo, em Ponte da Barca, foram obrigadas a suspender a produção elétrica e o rio Cabril tornou-se, em algumas zonas, um ‘fio de água’ que mal se vê a correr por entre as pedras. Paulo Jorge Magalhães, fotojornalista de O MINHO, captou as imagens da seca no rio Lima.
Submersa há 20 anos, a aldeia de Aceredo, na Galiza, emergiu e a curiosidade leva, todos os fins de semana, milhares de visitantes àquela localidade. Tantos que as filas de carros estacionados ultrapassam um quilómetro e leva os autarcas galegos a quererem que a EDP pague um imposto.














Desde o início do mês, nas barragens do Alto Lindoso e Touvedo a água só é usada para produzir eletricidade cerca de duas horas por semana, garantindo “valores mínimos para a manutenção do sistema. Segundo o ministro do Ambiente, as restrições estão a “revelar-se eficazes”. A barragem de Touvedo já saiu da “situação crítica” e na de Alto Lindoso o nível das águas subiu 2,4 metros, acrescentou.
João Pedro Matos Fernandes anunciou, ainda, que o Governo vai destinar cinco milhões de euros do Fundo Ambiental para campanhas de sensibilização e para soluções de contingência e que “muito provavelmente” deverão ser decretadas “medidas concretas para a redução e para a poupança de água”.
Enquanto isso, a Agência Portuguesa do Ambiente apela ao uso sustentável da água e para que seja evitado o desperdício no quotidiano, lavagem de carros e enchimento de piscinas particulares, apesar de o abastecimento público estar garantido.
Por sua vez, a EDP desdramatiza o impacto da seca na Península Ibérica na produção hidroelétrica, acrescentando que deverá compensar a redução com produção termoelétrica, ao longo deste ano. “Este está a ser um ano muito seco, mas nós já tivemos outros anos secos no passado”, disse o presidente executivo, Miguel Stilwell d’Andrade.
























Outro efeito da seca. O presidente da Câmara de Ponte da Barca, Augusto Marinho, está “assustado” com a “velocidade” de propagação de infestantes na barragem de Touvedo, devido ao baixo nível das águas, exigindo a intervenção “urgente” da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“Na barragem do Alto Lindoso não temos essa indicação [da existência de espécies invasoras]. Mas na de Touvedo está a alastrar por todas as margens [erva-pinheira]. Já está no interior da própria albufeira a uma velocidade que nos está a assustar, e não estou a ver ação por parte da APA relativamente a esta questão”, afirmou o social-democrata Augusto Marinho.
















Em Ponte da Barca, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), o rio Cabril, afluente do Lima, corre, em alguns pontos, com um ‘fio de água’ quase desaparecendo de vista no meio do sinuoso percurso. Porém, de acordo com o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), a seca generalizada não está, para já, a afetar “de forma relevante” o Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG).
O ICNF lembra que o PNPG se “situa na zona do país com maior pluviosidade”, salientando que, “pese embora a situação atual, a humidade no solo tem-se mantido e as nascentes e as linhas de água mantêm-se com água”.









Também no Parque Nacional da Peneda-Gerês, o presidente da Câmara de Terras de Bouro afirma que a “seca generalizada que se está a viver no território nacional” não está, para já, a sentir-se no concelho.
“Não vivemos uma situação preocupante, pois o abastecimento de água, para consumo humano, está garantido, e no que diz respeito à agricultura que, como é consabido, não é a principal atividade neste concelho, também mantém os caudais suficientes para o regadio”, frisa Manuel Tibo (PSD).
O autarca reitera que a região do Gerês “sempre esteve referenciada como um dos locais onde mais chove durante o ano”, mesmo no mês mais seco, acreditando que “a atual situação de seca não deverá ter grandes implicações na fauna e na flora no Gerês”.
No concelho de Terras de Bouro estão as bacias hidrográficas da barragem da Caniçada e da barragem de Vilarinho das Furnas. O autarca assume que, atualmente, as duas bacias hidrográficas “estão com um nível relativamente baixo para esta época”.
Mais de 90% do território português estava, a 15 de fevereiro, em seca severa ou extrema, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que indica um novo agravamento da situação de seca meteorológica no país.
O último boletim de seca, divulgado na segunda-feira e que reporta a 15 de fevereiro, indica valores de percentagem de água no solo inferiores ao normal em todo o território, com as regiões Nordeste e Sul a atingirem valores inferiores a 20%, com “muitos locais a atingirem o ponto de emurchecimento permanente”.