“Chato e um doce”. Este é o jeito que Diogo Fernandes descreve Raphinha, um dos jogadores com mais destaque esta época no futebol português. O treinador que descobriu o jovem extremo do Vitória SC, que é agenciado por Deco, histórico do FC Porto, lembra bem como foi o início do jogador de 20 anos, que chegou ao Avaí, de Santa Catarina, ainda adolescente depois de se destacar pelo pequeno Ibituba, da Segunda Divisão do mesmo estado.
“Um amigo meu viu o Raphinha a jogar, comentou sobre um menino muito interessante, e fui confirmar essa observação. Fizemos um amigável contra essa equipa para observar, todos ficaram encantados. Muito bom no “um contra um”, drible muito bom. Tem uma finalização muito boa, apesar de ser um extremo, sabe rematar, faz muitos golos para a posição“, lembra Diogo Fernandes, coordenador da formação do clube catarinense, em conversa com O MINHO.
“Veio para a formação para uma época de teste de seis meses. Ficou esse tempo, literalmente, a adaptar-se à nova realidade, jogando pouco, (passando) muito tempo no banco. Depois que se integrou, viu que estava por mérito e deu um passo considerável a partir daí. Marcou golos nos dérbis, destacou-se em grandes jogos dos principais torneios, tornou-se um expoente e foi, de longe, o melhor jogador da formação“.
A qualidade chamou logo a atenção de Deco, um dos maiores jogadores de sempre do FC Porto, que agora trabalha como empresário.
“Ele tem uma capacidade técnica diferente. É um extremo que, além de fazer o trabalho de marcar e equilibrar do lado do campo, marca golos. São jogadores que marcam a diferença, não há muitos hoje em dia“, disse o Mágico ao O MINHO.
“Não deu nem tempo de chegar ao profissional, fez a Copa São Paulo (tradicional torneio brasileiro da formação), iria subir e veio o Vitória SC”, recorda Diogo.
Nesse tempo no Avaí, Diogo Fernandes conseguiu traçar bem a personalidade do jovem jogador, que atrai a atenção de outros clubes europeus. O coordenador diz que parece que são duas pessoas: uma dentro e outra fora de campo.
“Dentro de campo é extremamente competitivo, aquele que reclama de tudo, quer sempre a bola, é “chato”. Fora de campo é um doce, não abre a boca para nada, sempre calmo, nunca criou problemas. Mas era “fominha”, não gostava de ser substituído”.
“É um menino bacana, gosta da família, (é) um rapaz alegre, aliado à qualidade, tem tudo para triunfar na carreira“, completa Deco.
Tem também uma certa ingenuidade, bem típica de jovens jogadores. Diogo Fernandes lembra que no centro de estágio do Avaí, num campo que tinha balizas móveis cujo tamanho se podia adaptar como o treinador quisesse, a bola às vezes ia muito forte ou alta e, como iria sair, os jogadores agarravam a bola com as mãos, para se pouparem do esforço de a ir buscar longe.
“Aquilo criou um hábito nele. Num jogo de sub-20, teve uma ‘virada’ (NDR. ressalto) de bola para ele, uma diagonal, que veio muito alta e ele pegou com a mão para não sair. Foi falta. Levou amarelo e, como já tinha um, foi expulso. Aquilo causou confusão às pessoas, mas era um hábito”, ri-se.
Raphinha chegou ao Vitória SC em 2015, inicialmente para jogar pelos bês. Em 16 jogos na Segunda Liga, apontou cinco golos. Na época seguinte, Pedro Martins resolveu levá-lo para o estágio de pré-época e ficou nos séniores. Em 41 partidas em 2016/17, balançou as redes quatro vezes.
Mas foi esta época que começou a brilhar mais. Sem Hernâni e Marega, que voltaram ao FC Porto, é totalista em minutos, até ao momento. Marcou ao Benfica na Supertaça, em que o Vitória SC perdeu, mas continuou bem. Nos últimos dois jogos, marcou três golos. Contabiliza um total de oito na temporada.
“Não me surpreendeu, conheço-o bem, desde que estava no Avaí. Lógico que é um jogador jovem, chegar a Portugal não é fácil e está em um clube com bastante exigência. Mas entra a questão mental, também, capacidade de trabalhar, de querer fazer“, diz Deco.
Para tristeza dos adeptos do Vitória SC, a tendência é que em breve venha a ser transferido. Para Deco e Diogo essa é a tendência. Ambos são cuidadosos ao falar de Selecção Brasileira. Mas acreditam que Raphinha tem potencial para jogar num colosso europeu dentro de pouco tempo.
“Com todo o respeito pelo Vitória SC, (Raphinha) vai chegar mais longe do que já está. É um jogador extremamente promissor. Mas, antes de pensar na Selecção, acho ainda que irá jogar num grande da Europa, talvez de Espanha ou Inglaterra“, diz Diogo.
“Eu vejo-o a ter uma carreira de sucesso. Tem que ter paciência, trabalhar no dia a dia, que é o que ele está a fazer. Está num clube importante de Portugal. Mas no futuro, vai passar por outros clubes, é um caminho natural“, completa Deco.
O próximo jogo de Raphinha pelo Vitória SC é já esta quinta-feira n Liga Europa. Os vimarenses jogam contra o Olympique de Marselha, em casa.