O Executivo Municipal de Braga debate e vota, na terça-feira, em reunião de vereadores, uma proposta de classificação como monumento de interesse municipal do prédio n.º 5-9 da rua de São Victor, cuja construção data do século XIX.
Atualmente para o prédio decorre um processo de licenciamento, tendo sido submetido na Câmara Municipal um pedido de obras, da empresa Arrives and Conquest, S.A, com vista à reconstrução e ampliação do edifício existente, destinado a habitação multifamiliar, encontrando-se, neste momento, em fase de apreciação técnica.
A sua função atual – diz a proposta – é a de habitação (devoluta). Acrescenta que é um imóvel de arquitetura civil, destinado a habitação, reedificado/ampliado em meados do século XIX, inserido no contexto urbano do Centro Histórico (espaço central de Braga), fronteiro à Igreja da Senhora-a-Branca e nas proximidades da Igreja de São Victor, localizada a nascente”.
Localiza-se a nascente da cidade, num quarteirão habitacional com a presença de comércio e serviços, adossado a construções de quatro pisos. Primitivamente, o edifício era composto por uma habitação de um andar, edificado provavelmente no século XVIII, sendo propriedade de José António Fernandes Braga, um negociante e abastado proprietário, natural de São Victor, que terá mandado efetuar obras de remodelação e ampliação no prédio para sua habitação e da sua família. Estas obras foram concluídas provavelmente na segunda metade do século XIX, sendo-lhe acrescentado um segundo andar, águas furtadas e uma segunda habitação a poente, apresentando ambos os imóveis as mesmas características arquitetónicas, nomeadamente ao nível da fachada principal.
Dois prédios autónomos
O documento que vai à reunião – e que aqui seguimos – diz que, “atualmente os dois prédios são autónomos, constituídos por duas habitações, no entanto primitivamente encontravam-se interligados, internamente. O prédio atual é composto por uma habitação de quatro pisos, sendo o último de águas furtadas, apresentando a fachada principal voltada a sul, para a rua de São Victor e a posterior, a norte, a confrontar com os terrenos da Arquidiocese de Braga, com entrada pela rua de Santa Margarida.
O edifício, em cantaria rica de granito, é composto por planta simples, retangular, com a fachada principal revestida a azulejos policromos em tons de azul e branco, exibindo decoração com motivos florais. Aberta com duas janelas e uma porta, em cada piso, ordenadas de forma simétrica, com duas varandas de gradeamento em ferro, forjado e fundido, pintada de branco, uma central, no segundo piso, repetindo-se no terceiro piso, com uma varanda que se estende a todo o comprimento da fachada. No alçado posterior existe um logradouro.
Descrição histórica
Segundo as fontes documentais existentes e os estudos, provenientes das várias campanhas arqueológicas realizadas em Braga pela Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, foi possível confirmar que a Rua de São Victor já existia durante a dominação romana, integrando uma das principais vias que partiam de Bracara Augusta, a Via Romana XVII, do Itinerário de Antonino, que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga), passando por Aquae Flaviae (Chaves).
O seu trajeto, tal como as restantes vias, iniciava-se no atual Largo de Santiago, que correspondia à milha zero, tomando o Largo Carlos Amarante, cuja área correspondia à grande Necrópole da Via XVII, seguindo em direção à zona leste do concelho, passando próxima à Fonte do Ídolo, atravessava a Avenida da Liberdade, junto do atual edifício “Liberdade Street Fashion”, no qual foram descobertos troços da via e continuava pelas atuais ruas do Raio, Senhora-a-Branca, São Victor, D. Pedro V, São Victor-o-Velho (atualmente cortada pelas antigas instalações da Fábrica Confiança) e continuava pela Nova de Santa Cruz, chegando até Gualtar e dirigindo-se para Asturica Aqua Flaviae.
Diogo de Sousa alargou a cidade
A partir do século XVI, – diz, ainda, a proposta – a rua de São Victor adquiriu uma nova imagem, com o alargamento da cidade extramuros, empreendida durante a prelatura de Dom Diogo de Sousa (1461-1532), Arcebispo de Braga entre 1505-1532, considerado um dos mais importantes fautores da história da cidade bracarense e o “novo fundador” desta cidade. Quando chegou a Braga e encontrou uma cidade pequena e acanhada, que mais parecia uma aldeia, empreendeu uma grande reforma, no seu desejo de engrandecer a cidade, sendo responsável por imensas obras e beneficiações feitas em toda a cidade. Para ampliação da urbe mandou abrir grandes praças públicas, junto das portas da muralha que circundavam a cidade medieval, que ainda existem atualmente, como o Campo dos Remédios, (hoje Largo Carlos Amarante), o Campo das Hortas, o Campo das Carvalheiras, Campo da Vinha (hoje Praça Conde de Agrolongo) e o Campo de Sant’Anna, (hoje Praça da República e Avenida Central).
Para ligação destas praças mandou abrir novas ruas que se encontravam interligadas entre si e também com o centro da cidade. O recém-aberto Campo de Sant’Anna ligava com a atual rua de São Victor, que foi mandada rasgar, tendo, em toda a sua extensão, sido edificadas habitações. Na interceção entre as duas ruas e como remate da nova praça Dom Diogo mandou edificar um templo, primitivamente, conhecido como Igreja de Nossa Senhora das Neves, atual Igreja da Senhora-A-Branca, encontrando-se representada no Mapa da cidade de Braga de Georg Braun, datado de 1594.