O bimilenar Caminho da Geira e dos Arrieiros, que liga Braga a Santiago de Compostela, está em crescendo, sendo cada vez mais os peregrinos galegos e minhotos a cruzarem-se, com destaque para o troço deste domingo, entre o Campo do Gerês e Os Baños, em Lobios, Ourense, na Galiza, percorrido por meia de centena de caminheiros, atravessando a Portela do Homem.
O próximo passo do grupo organizado de peregrinos, de ambos os países, mas não só, é o reconhecimento oficial do Caminho da Geira e dos Arrieiros, um dos dez percursos portugueses, existindo quem avente ter sido o primeiro a ser usado, pois ligando Braga (Bracara Augusta) a Astorga (Asturica Augusta), também permitia o acesso para Santiago de Compostela.
A mais-valia deste Caminho de Santiago, preferencialmente de meia encosta (para não ter grandes desníveis de altura e que o tornam mais suave), em especial nas Serras do Gerês (Terras de Bouro) e de Santa Eufémia (Lobios), é a sua Geira Romana, a Via XVIII, ou Via Nova, a última construção na Península Ibérica da engenharia militar romana, nos primórdios do Século I.
Meia centena de peregrinos portugueses e galegos fizeram terceira etapa no domingo
Este domingo, a reportagem de O MINHO acompanhou as dezenas de peregrinos de Portugal e de Espanha, que se fizeram ao caminho, já nesta terceira etapa do Caminho da Geira e dos Arrieiros, entre Campo do Gerês (Terras de Bouro) e Os Baños (Lobios), sendo que na próxima semana voltará a entrar em Portugal, entre Lobios e Castro Laboreiro, passando por Entrimo.
Ao princípio da tarde, a chegada ao Café da Portela, onde foram recebidos pelo seu proprietário, Jorge Barbosa, foi a pausa e o momento de convívio entre a meia centena de peregrinos dos dois países ibéricos, seguindo a jornada para Os Baños, já do lado espanhol, no concelho de Lobios, da província de Ourense, na Comunidade Autónoma da Galiza, o local onde terminou.
“Estamos a intensificar diligências para que seja reconhecido oficialmente”
Celestino Lores, presidente da Associação dos Amigos e Amigas dos Caminhos de Santiago, após assinar o Livro do Peregrino, no Café da Fonteira, da Portela do Homem, reuniu com Manuel Rocha, de Esposende, confrade maior da Confraria do Glorioso Apóstolo Santiago, e com o presidente e o vice-presidente da Associação Espaço Jacobeus, António Devesa e Miguel Sampaio.
Ficou decidido que em fase do crescendo de peregrinos e “por uma questão de verdade histórica” e “reposição daquilo que lhe é devido, estamos a intensificar diligências e contactos com as autoridades eclesiásticas e políticas de Espanha e de Portugal, para que seja reconhecido oficialmente o Caminho da Geira e dos Arrieiros”, visando “criar albergues e melhorar a sinalética”.
Em declarações a O MINHO, Celestino Lores Rosal não escondia a sua satisfação pela crescente adesão de peregrinos a este caminho de longos séculos, por onde passavam as tropas e o cursus publicos (correio) do Império Romano, daí existirem ainda vestígios das construções, como os extremos das pontes em granito derrubadas aquando da Guerra da Independência em 1640.
Celestino Lores Rosal, da província de Pontevedra, na Galiza, disse que “este caminho é maravilhoso, único, passando pelo parque transfronteiriço do Gerês/Xurés, o que constitui uma surpresa muito agradável para muitos peregrinos, mesmo para os que estão habituados a percorrer outros Caminhos de Santiago, por isso tem de ser reconhecido, será só uma questão de tempo”.
“São cada vez mais os peregrinos que o percorrem”
Já Manuel Rocha, que é o confrade maior e autor dos principais mapas que sistematizam o entrecruzamento entre os diversos Caminhos de Santiago, disse que “depois do trabalho no Caminho da Costa, a nossa prioridade agora é que se reconheça ser o Caminho da Geira e dos Arrieiros, pois são cada vez mais os peregrinos que o percorrem, impondo-se o seu reconhecimento”.
António Devesa, de Braga, um outro especialista dos Caminhos de Santiago, que além de presidente da Associação Espaços Jacobeus, sediada em Braga, é membro de várias organizações internacionais jacobeias, coordenou no terreno toda a logística, envolvendo ao todo 55 peregrinos de ambos os países, orientando-os ao longo de todo o traçado do Campo do Gerês a Lobios.
Arrieiros eram homens que transportavam animais de carga ao longo do caminho medieval
Luís Miguel Sampaio, por sua vez, salientou o facto de ter sido aberta recentemente mais uma delegação da Associação Espaço Jacobeus, desta vez em Luanda, com a angolana Maria Odete da Silva a ser a primeira africana a percorrer o Caminho da Geira e dos Arrieiros, visando “a internacionalização do Caminho da Geira e dos Arrieiros a cada vez mais peregrinos estrangeiros”.
O reconhecimento oficial daquele que é o mais antigo ou pelo menos dos mais antigos Caminhos de Santiago, será instalar um albergue, o primeiro dos quais em Terras de Bouro, uma vez que durante toda Idade Média, um percurso muito utilizado pela Geira, daí o seu nome, bem como o dos Arrieiros, homens que transportavam animais de carga, ao longo do caminho medieval.
Um dos argumentos mais fortes para o reconhecimento oficial do Caminho da Geira e dos Arrieiros é reunir, em Terras de Bouro, a maior concentração mundial de miliários romanos, percorrendo cerca de 30 quilómetros naquele concelho geresiano, por onde passam as sucessivas milhas, marcadas no terreno, parte das quais assinaladas na Bouça da Mó da Mata de Albergaria.