Artigo de opinião
Rui Maia

Licenciado em História, mestre em Património e Turismo Cultural pela Universidade do Minho – Investigador em Património Industrial.
Hoje trazemos à luz da memória o insigne limiano, Francisco Justiniano Saraiva, comummente conhecido por “Cardeal Saraiva”, nascido em Ponte de Lima, na rua das Flores, em 26 de janeiro de 1766, filho do Tabelião do Público, Judicial e Notas naquela vila, Manuel José Saraiva e da sua esposa, Leonor Maria Teodora Correia.

A vida terrena desse insigne limiano estendeu-se por 79 anos, marcados de forma indelével por uma atividade intensa e profícua, cingida na diacronia seguinte:
1780-1782: Integra a Ordem de São Bento, em São Martinho de Tibães (Braga);
1792: Forma-se na mais antiga universidade de Portugal (1290), em Coimbra, onde se torna professor; nesse mesmo ano, torna-se sócio correspondente da Academia Real das Ciências de Lisboa;
1798-1804: Torna-se Visitador da Ordem de São Bento, cuja missão passa por visitar os mosteiros da Ordem, propondo recomendações visando a preservação e o tratamento das livrarias e cartórios;
1804-1807: Torna-se Abade do Colégio de Coimbra, desempenhando uma obra notável no cartório e na livraria;
1810-1813: Torna-se cartorário do Mosteiro do Carvoeiro;
1820: Torna-se membro da Junta Provisional do Supremo Governo do Reino;
1821: Torna-se membro do Conselho da Regência;
1822: Torna-se Bispo de Coimbra;
1823: Torna-se Reitor da Universidade e Deputado às Cortes;
1826: Torna-se Presidente da Câmara dos Deputados;
1834-1835: Torna-se Ministro do Reino;
1834-1836: Torna-se Guarda-Mor da Torre do Tombo;
1840: Torna-se Cardeal Patriarca de Lisboa.
A adoção e difusão das ideias liberais em Portugal é indissociável da Maçonaria, pelo que se presume que o Cardeal Saraiva pertencesse a essa organização.
Não obstante, são várias as referências a esse facto, em que se refere que adotou o nome de “Condorcet”, todavia, na sua obra denominada “Mensageiro de São Bento”, publicada em 1945, o mesmo nega ter pertencido a essa organização. Por outro lado, António Ventura, na sua obra “Uma História da Maçonaria em Portugal (1727-1986)”, alude ao papel da Maçonaria na implementação do regime liberal em Portugal, discriminado os maçons que integravam as Juntas Provisórias formadas, primeiro na cidade do Porto e, mais tarde, na cidade de Lisboa, onde consta o nome de Francisco de S. Luís em ambas. Além disso, Oliveira Marques, salienta que, porventura, ele foi iniciado numa loja em Coimbra, antes de 1821, com a adoção do referido nome.
O Cardeal Saraiva faleceu no Palácio da Mitra, em Marvila, em 7 de maio de 1845, ficando sepultado em São Vicente de Fora, no Panteão dos Patriarcas.
Esse insigne limiano norteou sempre a sua vida pela humildade, grosso modo, vivendo na pobreza, sem se socorrer das benesses da política.
No dia de Ponte de Lima, em 4 de março de 2009, é inaugurada a estátua em memória do Cardeal Saraiva, elaborada em bronze, concebida pelo artista local Salvador Vieira, localizada no Largo da Matriz. A mesma, pesa 900 quilos e teve um custo de 75 mil euros. Na época, o então autarca limiano, Daniel Campelo, fazia saber que se tratava de “uma homenagem do povo de Ponte de Lima”.
Em 7 de maio do ano presente completaram-se 180 anos após a morte desse notável cidadão limiano.
A morte do Papa Francisco e o sentimento de uma perda irreparável para a humanidade, ficou também a dever-se pelos seus votos de pobreza, pelas suas atitudes liberais, fraternas e apaziguadoras. O mundo atravessa provações que vão para além de qualquer racionalidade, daí a urgência de trazer a lume o Cardeal Saraiva, na esperança de que se alcance um novo paradigma, que dignifique o Homem.