Centenária fábrica de Guimarães em leilão por 2 milhões

Curtumes Roldes
Foto: CM Guimarães

Depois de ir à falência em março deste ano, a histórica fábrica de curtumes Roldes, em Fermentões, Guimarães, está em leilão eletrónico por dois milhões de euros.

Segundo a informação do leilão, a venda inclui o “material de escritório, prensas, fulões, empilhadores, peles, compressores, diverso material de serralharia, caldeira a gás, estantes em dexion, material de laboratório, máquinas de pintar peles, empilhadeiras, lixadeira de peles, entre outros”.

O leilão online tem como valor base 2,3 milhões e mínimo de 1,95 milhões.

Segundo o Jornal de Negócios, a Roldes deixou uma dívida de 1,6 milhões de euros a 60 credores, entre os quais o BCP e a EDP.

Como O MINHO noticiou, a fábrica deixou cerca de 20 trabalhadores, todos com os salários em dia, no desemprego.

História

A fábrica foi fundada em 09 de janeiro de 1923, tendo como grande impulsionador Alberto Cardoso Martins de Meneses Macedo. Contudo, segundo a biografia constante do Arquivo Municipal Alfredo Pimenta, a falta de capital com que se debateu levou-o a constituir sociedade com Joaquim Ribeiro da Silva, proprietário e industrial, sócio na Fábrica do Castanheiro e pelo João Malheiro de Sousa Meneses, um oficial do exército, todos eles residentes em Guimarães.

De acordo com a mesma fonte, em 1924, a empresa atravessou grandes dificuldades de ordem financeira e João Malheiro de Sousa Meneses decide, por sua iniciativa, abandonar a empresa, retirando-se para Lisboa com o seu capital. Nesta altura, dá-se o alargamento da sociedade, com os novos sócios, na sua maioria proprietários e industriais provenientes de Guimarães e do Porto, a desempenharem fundamentalmente um papel de investidores, à exceção de Inácio da Cunha Guimarães, industrial, sócio da Fábrica de Tecidos de Vizela, que, no pouco tempo em que esteve ligado a esta empresa, assumiu um papel diretivo de destaque.

A partir daqui esta seria gerida não por todos os sócios, como acontecia em 1923, mas por um conselho de administração nomeado entre os vários sócios.

Contudo, em 1930, a empresa encontra-se praticamente falida, a sociedade criada em 1924 com o objetivo de salvar a empresa não dera resultado, os prejuízos eram enormes e a solução mais viável passava pelo encerramento da fábrica.

“O major Margaride, homem teimoso e de grande convicção, acreditava na viabilidade da empresa. Com este pensamento positivo, resolve recomeçar tudo de novo. Começou por fundar uma nova sociedade, composta apenas por seus familiares, e dar um novo nome à fábrica, denominando-se agora ‘Fábrica de Curtumes de Caneiros, Limitada’, com um capital social de 160 contos”, pode ler-se no texto.

Esta nova sociedade era gerida por um o conselho de administração, presidido pelo major Margaride, como gerente efetivo. O conselho fiscal era constituído pelos sócios: João Maria Cardoso Macedo de Meneses e João Felgueiras Cardoso Macedo de Meneses. No entanto, esta sociedade não duraria mais de dois anos e foi dissolvida em 1932.

Em 1932 a empresa volta à sua denominação original, Fábrica de Curtumes de Roldes, Lda, em resultado da constituição de nova sociedade, onde se destacavam os irmãos Mendes de Oliveira, capitalistas e industriais, possuidores de uma das mais importantes fábricas de curtumes de Guimarães, a “António de Oliveira e Filhos, limitada”, bem como de pela primeira vez contar com um gerente técnico com competência e méritos reconhecidos, António Rodrigues Garcia, para além do major Margaride e Joaquim Ribeiro da Silva, de volta à empresa que ajudou a fundar.

O crescimento que a empresa obteve entre 1936 e 1940 não teve continuidade nos anos subsequentes.

Em julho de 1950, por deliberação da gerência, a empresa foi encerrada reabrindo apenas, passados seis meses, em janeiro de 1951.

Em 1969, como resposta aos sucessivos prejuízos a gerência resolve fazer um esforço e proceder à renovação da maquinaria e à reorganização da contabilidade. Os elevados e consecutivos prejuízos levaram Augusto Ribeiro da Silva a propor a compra das quotas aos restantes sócios.

Em 23 de Abril de 1974, Augusto Ribeiro da Silva e alguns familiares assumem os destinos da empresa, tendo a convicção que agora estariam reunidas todas as condições para que esta de uma forma definitiva prosperar.

Entretanto, a empresa passou para as mãos da Campeão Portugal, fabricante de calçado que faliu em 2014. Na iminência de fechar, a fábrica em 2016 quase na totalidade à família Ribeiro da Silva.

 
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