“Pátria” ou a história dum estrangeiro à procura de perdão apresenta-se no Porto

Teatro
A Turma

“Pátria”, de Bernardo Carvalho, conta a história dum estrangeiro que procura o perdão entre um roubo de identidade, um atentado à bomba e cinco anos de prisão, e tem “estreia regressada” na próxima quarta-feira no Teatro Carlos Alberto (Porto).

Um homem de ‘blazer’ axadrezado em tom de bege, de passo lento e arrastado, senta-se num banco do jardim do seu apartamento rodeado de plantas, e começa a falar sozinho e a dizer que os velhos falam sozinhos por estarem sozinhos.

Este homem de ‘blazer’, personagem interpretada pelo ator Pedro Almendra, revela que saiu da prisão depois de uma vizinha o ter denunciado à polícia afirmando que seria o responsável por um atentado à bomba. A suspeita da vizinha era porque o homem de ‘blazer’ era estrangeiro, vivia sozinho e tinha costumes “exóticos”.

O homem de ‘blazer’ revela que era um ator refugiado que já tinha interpretado todas as personagens do teatro clássico e que tinha vindo parar a um apartamento, depois de ter estado cinco anos na prisão.

Não conhecia ninguém quando chegou a Portugal, conhecia a vizinha que o espiava pela janela. Chegou a pensar, ingenuamente, que ela estaria interessada nele, mas afinal foi a denuncia da vizinha que lhe deu cabo da liberdade durante os anos de juventude.

“É uma história sobre um estrangeiro que está deslocado do seu local. É sobre o perdão ou sobre a procura do perdão. Este homem precisa do perdão de alguém, seja o filho ou seja o homem a quem ele possa ter roubado a identidade. É sobre pátria, no seu sentido mais objetivo: pátria local, mas ‘pátria pai’, pátria de ‘pater’. É sobre um pai que está deslocado do seu local”, conta Manuel Tur, o encenador da peça de teatro “Pátria”.

À margem do ensaio de imprensa de “Pátria”, que decorreu esta tarde no Teatro Carlos Alberto, Manuel Tur explica aos jornalistas que a peça vai ter “um regresso estreado” ou uma “estreia regressada” e não se pode dizer que vai estrear, porque estreou em novembro de 2019.

A interpretação final da peça fica propositadamente em aberto, revela Manuel Tur, adiantando que a duração do monólogo é de uma hora e 10 minutos.

“Há quem saia a achar que este homem está enlouquecido, há quem saia a achar que este homem é um ator que criou uma personagem, há quem saia a achar que este homem é um refugiado e que foi preso injustamente, e há quem saia a achar que este é o pai que olha pela janela e vê o filho que acabou de sair e há quem ache que este é o filho que vê o pai que acabou de sair, e todos os finais são abertos”.

Para Bernardo Carvalho, o autor, a “Pátria” fala de pai e filho misturados e refletidos no espelho, um o futuro do outro, um interpretando o outro.

“A demência como reflexo, o eu a projetar-se no outro, alucinando sobre os fios que lhe restam da memória esfarrapada, nos quais se emaranha tentando amarrar entendimento e narrativa. Entendimento e narrativa que agora dependem mais do outro que de si. É contra a compreensão de que somos reféns dos outros, que nos debatemos por um ideal de independência e autonomia, por um lugar-comum ao qual pertencer, que às vezes chamamos pátria, outras vezes família, identidade ou língua”, lê-se no dossiê de imprensa.

“Pátria”, a peça, é apresentada no Teatro Carlos Alberto na próxima quarta-feira, dia 16 de novembro, às 19:00, e fica patente até 20 de novembro. Quarta, quinta-feira e sábado, sobe a palco às 19:00, mas na sexta-feira é as 21:00. No domingo acontece às 16:00.

A peça conta na cenografia com Ana Gormicho e no desenho de luz com Cárin Geada.

A música original é de João Hasselberg, o desenho de som ficou a cargo de Joel Azevedo e os figurinos de Anita Gonçalves. Na assistência de encenação está Maria Inês Peixoto e o apoio dramatúrgico tem a assinatura de Gil Fesch. A interpretação é de Pedro Almendra.

O espetáculo é uma coprodução da produtora de artes performativas e de artes urbanas e visuais 11Zero2, da companhia de teatro A Turma, da Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão e do Teatro Nacional São João

“Pátria” é para maiores de 14 anos de idade.

 
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