César Fierro, um empresário do imobiliário de Bogotá, na Colômbia, que esteve quinta-feira no Ministério Público (MP) junto do Tribunal de Braga, a ser ouvido no âmbito do inquérito aberto à Bsports, academia de futebol em Riba d’Ave, Famalicão, por suspeita de tráfico de seres humanos, nega as alegações.
Disse ao Procurador que “as notícias sobre a academia são manifestamente exageradas e que é pena que se encerre uma estrutura que só beneficia o futebol português e ajuda os rapazes de muitos outros países a realizarem o sonho de ser futebolistas”, afirmou a O MINHO.
E assegura: “Nem o meu filho nem nenhum dos quatro outros jovens colombianos que represento legalmente e que estavam na academia Bsports sofreu qualquer maus-tratos, nem outra restrição ilegal, incluindo a de sequestro ou da retenção de passaporte”.
Em sua opinião, “na Colômbia há centenas de clubes com formação de atletas, onde os europeus vão ‘pescar’ talentos. Mas – assinala – no mundo “há muito poucas academias com a qualidade da Bsports”.
MP ouve os pais
Ao que soubemos, o MP está a ouvir outros progenitores, nomeadamente sul-americanos como sucedeu, no mesmo dia, com uma mulher de El Salvador, mãe de um outro jovem que estava na Academia, em Famalicão.
O colombiano diz que o filho, de 16 anos, – que veio para a BSPorts há 18 meses e que, entretanto, começou a treinar-se no SC Braga – e os outros quatro jovens eram bem tratados, com três refeições por dia e três lanches, treinavam com a ajuda de técnico, fisioterapeuta, enfermeira e psicólogo. E ainda tinham aulas, no caso correspondentes ao 10.º ano do currículo escolar português e iam em passeios ao sábado e domingo.
Assegura ter conhecimento de que os pais pagavam mensalidades que podiam ir aos mil euros mas muitos entravam só com 500 e alguns nada pagavam, beneficiando de uma espécie de bolsa. “Quarenta por cento dos rapazes que estavam na Academia tinham bolsa para ali estar, pagando metade do preço ou mesmo nada; eu pagava pelo meu filho, porque tenho posses”, salientou.
César Fierro veio a Portugal depois de o filho e os outros quatro jovens – de quem está mandatado como tutor – terem sido levados pelo SEF – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para uma instituição de solidariedade social de Barcelos, onde foram acolhidos uma grande parte dos 114 jovens que estavam na Bsports.
Sempre com o passaporte
O empresário diz que o filho, de nome Camilo, sempre teve o telemóvel com ele – comunicando-se, por isso, assiduamente – e nunca lhe foi retirado o passaporte: “Ele tinha autorização de residência que caducou em maio, mas o Procurador disse que poderia ficar em Portugal, se assim o quisesse e eu autorizasse”.
Presente na conversa, o jovem jogador, que atua como centrocampista e solicitou o anonimato, confirmou que a situação no campus da Sports era normal, havendo apenas regras para cumprir. “Havia horas para levantar, para dormir ou descansar e todos as cumpríamos. Pode ter havido um problema ou outro com algum colega”, explicou.
Sobre a Bsports: “A nível pessoal nada tenho a dizer. A única queixa que faço é a de, nem sempre, as casas de banho e os balneários estarem bem limpos, depois de muitos banhos”.
Contou, ainda, que num jogo-treino realizado na Academia do SC Braga foi referenciado pela sua qualidade e convidado a ali treinar, o que vem acontecendo. “Não jogo, porque é preciso um certificado internacional da FIFA, que já foi pedido, mas ainda não chegou”, disse mostrando-se esperançado em jogar na próxima época na equipa de sub-17.
O atleta quer ficar em Portugal e até já fala a língua. E quer fazer carreira no futebol português: “Vou ficar”.
Sobre este tema o progenitor explica: “Há muitos jovens talentosos na Colômbia, mas as oportunidades são poucas. Daí que os clubes locais tenham contactos com academias ou clubes europeus”.
SCBraga não tem acordo com a BSports
O SC Braga não tem nem teve nenhum protocolo ou acordo de colaboração com a academia Bsports. Fonte oficial do clube deu essa garantia a O MINHO quando questionado sobre o facto de “um ou dois jovens” da Bsports terem passado a treinar com as equipas jovens do clube.
A fonte explicou que as várias equipas juvenis dos bracarenses participam em torneios locais e regionais e fazem dezenas de jogos-treino com escolinhas ou academias da zona. “Quando há um rapaz que se distingue pela qualidade os nossos técnicos convidam-no a treinar aqui, mas sem que isso represente qualquer contarpartida para a empresa”, garantiu, confirmando que tal sucedeu, de forma normal, na época passada.