Com quase 600 mortes por dia, funerárias temem rutura do sistema

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A Associação das Empresas Lutuosas apelou esta quarta-feira (13) para que sejam criadas condições que assegurem a preservação dos corpos com dignidade até à realização dos funerais, face ao pico de óbitos que está a deixar o sistema em rutura.

“Estamos há cinco ou seis dias com quase 600 óbitos por dia”, vincou em declarações à Lusa o presidente da Associação Nacional das Empresas Lutuosas, Carlos Almeida, para quem “o cerne da questão” está no aumento da capacidade de câmaras de frio nos hospitais.

De acordo com o mesmo responsável, o período médio de espera para marcação de uma cremação em Lisboa, por exemplo, onde existem três crematórios, é de 72 horas. Para sepultura, a média é de 48 horas.

“Perante isto, com o ritmo a que estão a acontecer os óbitos, terão de acumular em algum sítio”, declarou.

Segundo Carlos Almeida não é possível “incrementar, por parte das câmaras, mais cremações”, sob risco de acontecer o que aconteceu, em Milão, durante a primeira vaga: “Deixaram de respeitar a cadência da máquina, colocaram o crematório em contínuo (e é uma máquina que não consegue resistir a esse esforço) e depois não temos crematório, o que é pior”.

“Se não há escoamento, não conseguimos organizar as coisas antes de 48 a 72 horas, neste momento, temos de aumentar a capacidade de frio a jusante”, defendeu.

“Temos de preservar com dignidade os cadáveres (…) porque o pico de óbitos é substancialmente grande para esta rotatividade”, frisou.

O mesmo responsável defendeu o aumento da capacidade dos hospitais nesta matéria, à semelhança do que aconteceu em várias unidades durante a primeira fase da pandemia de covid-19, que está a contribuir, juntamente com o frio, para o aumento do número de mortes este mês.

“Já há cadáveres em salas refrigeradas a uma temperatura não ideal, mantida com ar condicionado, em que não há outra forma, não há outro meio, não é possível lá instalar contentores ou acharam que assim conseguem resolver o problema”, relatou.

A situação acontece “em todo o lado”, assegurou Carlos Almeida.

“Se na grande cidade há mais habitantes, também há hospitais maiores, também há mais capacidade de frio, mas tudo é proporcional”, sustentou, acrescentando que os hospitais da periferia estão “assoberbados”, nomeadamente nas unidades de cuidados intensivos.

“Se de facto estão num ponto de rutura, as unidades hospitalares têm de encontrar forma de preservar os cadáveres com dignidade e do lado das agências contarão sempre com a brevidade necessária para que se articule uma cerimónia”, disse.

Às famílias deixou o apelo para que abdiquem de “alguma complexidade de organização das cerimónias”, por forma a não tornar ainda mais moroso o processo.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou na sexta-feira que as mortes associadas à doença covid-19 representaram 52% do excesso de mortalidade verificado em Portugal entre março e dezembro.

Segundo o boletim do INE sobre mortalidade em contexto de pandemia, desde 02 de março – data do primeiro caso diagnosticado de infeção com o novo coronavírus em Portugal – até 27 de dezembro, morreram 99.356 pessoas, um aumento de 12.852 mortes em relação à média dos mesmos meses nos anos de 2015 a 2019.

Desses 12.852 óbitos a mais, 6.677 foram atribuídos à covid-19, o que representa uma percentagem de 52%. Só entre 30 de novembro e 27 de dezembro morreram 2.172 pessoas com covid-19, um número que supera o aumento de 1.884 mortes em relação à média para o mesmo período dos últimos cinco anos.

 
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