Braga: Drone mostra estado atual do Palácio D. Chica

Vai ser hotel de luxo

Imagens incríveis captadas com recurso à tecnologia ‘drone’ mostram o estado atual do Palácio D. Chica, em Palmeira, Braga, edifício que foi recentemente adquirido e irá ser transformado num luxuoso hotel de requinte.

As imagens foram registadas pelo fotógrafo e videógrafo Carlos Nunes, de Amares, e publicadas esta sexta-feira na sua página das redes sociais.

Vídeo: Carlos Nunes Photography

No vídeo é possível observar vários detalhes próximos de zonas como a fachada principal e a sua mítica porta de entrada, mas também os andares superiores, o telhado e até o miradouro do alto do palácio, que mostra quase toda a zona superior do vale do Cávado até à entrada do concelho de Barcelos.

3D mostra como vai ficar

Em março deste ano, foram divulgadas imagens em 3D do futuro estado dos dois pisos do edifício histórico, que atualmente encontra-se debaixo de um projeto aprovado de forma a transformar o espaço que já foi discoteca e salão de festas num hotel de luxo com dez quartos, a cargo da construtora Magalhães & Rocchio, Lda, de Cossourado, Barcelos.

A mesma firma divulgou imagens do que será o hotel, mostrando o piso inferior com a receção do “hotel de charme 5 estrelas” anunciado. Também nesse piso estão o bistrô, com duas salas, um espaço dedicado à gastronomia de experiência e cozinha de autor, com uma área exterior de lounge para apoio. As míticas escadarias brancas, que outrora fomentaram lendas de espíritos de D. Chica, também foram adaptadas, contendo ao seu redor um elevador.

Magalhães & Rocchio, Lda

Segundo o gabinete de arquitetura e engenharia “Atelier”, o elevador panorâmico será de acesso ao restaurante superior e às suites, e tem vista para uma garrafeira de vinhos selecionados.

No segundo piso, o andar que se encontra em melhor estado de conservação, incluíndo arcos, colunas, lareiras, escadas e tetos, pode ser melhor preservado em relação à traça antiga.

“Este piso será dedicado a gastronomia regional ou à-la-carte, e ainda para servir as refeições dos hospedes do hotel”, adianta a construtora.

Para Magalhães & Rocchio, Lda, “esta área de estar é um espaço que pretende galantear o visitante com uma arquitetura eclética de estilo romântico”.

Magalhães & Rocchio, Lda

Ao longo de mais de um século o  imóvel conheceu vários donos, desde quem o mandou construir até à junta de freguesia local e mesmo o banco, tendo ficado praticamente esquecido depois de ser comprado por uma  imobiliária no início dos anos 2000, e que o vendeu recentemente.

INTERIOR DO PALÁCIO D. CHICA EM 2017. FOTO: DR

João Rego e Dona Chica

Em 1915, foi colocada a primeira pedra na obra, depois de aprovado o projeto pelo prestigiado arquiteto suíço Ernesto Korrodi, a pedido do  bracarense João Ferreira Rego, que o queria dar como prenda à sua jovem esposa Francisca (daí o nome D. Chica), com quem tinha casado em 1913. Cinco anos depois, em 1921, foi pedido divórcio por D. Chica, que se sentia “abandonada” pelo companheiro, mudando-se depois para o Porto onde casou novamente, desta vez com aquele que já era apontado como seu amante em  Braga – e com quem teve um filho. Dois anos antes, João Rego já tinha mandado parar as obras no Palácio, que só voltou a ter obras depois da morte de João Rego (1889-1935).

Francisca era filha do empresário  bracarense (de Merelim) Francisco Peixoto, que emigrou jovem para o Brasil. A sua mãe era indígena brasileira. Quando veio para Portugal casar com João Rego, seu primo, em 1913, rapidamente se tornou numa figura popular na cidade. Tinha quatro carros (um deles um Rolls Royce), motorista particular e um mecânico, que acabaria depois por fundar a conhecida fábrica Pachancho graças a 10 mil escudos que D. Chica lhe emprestou. Depois de  Braga e Porto, ainda viveu em Paris, sempre numa vida de ‘glamour’, acabando por falecer na sua terra-natal, Brasil, na década de 1960.

Francisca Peixoto e João Ferreira Rego. Foto: José Netta Phot. Evaristo (Póvoa de Varzim)
Retrato de Francisca Peixoto de Sousa com crianças (1920). Foto: José Netta Phot. Evaristo (Póvoa de Varzim)
Retrato de Francisca Peixoto de Sousa (1920). Foto: José Netta Phot. Evaristo (Póvoa de Varzim)
João Ferreira Rego. Foto: José Netta Phot. Evaristo (Póvoa de Varzim)
Francisca Peixoto e João Ferreira Rego. Foto: José Netta Phot. Evaristo (Póvoa de Varzim)

Morte de João Rego – Inicio da ‘montanha-russa’

E foi depois de sair da posse do seu fundador que começou uma verdadeira ‘montanha-russa’. Em 1938, um industrial inglês comprou o palácio por 165 mil escudos (moeda antiga), numa altura em que lá já tinha sido investido o valor de 340 mil escudos. Quando percebeu que não ia conseguir fazer nada com ele, o industrial vendeu-o a um funcionário do conde de Vizela, que começou a fazer obras no mesmo sentido da traça original, sem qualquer alteração. Contudo, a Câmara de  Braga da altura não concordou e acabou por se destruir os poucos elementos que decoravam o interior na sua vertente original.

Palácio em construção entre 1915 e 1919
Palácio em construção entre 1915 e 1919

Por volta dos anos 1950, foi a Junta de Freguesia de Palmeira a comprar o  imóvel, concessionando-o a uma empresa de investimentos turísticos, a IPALTUR, com um contrato de vários anos que durou até 1992. Durante esse período, além de obras, o  imóvel foi classificado como de Interesse Público, por despacho em Diário da República datado de fevereiro de 1985.

Entre 1988 e 1992 sofreu novamente obras para ser transformado num espaço cultural e recreativo, assim como um restaurante, graças a um projeto da autoria do arquiteto Paulo Tonet. Contudo, nesse mesmo ano, a IPALTUR, falida, tentou trespassar o imóvel à empresa Veloso Empreendimentos Turísticos e Residenciais, para pagar a dívida, mas os credores não aceitaram, levando a que, em 1993, a propriedade passasse a estar hipotecada, passando a título difinitivo para a Caixa Geral de Depósitos (principal credora da IPALTUR) em 1998.

Palácio D. Chica nos anos 80/90. Foto: CM  Braga / Arquivo

Em 2004, após vários anos ao abandono, o palácio foi comprado pela  imobiliáriaEuropóvoa em hasta pública, pelo valor de 2 milhões de euros. Contudo, não houve qualquer investimento no mesmo que se notasse e acabou por ser colocado novamente à venda dois anos depois pelo valor de 2,25 milhões de euros, valor que aumentou para 2,5 milhões em 2009.

Em 2013 foi classificado como monumento de interesse público pelo Ministério da Cultura, por se tratar de “um valor de grande importância nacional” e que não pode ficar negligenciado, por isso constituir um “dano grave para o património cultural”, ficando assim toda a zona do Palácio classificada publicamente como “Zona Especial de Proteção”.

Em 2014 foi adquirido pela PMA construções, outra empresa da Póvoa de Varzim, mas três anos depois foi novamente colocado à venda por 1,25 milhões de euros. Durante cinco anos esteve novamente abandonado e foi utilizado por muita gente que lá entrou à socapa e que roubou ou danificou vários equipamentos e mobiliário. Em 2018, o proprietário foi obrigado a colocar vidros partidos enterrados em cimento em cima do muro que ronda grande parte da propriedade para evitar que pessoas avançassem por cima.

Em 2019 voltou a conhecer novos donos, um grupo de irmãos de Barcelos que querem transformar o local num hotel de luxo com apenas 10 quartos. O projeto, da autoria do gabinete AtelierArq, foi aprovado em 2023 pelo pelouro do Urbanismo da Câmara de  Braga.

 
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