Alguns minhotos estão já preparados para receberem refugiados ucranianos em casa, face aos crescentes pedidos a partir dos centros de acolhimento na Polónia, assistindo-se a uma crescente ação da sociedade civil da região, como sucede já na cidade de Braga, onde este domingo se faziam os preparativos para acolherem mulheres e crianças fugidos da guerra.
Em Ferreiros, um casal acolheu na sua residencial quatro cidadãos ucranianos, ao mesmo tempo que está a arranjar uma parte da sua residência, podendo acolher cerca de dezena e meia de refugiados, segundo referiu a O MINHO Secundino Azevedo, que na juventude foi ele próprio combatente, na Guiné Bissau, sabendo bem o que representa uma guerra e fazendo questão de contribuir para minorar o sofrimento de mulheres e crianças, enquanto na Ucrânia os homens estão sempre a combater, perante a invasão permanente da Rússia.
“A ideia partiu das minhas filhas, ao verem na televisão todo este drama que está a correr naquelas pessoas, entre a Ucrânia e a Rússia”, explicou Secundino Azevedo O MINHO acrescentando que as filhas lhe disseram, e à mulher, haver pessoas a precisar de alojamento.
“E nós temos um espaço que está parado, pelo que damos agora todo o apoio na nossa residencial, não cobrando a ninguém nada pela permanência, nem pelas refeições. Estamos a ajudar quem precisa, decorrendo agora a adaptação de espaço na casa para recebermos mais umas 10 até 15 pessoas, além das três senhoras que já estão aqui, a morar connosco”, afirmou.
Secundino recorda os tempos em que esteve na guerra colonial: “Não percebo que se esteja a passar uma situação destas, uma guerra profundamente injusta, de pessoas em sofrimento profundo, só porque está a lutar pela liberdade e independência, por isso temos de fazer todos alguma coisa, porque até a nossa economia está a ser afetada em Portugal”.
“E repare-se que em particular os ucranianos são um povo trabalhador, muito aplicados e cordatos, já cá os tivemos há anos e a ideia é muito positiva”, vaticinou.
Entretanto, Diana Oliveira, da Associação Guias de Portugal, acabava de chegar com um carregamento de bens essenciais, através de um grupo que angariou medicamentos, roupa e comida, proveniente de Celeirós, mais concretamente das Guias, Junta de Freguesia e Centro Social.
A guia referiu a O MINHO que “a recolhe foi realizada durante o fim de semana e algumas das pessoas que nos vinham entregar as coisas até estavam emocionadas com a situação, o que se compreende, porque não se esperava que estivéssemos a viver agora na Europa este tipo de situações dramáticas e desejando que não sejamos nós a precisar”.
Diana e António adaptam ginásio doméstico para funcionar como habitação
Em Lomar, Diana Amaral e António Birra estão a adaptar a parte de baixo da moradia e onde tinham um ginásio doméstico, que a partir deste domingo estará pronto para receber duas pessoas, por exemplo mãe e filho, já que dispõem de uma cama de casal, conforme a anfitriã explicou a O MINHO.
Revelou que “através do Instagram e junto de amigas”, conseguiu “arranjar tudo aquilo que é preciso, desde a cama e um televisor, máquina de café e cafeteira elétrica, micro-ondas, aquecedor e desumidificador, enfim, tudo aquilo que vai ser preciso para instalar condignamente as pessoas, a fim de sentirem bem aqui em casa”.
A recetividade dos bracarenses contactados este domingo por O MINHO está a ser desde a primeira hora enquadrada por associações da sociedade civil, desde a Virar a Página até à Braga SOS Ucrânia, conforme referiram dois dos seus responsáveis à nossa reportagem.
São precisos beliches, camas e roupa de quarto
Goretti Ferreira, da Virar a Página, explicou o ponto de situação a O MINHO: “Enquanto estamos desde há vários dias consecutivos sempre a recolher bens e a encaminhar camiões para a Polónia e a Roménia, em especial medicamentos e material médico, bem como produtos térmicos, envolvemo-nos ainda numa segunda frente, que é arranjar casas para receberem famílias, uma das quais, por exemplo, até foi agora na cidade do Porto, mas, claro, mais em Braga”.
Referindo-se ao casal Azevedo, Secundino e Teresa, a dirigente da Virar a Página, Goretti Ferreira elogiou a sua disponibilidade, informando que os “Escuteiros de Lomar virão esta segunda-feira pintar o interior da casa e os espaços exteriores para que tudo fique apto a receber da melhor maneira possível quem tanto precisa de nós nesta fase bastante difícil”.
“Nesta segunda linha vamos precisar de beliches, camas, almofadas, roupas de quarto, de modo a instalar as famílias, hoje por exemplo já alimentamos 22 refugiados ucranianos e vamos continuar a fazer aquilo que sempre temos realizado, que é confecionar refeições, entregando-as em casa das pessoas, pelo que também a nível alimentar mais do que nunca vamos precisar da ajuda de todos e receberemos todas as ofertas”, disse Goretti Ferreira.
Bens prioritários são artigos médicos
Fernando Vieira, da Braga SOS Ucrânia, enquanto dirigia os trabalhos, nas instalações da empresa Multitendas, em Padim da Graça, concelho de Braga, disse que “neste momento os bens prioritários são artigos médicos e produtos de higiene”.
“Aliás, este sábado saiu uma carrinha cheia daqui de Braga com medicamentos destinados aos hospitais da Ucrânia, pelo que iremos a todo o momento continuar a remeter camiões com os produtos mais prementes para apoiar a comunidade ucraniana, apelando-se a que continuem a apoiar-nos com esses produtos”.
“A nossa iniciativa surgiu de um grupo de amigos que tem muitos colegas ucranianos. Já há alguns anos que convivemos com ucranianos e temos amigos e alguns até família na Ucrânia, pelo que temos gente de todo o distrito de Braga, através de 60 pontos de recolha, a ajudar-nos com tais bens, que são essenciais para esse povo”, concluiu Fernando Vieira.