A jovem Beatriz Caldas é, por estes dias, uma heroína no mundo da canoagem, depois de ter prestado um contributo importante para evitar o que poderia ter sido uma tragédia nas águas do rio Lima, em Ponte de Lima, na passada quinta-feira, no arranque dos Mundiais de maratonas. A limiana conseguiu ajudar uma colega que já tinha ido por três vezes ao fundo do rio, protegendo-a com a embarcação e recorrendo a uma pagaia para a puxar para a tona.
Pouco faltava para as 11:00 horas da manhã de quinta-feira quando “Bia”, atleta do Clube Náutico de Ponte de Lima que representava Portugal na corrida 1 em K1 juniores feminino, apercebeu-se que uma colega japonesa tinha acabado de cair à água depois do seu caiaque ter virado.
Ambas até competiam para chegar nos lugares cimeiros, mas Beatriz, natural de Ponte de Lima e perfeita conhecedora daquelas águas, decidiu interromper a sua corrida e, de forma engenhosa, conseguiu evitar que a atleta Yuki Nomura se afogasse ou fosse atingida por outra embarcação.
Alfredo Castro, bombeiro de primeira na corporação de Ponte de Lima, conhecedor da modalidade e presença habitual no socorro deste tipo de campeonatos, não tem dúvidas. “A atleta japonesa quase de certeza que ia ao fundo se não fosse a rápida intervenção da Bia”, afirmou a O MINHO, ele que também foi testemunha do incidente.
“A canoa virou e a atleta japonesa ficou em muitas dificuldades, foi duas vezes ao fundo mas conseguiu regressar. Foi aí que os árbitros se aperceberam e pediram auxílio. A Bia estava a passar, parou, colocou a canoa na diagonal para proteger a área da água onde estava a colega, deu-lhe a pagaia e conseguiu puxá-la, numa altura em que a japonesa já ia pela terceira vez abaixo”, descreveu Alfredo.
A embarcação de socorro naquele setor encontrava-se em dificuldades para chegar à ocorrência, uma vez que estavam perto de 30 atletas em prova e que barravam a passagem no rio.
“Foi por isso que a nossa embarcação avançou logo para aquele setor”, conta o bombeiro, explicando que, com ajuda de Beatriz Caldas, os bombeiros conseguiram resgatar a japonesa para o barco de socorro e levá-la para terra.
Juizes aplaudiram de pé
“A Beatriz, depois de ajudar, continuou a prova, acho que acabou nos últimos lugares, mas não desistiu”, revela Alfredo, contando que os juizes aplaudiram de pé a limiana e referiram que era “aquela atitude que se quer no desporto”.
Jà a atleta japonesa “encontrava-se muito assustada, gelada e com sinais de hipotermia. Mas também ela quis acabar a prova, algo que fez, com uma volta de atraso, mas conseguiu terminar”, conclui o bombeiro.
Em relação ao reconhecimento a Beatriz Caldas pelo desfecho feliz deste acidente, Alfredo Castro não tem dúvidas: “A manobra dela para proteger a colega, enquanto via outros atletas a passar sem parar, foi um gesto de enorme altruísmo, até porque podia estar a lutar pelas medalhas e preferiu ajudar”.
No final dos Mundiais, no domingo, os juizes e a organização da prova não deixaram passar em branco o gesto de Beatriz, atribuindo-lhe o prémio Jorn Cronberg, que valoriza o fair play na competição.