Barcelos: Astróloga entrou em transe e falou para o “além” na sala de audiências do tribunal

Era testemunha no caso da burla de 339 mil euros
Foto: Lusa / Arquivo

O Tribunal de Braga vai voltar a ouvir. enquanto testemunha, uma mulher, também astróloga, que entrou em transe em plena sala do Tribunal na última audiência do julgamento de dois videntes de origem guineense, um de Bissau e outro de Conacry, que terão burlado duas pessoas da zona de Braga em 339 mil euros, .

Fonte ligada ao processo disse a O MINHO que, no julgamento, a testemunha de defesa, também ela vidente, entrou em transe quando falava, começando a contactar e a falar com o marido já falecido, no “além”.

A mulher acabou por ficar em estado de choque, o que obrigou o coletivo de juízes a pedir aos seguranças do edifício que a viessem buscar, o que foi feito. A testemunha, que estava em estado de prostração, foi, também, ajudada por oficiais de justiça que lhe deram água e a acalmaram.

No processo, Cote Q. (de alcunha Madi), de 32 anos e residente em Ermesinde, e Keita S., (conhecido como Nadi), de Vila Nova de Gaia, ambos com desempenho em “trabalhos de astrologia” começaram por, em 2018, burlar uma mulher de 65 anos, de Barcelos, que recorreu aos “serviços” por eles prestados.

Como O MINHO noticiou, na primeira sessão de astrologia, Lúcia F. disse-lhes que, em 2012, havia ganho o Euromilhões em França, num montante “muito elevado”, e nunca o havia reclamado. Aí, os astrólogos, que tinham ganho a confiança da vítima, convenceram-na de que, através da “invocação dos espíritos”, conseguiriam ir buscar o dinheiro do Euromilhões e conseguiriam multiplicá-lo.

Para tal, a vítima teria de lhes entregar dinheiro, para o que alegaram a necessidade de efetuar puxadas de dinheiro», multiplicando-o e para chegarem ao prémio do Eurominlhões.

Assim, e até 2023, a Lúcia F. entregou-lhes 102.500 euros que levantou de contas bancárias pessoais.

A seguir, e crente naquilo que os videntes lhe diziam começou a pedir dinheiro a pessoas amigas, no primeiro caso 15 mil euros emprestados, que entregou aos astrólogos.

A seguir, em 2022, pediu – explicando que iria receber o prémio francês – 30 mil euros a uma outra amiga. E ainda convenceu o marido dela a emprestar-lhe mais 20 mil, ou seja, 50 mil ao todo.

Mas os empréstimos não ficaram por aqui. Em novembro, a amiga Maria F. foi visitar a Lúcia e esta solicitou-lhe mais 17 mil, que tiveram o mesmo rumo, o bolso dos arguidos.

Mais empréstimos

Em dezembro, a vítima pediu a outro amigo, de nome Mário L., que fosse a sua casa e pediu-lhe 35 mil euros, contando-lhe a história do Euromilhões. Este recusou, mas acabou por aceitar porque ela lhe propôs o seu senhorio como fiador.

Como a ‘gula’ dos videntes não tinha fim, a Lúcia F. voltou a pedir dinheiro emprestado, desta vez a um amigo, António P., a quem disse que receberia 30 milhões do prémio. Este acabou por lhe entregar 43 mil euros, que tiveram o mesmo destino.

Dias depois, o António P. pediu-lhe a devolução do dinheiro, e ela disse-lhe que já tinha uma parte do dinheiro em casa, mas “não lhe podia mexer, porque era necessário que um indivíduo fizesse uma oração para o limpar”. E ainda conseguiu que ele lhe desse mais sete mil, que foi, de imediato, entregar aos arguidos em Ermesinde.

Fotocópias de notas de 500 euros

Em dezembro, a vítima pediu mais 20 mil euros a este amigo, o qual, por não ter tal quantia disponível e porque ela lhe tinha dito que o dinheiro ficaria guardado num envelope sem ninguém lhe mexer, resolveu fazer 40 fotocópias de uma nota de 500 euros, que lhe entregou num envelope fechado.

Só que, cerca de cinco horas depois, a Lúcia F. ligou-lhe dizendo que havia um problema porque as notas eram falsas e o Nadi tinha ficado furioso. Mandou-lhe depois, mensagens telefónicas dizendo-lhe que estava “metido numa alhada, que aquilo era crime e que os videntes tinham ficado furiosos e os espíritos estavam zangados e que lhe podia acontecer algum mal”.

Fez-se então uma reunião na casa da Lúcia, em Barcelos, com o amigo e os astrólogos, tendo este dito que tinha que entregar 20 mil euros em notas verdadeiras eque os espíritos estavam zangados pelo que lhe podia acontecer, e à família, algo de mal.

Dinheiro limpa maldição

O António P. aceitou dar-lhes o dinheiro, comprometendo-se os dois arguidos a fazer umas rezas no cemitério para “limpar a maldição”.

Apesar disso, o Cote Q. ligou-lhe, avisando-o de que os espíritos não tinham aceite os 20 mil pelo que se encontrava numa situação perigosa. Convenceu-o a ir ao Porto encontrar-se com eles no hotel onde estavam e pediram-lhe mais 50 mil para “limpar os espíritos”. Ele recusou, mas, em janeiro de 2023, e após vários contactos ameaçadores, deu mais 30 mil, subindo a quantia ’emprestada’ para 120 mil. Não contente, a dupla insistiu que eram precisos mais 50 mil, o que levou esta vítima a contactar a polícia.

Os dois, que estão a ser julgados por dois crimes de burla qualificada, estão em prisão preventiva.

 
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