O Cazaquistão quer organizar em 2026 e sob os auspícios da ONU uma Cimeira Regional da Ásia Central sobre o Clima em 2026, porque “está muito preocupados com a escassez de recursos hídricos”.
Em declarações a O MINHO, o embaixador do país em Portugal, Daulet Batrashev, adiantou que “as secas e as inundações na Ásia Central causarão prejuízos de 1,3 por cento do PIB por ano, enquanto se prevê que o rendimento das colheitas diminua 30 por cento, o que conduzirá a cerca de cinco milhões de migrantes internos devido ao clima até 2050”.
O diplomata salienta que a proposta foi feita pelo Presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, no final do Fórum Internacional que decorreu em Astana, ocasião em que alertou para o facto da superfície dos glaciares já ter diminuído 30%. “Estima-se que os dois grandes rios da nossa região – o Syr Darya e o Amu Darya – perderão cerca de 15% até 2050. Para evitar uma catástrofe ambiental na região, apelamos à afetação de mais recursos para apoiar o Fundo Internacional para a Salvaguarda do Mar de Aral”, afirmou, na ocasião.
A este propósito, o embaixador sublinha que “os países da região podem enfrentar graves efeitos das alterações climáticas dentro de pouco mais de um quarto de século. Em consequência, tal conduzirá à degradação dos solos e à escassez de recursos hídricos”.
“Como referiu o Presidente do Cazaquistão, só a consolidação das medidas e a estreita cooperação entre os países poderão resolver estes problemas”, acentuando que o Chefe de Estado cazaque propôs igualmente a criação de um gabinete de projetos dos países da Ásia Central em Almaty.
Cônsul no Norte relata conclusões
Presente no evento, o Cônsul do Cazaquistão no Norte de Portugal, com escritório em Guimarães, Gil Vieira, fez um relato das principais conclusões.
As soluções para a escassez de água, um problema crescente em todo o mundo, foram o foco de uma sessão do painel “Pensar criativamente sobre o problema da escassez de fágua” no Fórum Internacional de Astana, a 9 de Junho, que reuniu especialistas e líderes de pensamento de vários sectores.
Stephen Cole, antigo jornalista da BBC, que moderou o debate, afirmou que 70% do planeta está coberto por água, mas cerca de 97% dessa água é salgada e outros 2% estão congelados nos glaciares.
“Isto deixa apenas 1% da água potável do planeta disponível para milhares de milhões de pessoas em todo o mundo. A escassez de água é também um problema no Cazaquistão, uma vez que 90% da água do Cazaquistão chega num grande jacto com o escoamento da primavera”, disse.
O especialista sugeriu que o problema é um excedente de água em alguns locais e um défice noutros. Acrescentou que 3,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo vivem em condições de stress hídrico pelo menos um mês por ano.
Cole recordou que a recente Conferência das Nações Unidas sobre a Água instou os países a tomarem medidas corajosas e coordenadas a nível internacional.
Exploração excessiva
Henk Nieboer, Diretor da Parceria Neerlandesa para a Água, falou sobre a exploração excessiva de recursos finitos. Outras questões que estão no centro do problema são a poluição excessiva, a carga de nutrientes por produtos químicos e questões institucionais, como a falta de coordenação entre sectores ou países.
“É possível obter poupanças significativas na utilização da água através da melhoria das práticas de gestão e das soluções técnicas, para além de um melhor ordenamento do território. Para tal, as bacias hidrográficas devem ser consideradas como as paisagens que as definem”, afirmou Nieboer.
“É encorajador o facto de o Cazaquistão já ter em vigor alguns tratados bastante sólidos de manutenção da água nas fronteiras, embora não para todas as bacias hidrográficas. O governo do Cazaquistão tem uma estratégia para criar uma economia verde”, afirmou.
Segundo ele, a agricultura deve ser reorientada para culturas menos intensivas em água, redução das cargas de agroquímicos, controlo integrado de pragas e doenças e tecnologias de irrigação.
Concorrência feroz pela água
De acordo com Mathilde Mesnard, Diretora Adjunta e Coordenadora para o Clima e o Financiamento Verde da Direção do Ambiente da OCDE, as alterações climáticas globais e o crescimento económico irão aumentar ainda mais a concorrência feroz pela água na região.
Sublinhou a importância da cooperação e do diálogo na abordagem da segurança da água. Louvou os esforços dos países da Ásia Central na cooperação transfronteiriça nos últimos 30 anos.
Falando de exemplos criativos de como lidar com a escassez de água nos países da Ásia Central, delineou quatro áreas-chave para o desenvolvimento neste domínio, incluindo a coordenação inter-regional da gestão das fontes de água, um plano de investimento conjunto para as infra-estruturas de água e energia entre os países da Ásia Central, uma maior interacção e sinergias entre as instituições do sector da água e o sector da energia, a aplicação de seguros e mecanismos de financiamento misto.
Filtros de água
Randall Bruins, antigo cientista ambiental e conselheiro estratégico da Enactus Cazaquistão, sugeriu várias soluções inovadoras, incluindo a utilização de resíduos agrícolas na produção de filtros de água. “Temos de transformar mais projectos dos nossos estudantes em empresas sustentáveis”, acrescentou.
Para persuadir os agricultores a serem mais criativos na utilização da água, Estelle Peyen, fundadora e presidente da Cross Country Skiing Sand (XCSS), sugeriu cursos de agro-florestação para agricultores, ensinando-os a reutilizar os seus resíduos orgânicos através da produção de bio-composto.
Os peritos – diz, ainda, Gil Vieira – também sublinharam a importância da educação na gestão da água.