Barcelos: Guerra em tribunal por herança de 50 milhões

Foto: Lusa

Aurélio Pereira nasceu em Tomar, mudou-se aos 16 anos para Lisboa, onde fez fortuna na construção civil. Sem mulher nem filhos, acabaria por morrer em Vila Seca, no concelho de Barcelos, para onde, já doente, foi viver com um sobrinho e a mulher dele, a quem deixou a totalidade da herança, avaliada em 50 milhões de euros. As sobrinhas de Aurélio Pereira contestam o testamento e o caso vai ser julgado no Tribunal de Braga.

Segundo uma reportagem de investigação da revista Sábado, que revelou o caso, entre a fortuna que Aurélio Pereira deixou à mulher do sobrinho está um palacete na Praça Duque de Saldanha, em Lisboa, construído no início do século XX e classificado como monumento de interesse público.

Palacete na Praça duque de Saldanha, em lisboa. Foto: DR

Nesta guerra pela herança milionária, estão de um lado os familiares de Aurélio Pereira, que faleceu em 2013, com 78 anos, e do outro a mulher de um sobrinho que se transformou na herdeira de toda a fortuna que rondará os 50 milhões de euros, entre contas bancárias, terrenos e prédios.

A família exige em tribunal a anulação das doações e do testamento do empresário.

Problemas de saúde

Entre 2002 e 2004, Aurélio Pereira teve vários AVC e necessitou de internamento hospitalar. Mafalda Pereira, a sobrinha mais nova, hoje com 51 anos, acompanhou o tio nessa altura e conta à reportagem da revista que “uma ressonância magnética acusou que ele tinha uma doença: leucoencefalopatia multienfartes, que é uma demência, ou seja, uma doença degenerativa, em que a pessoa fica com défices cognitivos”.

Quando saiu do hospital, Mafalda garante que o tio estava incapaz de viver sozinho e chegou mesmo a pagar durante meses a estadia num lar. No entanto, ainda segundo a sobrinha, ele “nunca lá punha os pés”. E é nessa altura que entram em cena um primo, emigrado há décadas nos Estados Unidos da América, e a sua mulher, Maria Alexandrina.

Esta mostrou-se disponível para acolher o tio do marido, num apartamento que o casal tinha na zona da Parede, arredores de Lisboa.

Mafalda Pereira conta que pouco sabia sobre a mulher do primo, mas que “ela dizia que tinha sido governanta nos EUA, na casa dos ricalhaços e que eles gostavam muito dela e que era muito prendada”.

Os primos levaram o empresário para a casa nos arredores de Lisboa e nos primeiros tempos Mafalda ainda conseguiu visitar o tio. Contudo, o que seria uma situação temporária, prolongou-se e, aos poucos, a mulher do sobrinho terá começado a impedir visitas da família.

Até que um dia o primo e a mulher levaram o idoso para Barcelos, onde tinham uma casa, o que dificultou ainda mais o contacto.

A sobrinha Mafalda recorda ainda que Maria Alexandrina acusava a família de querer ficar com o dinheiro do tio. Uma vez, em abril de 2013, foi a Barcelos para visitar Aurélio, mas foi impedida de o ver, tendo a GNR apenas registado a ocorrência, pois não podia obrigar os proprietários a abrir a porta.

Morreu em setembro de 2013

Aurélio morreu em 30 de setembro de 2013, aos 78 anos. A família não terá sido informada e terá sabido da morte pela secção do obituário do jornal Correio da Manhã.

Depois da morte do empresário, as sobrinhas ficaram a saber que, em 2010, ele tinha doado o palacete Saldanha e vários terrenos em Lisboa e em Oeiras à mulher do sobrinho. E que em 2012 fez dela herdeira universal por via do testamento.

“Ela quis-nos afastar dele, para que o tio deixasse de se lembrar de nós e achar que ela era a única familiar que ele tinha”, acusa Mafalda Pereira.

Segundo a investigação da Sábado, a doação do Palacete e o testamento foram feitos em casa. Além do notário e das testemunhas, dois médicos de clínica geral intervieram como peritos para confirmarem, sob compromisso de honra, a sanidade mental do testador, alegadamente a seu pedido.

Na contestação, também citada pela revista, a herdeira afirma que o tio conhecia o “voraz apetite” dos familiares, incluindo Mafalda, pelo seu património e que quis acautelar-se de possíveis alegações de insanidade mental.

Guerra chega a tribunal

Mafalda e a irmã avançaram para tribunal e querem anular as doações e o testamento. Mas, entretanto, Maria Alexandrina terá colocado parte do património no nome dos filhos, que, sendo de um anterior casamento, serão os próximos herdeiros de tudo, uma vez que o marido, sobrinho de Aurélio Pereira, morreu em 2021.

Quando visitou a campa do empresário, no cemitério de Vila Seca, em Barcelos, a família também ficou chocada com o inscrito na lápide: “Aurélio Pereira, pai adotivo de Maria Alexandrina, tio de António Francisco”. A família acusa-a de se fazer passar por filha adotiva para justificar ter ficado com toda a herança.

Herdeira contesta

Na contestação, a herdeira garante que foi Aurélio Pereira a pedir para viver com o casal em Barcelos e que o empresário fez as doações e o testamento por iniciativa própria, tendo estado lúcido até à morte.

Diz ainda que Aurélio saía à rua e frequentava a igreja, embora os vizinhos com quem a revista falou contem que o homem “não andava cá fora”.

Maria Alexandrina, que não falou à reportagem da revista, nega que tenha impedido contactos e visitas e argumenta que o milionário não queria ver os familiares, alegando que estes o ignoraram e apenas estariam interessados no seu dinheiro.

 
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