Um grupo de cerca de 100 pessoas juntou-se na terça-feira à noite, em Braga, para “salvar a Confiança”, a antiga fábrica de sabões cuja venda foi aprovada pela maioria PSD/CDS-PP/PPM no executivo camarário.
Reunidos em frente ao portão principal da antiga saboaria, onde se lia num pano gigante “Salvar a Confiança”, agentes políticos da cidade e cidadãos anónimos partilharam histórias e opiniões sobre o “último bastião da memória industrial da cidade”, num protesto que foi organizado pela oposição no município, PS, CDU e BE.
No dia 19 de setembro, a coligação PSD/CDS-PP/PPM, que lidera o executivo municipal, decidiu alienar o complexo da ‘Confiança’, adquirido pela autarquia em 2011, através de uma expropriação na qual gastou cerca de 3,5 milhões de euros, naquele que foi um dos poucos momentos de unanimidade do executivo de então, liderado por Mesquita Machado (PS).
A autarquia pretende agora vender a antiga fábrica, por cerca de quatro milhões de euros.
O presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, argumenta com a falta de fundos próprios para requalificar o espaço, assim como de fundos comunitários para o efeito.
O presidente da Concelhia do PS, Artur Feio, defendeu, numa conferência de imprensa conjunta com a CDU e o BE, que serviu para lançar o mote para o protesto desta noite, que a “venda é lesiva dos interesses dos bracarenses e da região”, pelo que os bracarenses “se podem sentir defraudados”.
Oposição a uma só voz: “Venda da Confiança é lesiva dos interesses dos bracarenses e da região”
A CDU condenou igualmente a decisão de Ricardo Rio, salientando que a alienação da ‘Confiança’ “não se coaduna com o desejo de dotar o município de mais equipamentos culturais e até do objetivo de tornar Braga Capital Europeia da Cultura em 2027”.
“Não conseguimos compreender a argumentação da falta de financiamento para requalificar o edifício, já que desconhecemos as tentativas, desde a expropriação, de tentar encaixar verbas para o efeito. Achamos que, ao contrário do que argumenta a maioria no executivo, as hipóteses não estão esgotadas e nada impede que se espere pelo próximo quadro comunitário, por exemplo”, referiu a deputada municipal da CDU Bárbara Seco.
Sem lugar no executivo camarário (composto por sete vereadores PSD/CDS-PP/PPM, três PS e um CDU) mas com mandatos na Assembleia Municipal, o BE defendeu que não está em causa uma “questão partidária, da direita ou de esquerda, da oposição ou da maioria, de fação ou de grupo, mas uma causa da população, da cidade e da sociedade”.
“As lembranças que a ‘Confiança’ tem consigo, do cheiro, da centralidade que a fábrica teve na vida dos bracarenses significam memória, identidade, sentido de pertença, património. Tudo aquilo que faz com que os habitantes de Braga tenham referências identitárias diferentes dos habitantes de outras cidades”, explanou a deputada municipal do BE Alexandra Vieira.
Esta noite, as três forças políticas voltaram a apelar à suspensão do processo, que será apreciado na quinta-feira na Assembleia Municipal, que tem de aprovar o negócio para que a venda possa avançar, apelando a Ricardo Rio que “ouça a população”.
Do lado da população, contaram-se histórias sobre “o cheirinho que se sentia na rua” quando a fábrica laborava e sobre “a roda-viva que girava à volta” do complexo.
A Fábrica Confiança situa-se na freguesia de S. Vítor, a maior freguesia de Braga, e ouviu-se entre os habitantes da freguesia algumas sugestões para o espaço.
“Podia aqui funcionar um lar, uma creche, salas para as associações, para os velhotes estarem”, diziam uns.
“Isto vai acabar em mais um hotel ou uma dessas coisas”, lamentavam outras.
As três forças políticas voltaram ainda a apelar à população que “compareça em força” na Assembleia Municipal e que assinem a petição ‘online’, sendo que está também a ser feita uma recolha de assinaturas nas ruas da cidade.
“Ainda nada está perdido”, lembrou o Bloco de Esquerda.