O diretor-geral da Associação Empresarial de Braga, Rui Marques, considera que “o impacto económico brutal que o confinamento teve na economia e empresas”, torna implausível “a hipótese de um novo confinamento”, mas Portugal poderá enfrentar uma nova vaga da covid-19, enquanto novas medidas restritivas irão ser impostas a partir desta quarta-feira.
“Portugal tem quase a totalidade da população vacinada, se surgir uma nova vaga, não é expectável que se administre a mesma solução do passado, porque já não estamos tão desprotegidos como anteriormente, mesmo que se possam vir a tomar algumas das medidas restritivas que foram abolidas, como o uso obrigatório de máscara no espaço público e em estabelecimentos comerciais”, afirma Rui Marques a O MINHO.
“Estou certo que a capacidade de reinvenção evidenciada pelos empresários e a sua enorme resiliência foram fatores absolutamente críticos para as empresas conseguirem ultrapassar este período tão turbulento, no qual durante muitos meses aguentaram estabelecimentos encerrados e receitas reduzidas praticamente a zero”, acrescenta sobre a resistência do tecido empresarial do concelho de Braga, face aos confinamentos.
“A intensidade e a duração alongada desta crise fez-se sentir, naturalmente, na dinâmica e na demografia empresarial da região, ainda assim, julgo que o maior destaque nesta crise vai para a grande resiliência do setor empresarial; repare-se que face a um contexto fortemente adverso, o abrandamento da dinâmica empresarial não foi muito expressiva, registando-se uma diminuição de cerca de 10% ao nível da constituição de novas sociedades em 2020 face a 2019” afirma o diretor da Associação Empresarial de Braga.
Do outro lado da balança, “o número de dissoluções aumentou cerca de 22%, o que significou apenas mais 74 empresas dissolvidas em 2020 do que em 2019, e ao nível dos processos de insolvência, não se verificou, até à data, um efeito visível na região”, acrescenta Rui Marques.
“Braga é indubitavelmente umas das cidades portuguesas que está a registar um dos processos de retoma mais vigorosos do país, porque manteve a sua estrutura empresarial e não foi afetada por um aumento substancial do número de desempregados, ou seja, manteve a sua capacidade de resposta de oferta e o poder aquisitivo da procura”, explica.
Turismo, um dos pilares económicos da região
O turismo é uma atividade económica de elevada influência no tecido empresarial do Minho, afetando diretamente a restauração e o alojamento e indiretamente os serviços ou o imobiliário. A retoma gradual deste fluxo humano, interno e externo, permitiu um novo fôlego a determinadas franjas do tecido empresarial da região, que serão novamente afetadas pela imposição de medidas restritivas à circulação de pessoas, a partir do dia um de dezembro, enquanto se verifica a tendência crescente do número de infetados em Portugal e a presença de uma nova variante, a Ómicron.
Xavier Cobas é professor titular de economia financeira na Universidade de Vigo, reside em Seixas, Caminha, e estudou o impacto do encerramento de fronteiras e dos sucessivos confinamentos na economia transfronteiriça do rio Minho. Entrevistado por O MINHO, Xavier classifica a importância do Turismo na região como alta “especialmente em concelhos com oferta comercial orientada aos turistas como Valença, ou com oferta balnear como Caminha”.
“As indústrias transformadoras são a principal atividade económica da região e por volume de negócios representam 42,63% do Alto Minho, 34,38% do Vale do Cavado e 49,72% do Vale do Ave, de seguida vem o Comércio influenciado positivamente pelo turismo”, afirma o académico baseado nos dados de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.
O economista considera que um novo confinamento “seria muito negativo” para o turismo da região: “De facto, mesmo sem confinamento, o avanço do número de infetados pela covid-19 já provoca atualmente a renúncia de reservas em hotéis e restaurantes”.
O efeito catalisador do turismo no tecido empresarial do Minho é diretamente relevante “nas atividades de alojamento, restauração e similares, e no comércio” e indiretamente “no resto das atividades, como a agricultura, a construção ou os serviços”.
“A retoma no setor do turismo acontece gradualmente, distinguindo-se duas velocidades de recuperação, mais rápida nas atividades menos dependentes de turistas estrangeiros, como é o caso da restauração, e num ritmo mais lento nas atividades em que a dependência é mais acentuada, como é o caso do alojamento”, explica Rui Marques, diretor da Associação Empresarial de Braga.
“No setor da restauração com o aliviar das restrições às atividades económicas e o aumento significativo da procura dos consumidores locais e do turismo interno, a inversão da tendência de uma série consecutiva de cerca de 16 meses de quebras na faturação, face a meses homólogos do ano pré-pandemia aconteceu no passado mês de julho”, explica relativamente ao setor económico da restauração que beneficiou largamente do fluxo de turismo interno.
No alojamento só com “o fim das restrições à atividade empresarial e à livre circulação de pessoas é que se registou a inversão na série de quebras na faturação” e para este ramo empresarial “agosto foi o primeiro mês de 2021, em que o volume de negócios foi superior ao mês homólogo de 2019”. No entanto, “a recuperação neste setor é mais tímida e menos consistente”, adianta Rui Marques.
“O setor da restauração e similares, assim como o próprio setor do comércio e serviços são hoje muito impactados pelo desempenho turístico da região e do ponto de vista turístico, Braga tem um perfil marcadamente de ‘city touring’, permitindo que todas as atividades económicas localizadas no centro histórico beneficiem imenso do aumento de tráfego de pessoas e do aumento da procura protagonizada por este novo segmento de clientes, os turistas”, explica o diretor da Associação Empresarial de Braga.
Novas medidas a partir de quarta-feira
Apesar da retoma económica dos últimos meses será novamente obrigatório, a partir do dia 01 de dezembro, o uso de máscara em todos os espaços fechados e em todos os recintos não excecionados pela DGS. Será necessário apresentar o certificado digital no acesso a restaurantes, estabelecimentos turísticos e alojamento local, eventos com lugares marcados e ginásios.
Passará a ser exigido um teste negativo, inclusive para pessoas vacinadas, no acesso a lares, visitas a pacientes internados em estabelecimentos de saúde, grandes eventos sem lugares marcados ou em recintos improvisados e recintos desportivos, discotecas e bares.