O Comité do Património Mundial da UNESCO vai reunir-se, em Paris, a partir de domingo e analisar propostas de Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, entre as quais a Casa Alves Costa, em Caminha.
Até dia 16 de julho, o Comité do Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) reúne-se para a sua 47.ª sessão, onde vai analisar e votar sobre os próximos passos a dar em relação a candidaturas que vão dos Camarões à Austrália.
De Portugal, o comité vai analisar a candidatura de um conjunto de obras projetadas pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, que surge na documentação preparatória da reunião com a recomendação de revisão para decisão posterior.
A candidatura é coordenada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) e abrange o edifício da própria FAUP, o Museu de Serralves e o Bairro da Bouça, no Porto, a Piscina das Marés e a Casa de Chá da Boa Nova, em Matosinhos, o Pavilhão de Portugal, em Lisboa, a Igreja do Marco de Canavezes e a Casa Alves Costa em Caminha.
Casa protegida
A Casa Alves Costa, situada em Moledo, Caminha, propriedade do arquiteto Alexandre Alves Costa, está já sob uma zona geral de proteção (50 metros contados a partir dos seus limites externos).
Nos “elementos relevantes do processo”, disponíveis no ‘site’ do instituto público Património Cultural, refere-se que o imóvel construído “entre a segunda metade dos anos 60 e o início dos anos 70” encerra, “sem sombra de dúvida, valores de autenticidade, exemplaridade, interesse estético e histórico”.
A moradia é considerada uma “síntese exemplar de uma época de reflexão crítica sobre o modernismo, em que alguns arquitetos percebem de forma clara as vantagens de recolher lições quer nos mestres da vanguarda quer nos bons exemplos do passado”.
“Entre praias, vento e pinhais, afastadas das grandes cidades onde mais se faziam sentir os condicionamentos políticos, encomendadas maioritariamente por uma elite nortenha ilustrada e de espírito aberto, estas casas [a Casa Alves Costa e outras, em Viana do Castelo ou Ofir, por exemplo] destinadas a uma utilização sazonal e lúdica […] permitiram inovações e experiências que seriam difíceis noutras geografias”, descreve.







O documento indica ainda que a moradia se fecha “significativamente ao exterior, assumindo um desejo de intimidade e recolhimento, numa filosofia que pode ser associada à ideia tradicional de casa como ninho protetor, ou ao princípio da rejeição da realidade política (que era, à época, a ditadura do Estado Novo)”.
Numa “análise mais pragmática”, é equacionada uma “lógica de simples para-vento, uma vez que as paredes quase cegas voltadas para a rua resguardam a casa da nortada que castiga regularmente aquela zona costeira”.
Relatório sobre conservação do Santuário do Bom Jesus
De Portugal, foram ainda submetidos três relatórios sobre os estados de conservação do Santuário do Bom Jesus, em Braga, do Real Edifício de Mafra e do Centro Histórico de Guimarães e da Zona de Couros.
Do Brasil, vai estar em avaliação a candidatura do Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, com a recomendação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla inglesa) de que o processo deve voltar ao país proponente para, entre outros fatores, garantir a concordância do povo indígena Xakriabá.
Por seu lado, quer a candidatura da Guiné-Bissau quer a de Moçambique estão sob proposta para inscrição como Património Mundial.
Bissau candidata à lista de Património da Humanidade o arquipélago dos Bijagós, depois de em 2013 já ter sido analisada uma proposta de classificação, que acabou adiada para que fosse possível reforçar a proteção legal daquela paisagem natural.
O relatório da IUCN assinala que o arquipélago é “provavelmente o mais importante local em África e um dos mais importantes do mundo em termos de ninhos de tartarugas marinhas, e o segundo mais importante de recolha de comida em África para a rota de migração do Atlântico Este, que é de importância global para as aves migratórias”.
De Moçambique, está proposto o Parque Nacional de Maputo, que está ligado ao parque das Zonas Húmidas iSimangaliso, na África do Sul, que já tem estatuto de Património Mundial.
Com a eventual elevação da parte moçambicana ao estatuto de Património Mundial da Humanidade, as duas partes vão avançar com conversações para encontrar uma nova forma de gestão, com a preocupação principal na movimentação das espécies.
“Caso se concretize, vai ser criado um comité conjunto e um plano operativo conjunto [com a África do Sul]. A gestão é individual de cada país, mas terá de haver coordenação em conjunto” para se “manter o valor” de ambos os parques, disse à Lusa esta semana o administrador daquele parque, Miguel Gonçalves.
A Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural foi adotada pela UNESCO em 1972 e tem por objetivo “proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excecional”, como se lê na página da Comissão Nacional da UNESCO.