O cinema de António Reis e Margarida Cordeiro, dois autores que assinaram “uma das mais singulares obras do cinema português”, vai estar em retrospetiva ao longo de agosto no Theatro Circo, em Braga, revelou a Cinemateca.
Serão quatro sessões de cinema, sempre às segundas-feiras, programadas pelo cineclube de Braga, com filmes que foram digitalizados “a partir dos melhores suportes originais em arquivo”, refere a Cinemateca Portuguesa em comunicado, num processo que decorreu ainda antes dos programas de digitalização FILMar e do Plano de Recuperação e Resiliência.
Na retrospetiva será possível ver seis filmes, correalizados por António Reis e Margarida Cordeiro ou só assinados pelo cineasta e poeta, e um, “Do céu ao rio” (1964), coassinado com César Guerra Leal.
O ciclo contará com duas curtas-metragens de António Reis, “Painéis do Porto” (1963) e “Jaime” (1974), e três longas-metragens correalizadas com Margarida Cordeiro: “Trás-os-Montes” (1976), “Ana” (1982) e “Rosa de Areia” (1989), último filme feito dois anos antes da morte de António Reis.
Para a Cinemateca, os dois autores assinaram “um cinema de grande rigor estético e formal, de caráter profundamente telúrico, entre a etnografia e a poesia. Uma obra singular na História do cinema português e fundamental na formação de cineastas contemporâneos, como Pedro Costa, João Pedro Rodrigues, Manuela Viegas ou Manuel Mozos”.
António Reis nasceu em Valadares, Vila Nova de Gaia, em 1927, e morreu em Lisboa, em 1991, enquanto Margarida Cordeiro, que começou a trabalhar com o cineasta e poeta em “Jaime”, nasceu em 1938, em Mogadouro, e trabalhou como médica psiquiatra.
Reis começou como assistente de realização de Manoel de Oliveira. Depois, como argumentista, escreveu os diálogos de “Mudar de Vida”, de Paulo Rocha. Mais tarde afirmou-se como realizador de documentários e obras de ficção, assumindo um papel importante na vaga do Cinema Novo português, na década de 1960.
Os filmes de António e Reis e Margarida Cordeiro têm sido alvo de várias retrospetivas em Portugal, mas também suscitam interesse no estrangeiro, tendo já sido exibidos, por exemplo, no Instituto Moreira Salles (Brasil), no Harvard Film Archive (Estados Unidos) e no Museu Rainha Sofia (Espanha).
Na primeira edição do “Dicionário do Cinema Português”, de Jorge Leitão Ramos, na entrada dedicada a António Reis (e Margarida Cordeiro) lê-se que o cinema do realizador “tem a ambição desmedida da poesia, único critério da sua verdade, do seu vigor”, “sem paralelo” com nada já erguido. São “poemas fílmicos, belíssimos e solidários, majestáticos”. “Dir-se-iam castanheiros…”, conclui o crítico, aludindo às grandes e resistentes árvores dos soutos trasmontanos.