Um grupo de moradores da Avenida João Duarte, na freguesia urbana de Arcozelo, Barcelos, lançou um abaixo-assinado contra uma eventual entrega de casas desocupadas a famílias de etnia cigana. A situação foi denunciada pela concelhia do Bloco de Esquerda, que “manifesta total contrariedade política e social” em relação ao panfleto que apela à subscrição do abaixo-assinado.
No referido panfleto pode ler-se: “Consta-se que as habitações desocupadas destes dois bairros, sitos no lado norte da Avenida João Duarte, a maioria das quais pertencem ao IHRU [Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana] e uma ou outra à autarquia de Barcelos, serão entregues a pessoas de etnia cigana”.
“A ser verdade e para que isso não aconteça, um grupo de moradores irá recolher assinaturas de todos aqueles que concordam com esta reclamação, para posterior envio ao IHRU e Câmara Municipal de Barcelos, através da empresa de condomínios que nos representa (Adminova)”, acrescenta o panfleto.
A terminar fica uma “nota”: “A Junta de Arcozelo está de acordo com este protesto e também vai ser assinado pelo seu presidente”.
Presidente da Junta nega subscrição abaixo-assinado
No comunicado, o Bloco de Esquerda considera que, “se a situação já é grave pelo que consubstancia de discriminação social e exclusão étnica por parte dos promotores, ganha contornos de inaceitabilidade pela intromissão institucional quando é anunciado que a Junta de Freguesia de Arcozelo está de acordo com o protesto apresentado pela empresa de condomínios que representa os moradores do Lado Norte da Avenida João Duarte – não se sabe quem nem quantos se sentem representados – sendo também dito o gravíssimo anúncio panfletário de que o presidente da Junta será um dos subscritores do excludente texto com perniciosos propósitos”.
No entanto, contactado por O MINHO, o presidente da Junta de Arcozelo, José Monteiro da Silva, nega que tenha subscrito ou venha a subscrever o abaixo-assinado.
“Não assinei nem vou assinar, até porque não moro lá. O que eu lhes disse foi que se quisessem protestar que protestassem, não tenho nada a ver com isso. Eu não sei se vão lá meter ciganos, porque a Câmara não informou a Junta. A Junta não foi tida nem achada”, explica o autarca socialista.

Monteiro da Silva refere que viu o abaixo-assinado, que já estava subscrito “por 150 pessoas”, mas que nele não consta nenhuma referência à Junta. Essa menção só é feita no tal panfleto que “não se sabe quem é que o meteu”.
Câmara “só tem um apartamento e já está ocupado”
O Bloco de Esquerda pede também à autarquia “uma urgente intervenção política e social que explique pedagogicamente a integração das referidas famílias e a importância da resposta às suas necessidades habitacionais”.
Questionada por O MINHO, a Câmara de Barcelos afirma que “desconhece em absoluto a situação relatada no texto do abaixo-assinado”.
A autarquia salienta que “só tem um apartamento naquele local e que o mesmo já está ocupado”.
“Em relação a esta situação, a Câmara Municipal não alimenta boatos”, conclui a resposta enviada ao nosso jornal.
O MINHO questionou o IHRU, estando a aguardar uma resposta.
Polémica semelhante no ano passado
Já não é a primeira vez que, em Barcelos, rumores sobre a atribuição de habitação social a famílias de etnia cigana levantam protestos de moradores.
A assembleia de freguesia acabou mesmo por rejeitar, por unanimidade, a cedência de um terreno à Câmara para construção de habitação social.
Na altura, a autarquia explicou que a aquisição do terreno para construção de habitação social se inseria no âmbito do programa 1.º Direito e que não fazia “qualquer distinção” de famílias candidatas a este apoio de habitação.