No Hospital Senhora da Oliveira (HSOG), em Guimarães, há 44 pessoas internadas com covid-19, duas estão na unidade de cuidados intensivos. Segundo Pedro Cunha, médico de medicina interna, membro da direção clínica, “o aumento de utentes com sintomatologia covid, na urgência, é de 40%”. De acordo com este clínico, muitas destas pessoas não precisavam de vir ao hospital e isso sobrecarrega os serviços.
A capacidade de resposta do HSOG ainda não foi colocada em causa, nesta quinta vaga da covid-19, contudo, segundo Pedro Cunha, há uma grande pressão sobre o serviço de urgência. “As pessoas dirigem-se à urgência hospitalar porque têm um teste positivo, sem apresentarem nenhuma sintomatologia. Gastam tempo e recursos, aborrecem-se porque ficam várias horas à espera”, relata o médico. O conselho de Pedro Cunha para quem testar positivo, sem apresentar sintomas, é: “Isolar-se, vigiar a febre, verificar a capacidade respiratória (se tem dificuldade em respirar, sem tem tosse), verificar a tensão arterial, ligar à linha de saúde 24 ou ao médico de família e não vir à urgência”.
É a vacina que protege das formas graves de doença
A quinta vaga de covid-19 tem sido diferente das anteriores porque o HSOG procura conciliar o internamento dos doentes da pandemia, ao mesmo tempo que procura manter todo o atendimento de outro tipo de utentes. “A quantidade de doentes que estão agora infetados é muito grande, felizmente o número de pessoas que desenvolve doença grave é menor que nas outras ondas pandémicas. Isto é, obviamente, um reflexo da enorme taxa de vacinação que existe no país e que protege as pessoas”, esclarece Pedro Cunha. Segundo o médico, a vacina pode não proteger as pessoas de transmitirem o vírus, mas evita o surgimento de formas mais severas da doença.
Embora a percentagem de pessoas que evoluem para formas graves da doença seja baixa, há um grande número de pessoas infetadas que acabam por ir aos serviços de urgência, ainda que muitas não precisassem de o fazer. “Estas vindas ao hospital estão relacionadas com a angústia de quem sabe que está infetado. É compreensível, mas não devem vir a menos que tenham indicação para o fazer. É uma grande sobrecarga para os serviços de urgência que não se traduz no aumento dos internamentos, porque a quantidade de pessoas que desenvolve doença grave é baixa”.
Ainda assim, Pedro Cunha lembra que o número absoluto de doentes infetados é muito elevado, “cerca de 40 mil, ao passo que na mesma altura do ano passado eram 16 mil”. Quer isto dizer que, mesmo com baixas percentagens de doença grave, “vai sempre haver um número de internamentos que não é desprezível”. O HSOG viu-se obrigado a dividir as equipas de forma a manter dois circuitos estanques a funcionar, em todos os serviços.
“O ano passado, em janeiro, tínhamos 210 doentes com covid-19 internados, agora temos 44. Claro que não precisamos de ter tanto espaço dedicado a estes doentes, mas isto é elástico. Neste momento, já estamos a usar duas alas de um piso, o que já é significativo, mas pouco comparativamente com o que aconteceu no passado”, indica Pedro Cunha.
Os utentes, que atualmente estão internados com covid-19, pertencem maioritariamente a dois grupos, revela Pedro Cunha: “São pessoas que não estão vacinadas, ou são indivíduos que foram vacinados há bastante tempo e têm um decréscimo da sua capacidade imunitária”. Esta redução da imunidade é mais pronunciada nos pacientes mais idosos “ou que por natureza já tivessem défices imunitários”. De acordo com Pedro Cunha, em muitas destas pessoas internadas, nem é o vírus que está a provocar a doença aguda, mas é ele que espoleta uma série de outros problemas que previamente existiam.
75% dos internados não estão vacinados
Entre os internados com covid-19, no HSOG, 75% são pessoas que não se vacinaram e “entre esses doentes há pessoas da faixa entre os 20 e os 40 anos”, alerta Pedro Cunha. “A necessidade da vacinação é uma mensagem que tem que chegar a todos”, apela.
Pedro Cunha acredita que possamos ter que vir a fazer reforços periódicos permanentes da vacina, como já acontece com a gripe. “A expectativa, neste momento, é aprovar uma vacina que tenha um efeito mais perene e que, além de prevenir a doença, reduza o potencial de contágio. Em grupos de risco específico, é provável que o futuro venha a passar por um reforço anual, eventualmente conjugando esta vacina com a da gripe”.
Não se resolve o problema sem uma gestão global
Portugal está duplamente de parabéns, afirma Pedro Cunha, porque os portugueses comparecem à vacinação e porque o país está, desde cedo, a partilhar vacinas com outros países. “Se não fizermos uma gestão global da pandemia, estamos sujeitos ao aparecimento de novas variantes, como a que apareceu na África do Sul”. Não é impossível que surja uma variante que iluda completamente a proteção da vacina. “Nos países sobrepopulados, sem condições higieno-sanitárias, o vírus circula sem barreiras. As pessoas da Europa e da América do Norte vão a esses países em trabalho, os habitantes desses territórios emigram em busca de melhores condições de vida… É uma ilusão pensar que construímos um muro à volta de um certo número de países e que isso vai impedir o vírus de avançar”, avisa Pedro Cunha.
A solução passa por “multiplicar” a produção de vacinas, “para vacinar África inteira, a América Latina, os países de Leste e da Ásia”.